a corrida - seleção brasileira
Na via advém, mas se não vem, adivinha?
entre erres e esses
de ruas e pedestres
homens e mulheres
não querem perder?
Tempo, tempo, tempo...
Parece com um teste,
são novatos e mestres
nativos campestres
com trajes e vestes
do mesmo porquê.
Passa tempo, passa tempo, passatempo...
E no último dia
que o ano padece
São Paulo conhece
com data de prece
o que vai pra tevê.
Há tanto tempo, há tanto tempo, há tanto tempo...
Que quando é hora de ir,
mesmo que chova canivete
só então se percebe
como são todos silvestres
quando querem correr.
Mas daí...
Falta tempo, falta tempo, falta tempo...
anti-são silvestre
São Paulo é agreste
É filme b
Sangue, suor e lágrimas
São Paulo é uma peste
Se existe algo que São Paulo não é, é silvestre
São Paulo é novela ruim
Selva de pedra, asfalto e medo
São Paulo é o fim
São Paulo é exatamente o contrário de silvestre
São Paulo é o mais óbvio chavão de metrópole
Cinza, suja e fria
São Paulo se odeia
Se antropofaz
E regurgita
Reinventando-se de tal maneira
Que aos 31 dias do mês de dezembro
São Paulo amanhece
Mais que silvestre
São Paulo se traveste
São Silvestre
estúpida são silvestre
Só há o verbo
E o caos.
Deus ainda não jogou os dados, as fichas,
Não girou a roleta do tempo.
Não há nada,
Ainda não foi dada a largada
Desta estúpida são silvestre.
Uma nova chance, passarinhos,
Desta feita romperemos a fita da vitória
Ou mais uma vez nos perderemos
Pelo caminho?
ton-ton
MASP, Paulista, Consolação, Ipiranga, São João, Minhocão, Memorial da América Latina, Av. Rudge, Rio Branco, Lgo. do Paissandu, Teatro Municipal, Viaduto do Chá, Brigadeiro, Paulista, Prédio da Gazeta.
Ton-Ton, o motoboy, percorria estes endereços diariamente, mas passava tão depressa no corredor entre os carros, buzinando e se equilibrando, que não se dava conta.
Na expectativa da largada, - a multidão, o número colado no peito, 27.335, o tênis velho machucando o pé, - é que não ia mesmo perceber.
Na Paulista um acotovelamento.
Descendo a Consolação, todo santo empurrando.
Passou pela famosa Ipiranga com São João e assobiou uma melodia que sequer conhecia.
No Minhocão, as pessoas nas janelas acenando, começou a notar.
O Memorial da América Latina era um deslumbramento.
A Av. Rudge, solidão.
Foi na Rio Branco que viu com clareza.
Parou de correr, caminhava.
“O que me importa? Devo estar em milésimo lugar!”
Olhou, olhou bem, caminhava cada vez mais devagar.
Sorriu de satisfação.
Sim, era São Paulo!
2.
Cruzou descalço a linha de chegada. Não era o último.
Ganhou um beijo da namorada que chegou para o final.
- Tá linda de branco! Quem ganhou? Brasileiro?
- Um negão. Queniano, parece. E o tênis?
- Esfolou meu pé.
- Jogou fora? E vamos assistir ao show da virada assim? Eu de vestido novo, você descalço?
- Dá sorte... Tomara que chova, preciso de um banho.
- Vadeílton...
- Vamos procurar um dog? Eu comeria um boi agora!
Voltavam para casa e a chuva caiu diante de seus olhos, estirada no meio da madrugada.
Bêbado, ele a pediu em casamento.Bêbada, ela riu, “Ton-ton... Você!”
Naquela noite não havia corredor, não precisava se equilibrar.
equipe de manutenção
A vizinha levou um vinho e um panetone.
A mesa estava posta no quintal, repleta, iluminada, próxima ao chafariz que, segundo Eliseu, só não bombeava melhor que seu coração. Feito pombos, os convidados pulavam de travessa em travessa. Na parede, uma imagem de São Epitáfio zelava pela moral e bons costumes, mas com a conversa variada, o santo parecia perdido. A festa era a última parcela da dívida que Eliseu tinha com São Epitáfio. Entre outras coisas, ele havia prometido ao santo a inauguração de um chafariz na virada do ano, caso sobrevivesse a operação cardíaca.
De repente, o quintal escureceu. O filho da vizinha subiu na laje da casa e viu que o bairro inteiro estava apagado. Eliseu ligou pra companhia de luz. A equipe de manutenção já estava a caminho.
Faltavam poucos minutos pro ano-novo, quando o caminhão da Força e Luz parou diante da casa. Via-se apenas um vulto em cima do poste. Na festa: uva passa, uva passa, uva passa… Alguém ligou um radinho de pilha numa estação evangélica. O pastor dizia: “Vamos dar as mãos e fazer uma corrente pra entrada do ano. Se você estiver sozinho, levante suas mãos pro céu; estaremos todos juntos”. Na espera de um milagre extra e gratuito, Eliseu ligou a chave do chafariz e pôs a imagem de São Epitáfio ao lado do interruptor. Depois chamou todos pra darem as mãos ao redor do chafariz. Em poucos minutos, a corrente de fé estava formada – só faltava a corrente elétrica.“Treze segundos”, disse o pastor no rádio. “Oito… três… dois… um…”.
No poste, o vulto se transformou na equipe de manutenção – um homem só, ou melhor, um só homem – pois também estava com as mãos levantadas.
“Aleluia!”, disse o chafariz.
Só não há vagas para guarda-chuvas
O equilíbrio da nissei que perdeu o rebolado
na Estação Santo Amaro
na
Estação Santo Amaro
desamparo
A vida do mineiro que perdeu a pulsação
na Estação Vila Carrão
na
Estação Vila Carrão
comoção
A paciência da baiana que perdeu a paz
na Estação Brás
na
Estação Brás
Satanás!
A timidez da paraense que perdeu a solidão
na Estação Conceição
na
Estação Conceição
atração
A coragem do judeu que perdeu a paquera
na Estação Itaquera
na
Estação Itaquera
quem dera
O chão da amazonense que perdeu a alegria
na Estação Santa Cecília
na
Estação Santa Cecília
uma ilha
A higiene do gaúcho que perdeu o cumprimento
na Estação São Bento
na
Estação São Bento
constrangimento
A pureza da goiana que perdeu o juízo
na Estação Paraíso
na
Estação Paraíso
improviso
Só não há vagas para guarda-chuva, sinhô,
nos achados e perdidos do Metrô.
Cidadão das nuvens
Renato Silva
'' TEMPO VELOZ ''
microconto
E agora a crise etc e tal, ficou sem o emprego de Papai-Noel.
Contava com ele pra pagar a inscrição. Se virava como?
Antes de ligar a tv, repassou a vida:
Não, não daria um romance, como diria "A Falecida".
Por hora, mal tinha assunto pra um microconto.
coisa que o valha
Ufa!
Ufa!
embagem de sonho papel de bala brigadeiro
o gari varrendo
uma maratona por dia
Ufa!
Ufa!
Ufa!
tatu-bolinha porco-espinho minhocão
a criança inventando
uma maratona por dia
Ufa!
Ufa!
Ufa!
amazonense sergipano paulista
o sertão parindo
uma maratona por dia
- e o matuto seguindo -
Ufa!
Ufa!
Ufa!
São Paulo São João São Silvestre
o poeta sonhando
uma maratona por dia
e o gari a criança o matuto o poeta
nunca ganharam medalha
ou coisa que o valha!
Ufa!
Ufa!
Ufa!
valha-nos nossa senhora!
o bêbado
o natal percebia porque via
sob o verão equatorial,
sobre o asfalto a quarenta graus,
a cidade às voltas com pinheiros estilizados,
neve de plástico
e renas de ilusão.
Pegava então suas tralhas e mudava-se para a Paulista,
esperar o grande dia.
Ano após ano, 3 segundos antes do vencedor,
invadia a avenida
e acenava para a câmera posicionada
atrás da linha de chegada.
Há 10 anos longe de casa,
a barba longa,
a cara encovada,
- a quem será que ele esperava?
''CORRERIA ANUAL''
'' Luciano, campeão da são silvestre de algum ano... alguém se lembra??''
povo batalhador
passa o ano todo
correndo pelas ruas da cidade
atrás de dinheiro
trabalho
felicidade
e no fim do ano
acha fôlego
e corre pelas ruas
atrás da glória
da vitória
de um dia ser lembrado
na história
povo guerreiro
seu zé motorista
seu João pedreiro
seu Pedro taxista
seu Severino porteiro
todos em busca
de serem mais um
herói Brasileiro
de uma condecoração
fazendo de si
a bravura em pessoa
não sendo mais um na multidão
enchendo as ruas de beleza
sabendo que já é
herói por natureza...
Caranguejúnior ''mais um herói por natureza''
Corredor
Corre até não mais poder...
Tenta achar a ti mesmo,
No lado de fora...
Na grande avenida...
Avenida da vida,
Cadê seu troféu?
Corre até não chegar...
Nem no ultimo lugar...
Não se aguenta nos pés,
Não se aguenta no chão...
Mas tem que correr...
Tem que ganhar...
Sofrer tentando ganhar...
Sofrer assim...
Não dá vergonha!
Sofrimento de vencedor!
Vencedor?
Corre...Corredor!
Corre afinal, pra não ser...
no final, mais um "morredor!"
Preto véio no poste de luz
Embaixo do minhocão,
Cê num vai acreditá!
Eu vi o preto véio, mermão!
Num queria fazê
tanta rima...
mas é que foi emoção!
De vê o preto véio no poste!
Todo enrolado!
Parecia trabaio!
Mizifio bota o preto
véio no poste de luz...
Pra mó di ganhá...
A São Silvestre danada!
No dia da corrida...
Cê segura firme no preto véio...
Qui vai ti mandá
muita energia!
O "cavalo" vai saí correndo
Feito cavalo doido!
E num si esqueci...
da ceia di natal do preto véio!
Galinha importada di Angola...
E charuto cubano!
Pra bebê?
A nossa cachaça num tem mió!
Vem batê ombro, mizifio!
E boa corrida!
O primeiro lugar
O ególatra existe, mesmo que adormecido, no cantinho mais escuro do coração modesto. E quanto sangue, quanta discórdia não rolará, enquanto esse sentimento existir? De que adianta, se falar em justiça social, se queremos "ser mais" que o outro? Mesmo que quase inconscientemente, através de sutis rasteiras?
Na época em que a São Silvestre era exibida à noite, eu a assistia, acompanhado de familiares, como um ritual. Mas hoje, com toda a claridade...Admito que já não posso mais ver. Aqueles corpos exaustos, com faces resfolegadas...Atrás de simplesmente, uma saudável competição? O desespero daquele que chega perto do almejado "primeiro lugar," só me faz pensar em algo...Quando pararemos de ser adversários, e agirmos como uma equipe, não contra outros seres humanos, mas contra o pior que existe em nós mesmos?
avenida paulista
todo mundo
tem bunda
com um adendo
bunda só existe
pra quem
está vendo
no paraíso
todo mundo
tem prejuízo
com um porém
prejuízo
só prejudica
quem tem
no jabaquara
todo mundo
dispara
com um senão
paulista acaba
no cemitério
da consolação
homessa!
São Paulo não pode parar?
É todo dia faniquito:
É faniquito no trânsito,
Na fila do banco, do teatro, do cinema!
Mas será o Benedito, São Paulo,
Faniquito é seu lema?
Não tem aí um doutor,
Que lhê um remédio qualquer:
Xarope de culher,
Prozac, pito, pirulito?
Cidade neurótica, sô!
E como fosse pouca
A pressa do dia a dia
A louca me encerra o ano
com uma corrida?!
São Silvestre? Homessa!
leminski e o futebol
manchete
CHUTES DE POETA
NÃO LEVAM PERIGO À META
II
quero a vitória
do time de várzea
valente
covarde
a derrota
do campeão
5 X 0
em seu próprio chão
circo
dentro
do pão
III
um bom poema
leva anos cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
Voraz volupia!
assistem com atenção
o jogador meter a bola...
Ir duro, de sola...
No gol, buraco aberto!
Os anjos gritam gol...
balançando formosas tetas
Com seus faróis acesos...
Ansiando por carinho!
Por carrão
Depois do carrinho
Dinheiro na conta corrente!
Anjos vorazes...
De voraz volupia
Olham as coxas do jogador!
São anjos caidos
São "diabas sem-vergonhas..."
Que, com vis sorrisos...
Vivem do viril suor...
Que empapa a camisa
De seu time do coração...
Aquele, a quem venderam a alma...
Agora, vendem a carne...
Arquibancada-açougue,
Quem paga mais?
Comer! Comer!
Sonhos! Campeonatos!
Troféu-loura-boazuda!
ANTES DO PRIMEIRO SUTIÃ
Sem time, menor de idade, mas com uma camisa oficial, troquei os episódios da Barbie pelas transmissões do Brasileirão.
Aprendi a colocar os pulmões pra fora todas as vezes que a camisa igual a minha marcava gol.
Na verdade, eu não vestia a camisa do time com a camisa igual a minha. Eu vestia a camisa do homem que me deu braços para vestir a camisa que eu ganharia logo na seqüência.
A vida mudou de campo, a camisa furou no sovaco e meu pai foi morar mais distante do que um tiro de meta.
Sem time e maior de idade, cabe no meu peito a camisa de todas as torcidas com camisa do mundo. E um pacaembú de saudades do meu pai.
'' MAIS UMA CRÍTICA SOCIAL''
país do samba
das mulheres
do Carnaval
um país de nome internacional
onde a bola rola
crianças pedem esmolas
e a saúde é um caos
esporte é esperança de uma nação
e a televisão é banalização
onde a bunda aparece
rebolando no gugu e no faustão
o creu é legal
a música se prostituiu
estão acabando com a cultura
do nosso Brasil
o povo não tem arte
o povo não tem cultura
banalizando em toda a parte
levando pra Sepultura
o país do sol
é o país da miséria
onde o futebol reina
e a fome não é coisa séria
isso é mais um grito mudo
mais um grito marginal
há muitos surdos
mais uma critica social...
caranguejunior
futebols
futebol
na roça
chama racha
dura uma tarde
de sol
na caixa
futebol
na praia
chama bola
difícil sair
sem bolha
na sola
futebol
no terreno
chama pelada
começa exatamente
sem hora
marcada
futebol
na rua
chama caixote
apito é buzina
de carro dobrando
a esquina
futebol
no portão
chama melê
vale de cabeça
bola sem pingar
no chão
futebol
na escola
chama gol-a-gol
durante o recreio
não pode passar
do meio
futebol
no peito
chama acesa
nervos no ataque
nenhuma
defesa
Aonde a coruja dorme
O ditador imita Hitler
pelo tempo de um apito -
inicia-se a partida.
No tabuleiro de xadrez esmeralda
brotam as primeiras jogadas.
Uns vão de unha;
outros palavrões, amendoins –
a multidão mastiga.
Esfera pergunta: és fera? -
de pé em pé, de ouvido a ouvido.
Um torcedor cala o rádio,
para cantar o galo
do treinador careca.
Apenas a tiete despreza
o bem-me-quer da bola.
Agasalhado e de luvas,
o arqueiro destoa
do resto do estádio.
O auxiliar é o único sério
a tremular bandeira.
Na barriga da mulata grávida
o recém-nascido brasileiro
chuta com estilo.
A rede é o véu da noiva trave
a esperar o gol de letra.
Aonde a coruja dorme:
Pesadelo de goleiros,
sonho de artilheiros.
Gol: metade do estádio tira
palavras da boca da outra metade.
Cidadão das nuvens
Renato Silva
uma partida de futebol
recebe Paciência,
entrega para Prudêncio,
Prudêncio rola de leve para Amoroso,
Amoroso entrega com açúcar para Guerreiro,
Guerreiro avança no meio de três,
dribla um, dribla dois,
cruza para Tato,
Tato ajeita no meio da área,
Justo mergulha de peixinho,
o goleiro se estica todo e... não alcança!
a bola vai entrando mansinha, mansinha
no canto direito da meta verde-amarela:
É goooooooool!
O Brasil ainda tem, ainda tem,
o Brasil ainda tem esperanças, meus senhores!
Comentarista:
Esse garoto, Justo, chegou agora na seleção. Ainda não havia sido convocado porque o Brasil não está acostumado com seu estilo, mas ele sabe usar a cabeça.
Com as seguidas contusões de Finório – que já está ficando velho – se mostra nossa melhor opção.
Locutor:
E segue o jogo!
Agora, Brasil 1 X Velho Mundo 0.
Brasil-il-il!
o Brasil que estufa o peito
e estufa a rede,
alguém viu?
não estou falando deste brazil
grãos selecionados para exportação,
mas do Brasil verde, amarelo, branco, azul-anil,
o Brasil que deixava joões
com a cara e a bunda no chão.
o Brasil de pau-grande,
não o Brasil de Boston.
o Brasil terceira divisão,
sujo da lama da várzea,
o Brasil que sabe o preço do feijão,
não esse Brasil que só lembra que é brasileiro
na hora do pagode no avião.
o Brasil vira-lata,
porque ser vira-lata é nossa nata
e não nossa sina;
o Brasil tem que ser mais vira-lata e menos gente-fina,
mais macunaíma e menos charles bronson,
mais itubaína e menos 12 anos,
mais vida severina e menos caixeiro-viajante,
mais galinha caipira e menos haute-cuisine;
porque em estrangeirês
brazil não rima.
Brasil-il-il!
fotomontagem sobre imagem obtida em:
http://1br.biz/wallpapers/cachorro-bom-de-bola-4996.jpg
'' CANARINHA ''
torcedores a mil
coração em taquicardia
parece bateria de escola de samba
ama
a selecção Brasileira
de coração
de corpo e alma
canarinha
símbolo de vitória
conquistas e glórias do futebol
quando entra em campo
são heróis verdadeiros
e milhões de brasileiros
torcem com fé
Ronaldo
Romário
Garrincha
pelé...
bola pra área
de letra
pedalou
ooolléééé!!!!!!!
caranguejúnior ad homines per litteras!!!
AFEC (jatabão)
não precisa
seleção
time jatabão
ganhar
jatabão
papai-mamãe
jatabão
são longuinho
colocando seta
ajudando
encontrar a meta
jatabão
não precisa
bicicleta
rolimã
jatabão
gol de morrinho
gol de bico
gol contra
impedido
pênalti fingido
jatabão
meio gol
jatabão
não precisa
sequer
chacoalhar a rede
atravessar a linha
jatabão
futebol arte
é muito luxo
arroz com feijão
esporte
clube
jatabão
futesia
o futebol não é Ronaldo,
não é Pelé
não é da Guia.
Dentre todos os craques,
o futebol é um menino
sem nome.
Dentre todas as quinquilharias da bacia,
o futebol é a mais barata,
não é limão
não é cultura,
não é batata.
O futebol é zé mané,
meio-caminho
entre a brincadeira
e a lembrança,
bola-de-meia
pé descalço,
sem camisa.
O futebol não é pintura nem fotografia,
não é cinema nem é balé.
Dentre todas as artes,
o futebol
é poesia.
Foto: Paulo D'Auria, Campo do Nacional 9/11/08
Ajax de Vila Rica 0 X Leões da Geolândia 1
Gol ou Google ?
(foto de Pipo Gialluisi)
Gol ou Google ?
ROGERIO SANTOS
quando se sai a caça
de nova palavra
aquela, no emaranhado
que fecha o sentido
que cria o atalho
que corta o caminho
que estala as idéias
que geralmente cozinham
na fuça, na cara
mascando batalha
no nó do novelo
cortante na linha
promessa de vôo perene
quando se pega de jeito
a palavra engendrada
aí chega a hora
de ir pro abraço
salgar a salada
de dar a garfada
de meter a boca
de matar a fome
de gritar bem fundo
do fundo da alma
da linha de fundo
da bola cruzada
na entrada da área
o pique, a chegada
é gooooooooooool
(ou google ?)
Poesia também é letra
Canhoteiro - Fagner & Zeca Baleiro
Um anjo torto
Um canhoteiro
Um São José de Ribamar
Um bailarino
Um brasileiro
Um Paraíba
Um Ceará
Um pé de ouro
Um peladeiro
Mata no peito e beija o sol
Balão de couro
Bola de efeito
Mas que perfeito é o futebol
Corre dispara pára ginga e zás
(Corre dispara pára ginga e jazz)
Mais um zagueiro vai pro chão
Esse já era não levanta mais
Outros virão
Finta canhota voa samurai
Lá vai a bola bala de canhão
Seu pé direito é a bomba que distrai
O esquerdo é o coração
Um belo drible
Decide o jogo
No grande baile do futebol
Só um artista
Um canhoteiro
Acende a tarde inventa o sol.
Nelson Rodrigues
'' MONTINHO ARTILHEIRO, PESADELO DOS GOLEIROS''
a bola rebola
prá lá e prá cá
o atacante avante
doido pra entrar
na grande área
zagueiro atento
com medo de errar
''chuuutaaaaa!!!!''
goleiro rezando
pra bola não entrar
montinho artilheiro no caminho...
''tááá láááá!!!!''
goleiro prá cá
rebola bola
prá lá
e amanhã o frangueiro
vai dar o que falar
caranguejúniormagalrubronegronegro
clássico é clássico
fotocolagem com imagens obtidas em http://golsegoles.blogspot.com/, http://www.teatrovilavelha.com.br/ e http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/
taxista roxo
— Que trânsito, né?
— Dia de jogo é sempre assim — respondeu o taxista.
Minha mãe sequer sabia quem estava jogado, mas ficar em silêncio não era seu forte.
— O fulano de tal, hem? Que papelão!
O taxista não respondeu. Fiquei aflito. Pelo silêncio, desconfiei que o fulano fosse da família do taxista. Depois percebi que ele estava apenas distraído, ouvindo o jogo. Um taxista que concordasse sempre com o cliente era o mínimo que minha mãe esperava. Mas, pra evitar uma bola na trave, remediei:
— O senhor é corintiano?
— Já fui.
Meu Deus, um vira-casaca! Aquele era o segundo caso do gênero que conhecia em toda minha vida. O primeiro foi um amigo de infância que passou dez anos negando a mutação.
— Por que mudou de time? — perguntei.
— Foi culpa do meu pai.
— É sempre culpa dos outros! — pensei.
— É que antes de ser taxista, eu trabalhava de metalúrgico. Então, inventaram um tal de um teste de aptidão. Quem não passasse, era demitido no ato.
— E o senhor passou?
— Nem por perto.
— Então foi demitido?
— Fui sim, mas quem se chateou mesmo foi meu pai. E como eu era de menor e não podia assinar nenhum documento, ele foi receber o dinheiro da rescisão no meu lugar. Maldito dia!
— Maldito, por quê?
— Meu pai ficou com tanta raiva que bebeu todos os meus direitos em cachaça.
Minha mãe soltou uma gargalhada.
— Você ri, dona? — o taxista prosseguiu — Meu pai ficou uma semana sem trabalhar, caído de bêbado no boteco.
— E o que você fez?
— Fiquei daltônico!
— Daltônico?!
— Meu pai era corintiano roxo. Virei palmeirense!
O jogo
E a bola rola no campo,
Com certeza...
Momento mais insano!
Imagens, sons...
Batucada, explosões,
Aqui, todos são...
Mais que gente, sensações...
Sensações de alegria,
De nervoso...
Quem dera, noutro dia...
Gritar gol, durante o gozo!
Durante o sexo...
Durante a concepção de um filho,
Ou quem sabe, o inverso...
A explosão de fogos, o brilho...
No olho dela...
Quando estiver lá dentro,
Talvez seja quimera...
Talvez, zero a zero, mas eu aguento!
Bola fora
Fora do pensamento,
Foi muito mais que bola...
Foi suor na camisa...
Foi fé num mundo...
Incrédulo e frio,
Foi lágrima...
Grito indignado...
Foi um tal de roer unha...
Na hora do pênalti,
Foi sonho que durou...
Por 90 minutos...
Foi impulso...
pra eu rolar como bola,
(Tenho barriga pra isso!)
Rolar ao anônimato...
Bola fora do sonho,
Bola murcha no sistema...
Rasgada na engrenagem...
Só esperando o fim de semana...
Pro meu time me encher!
De vida, tesão...
Ou o saco, mesmo!!
lógica do improviso
a bola
vem cruzada
melada
ele mata
no peito
faz firula
com o pé
direito
é craque
sai sambando
sapateando
fazendo tabela
humilhação
no meio
das canelas
o beque
sem pudor
sem amor
sem vaidade
estica a bota
anota a placa
penalidade!
o goleiro
arruma a barreira
reza
faz promessa
pra padroeira
a torcida
se contorce
se levanta
aflita
grito preso
na garganta
o juiz apita
a bola sai
feito cometa
gameta
planeta
batendo asas
de borboleta
O goleiro
estica
espicha
feito
lagartixa
é goool!
olha onde entrou
a bola
é goool!
pra futebol não tem
escola
Decisão
por Eliane Brito
Multidão hipnotizada,
Antes gritos, agora só respiração
O tambor dá vez às batidas do coração
O peso do mundo em uma bola.
A glória virá dos pés?
A esperança reside nas mãos?
Um olhar dentro dos olhos
Outro, que busca o chão
Som estridente corta o ar
O movimento pós concentração:
A perna que se contrai e que se estende
O corpo longelineo alçando vôo do chão
Ironicamente,
Nem pés, nem mãos, nem travessão
Conhece a dona bola outra dimensão
Um Baggio que isola e que se isola
Um Brasil que ri e chora, que é campeão
sorte do dia
Não prestei atenção mas, na certa, levantei com o pé esquerdo.
De domingo bem cedo, sair da cama é complicado.
Não que ainda estivesse com sono. O fato é que a única coisa interessante daquele dia seria o jogo do Palmeiras (lá pelas quatro).
Até lá, todo mundo enrolaria, apostaria a sorte e tomaria umas.
Banho e café preto (de gole rápido pra não ver a cor do adversário).
Café com leite não daria, era praga daquele dia.
Já sei! Pra dar sorte usaria a camisa do coração, meio por baixo, tá certo - porque o patrocinador já não era mais aquele.
E o dia foi se arrastando e eu me arrastando nele. Para o almoço chegou a família, com manjar de sobremesa.
A feijoada esquentada do sábado arrancou risadas do cunhado alvinegro, talvez pela cor, talvez pelo focinho.
O árbitro corrupto do ano passado trouxe o tapetão à tona. Toalha manchada, Mancha a postos, os Gaviões fiéis cantando e vibrando enquanto os palmeirenses rogavam pela salvação do time.
Hora do jogo, uma surpresa: o segundo uniforme dava o ar da graça e isso não era bom sinal.
Sinal da cruz, aperto de mãos. Moeda da sorte a favor do adversário.
Na primeira falta o atacante sai de maca e a torcida, com a macaca, soltando fumaça.
Aquele uniforme dava azar, eu sabia! Alguns ataques, muitas faltas, ene escanteios e nada.
A culpa é do narrador, parece estar morrendo! Trocar de canal seria ideal.
Agora sim! Agora vai! Aqui o gramado é mais verde e o narrador menos gambá.
Dois minutos depois o atacante adversário desce com tudo e bate pra dentro, encaçapando bola, goleiro e zagueiro. Ah não... parece praga!
Que nervoso! Vermelha de desgosto, levanto pra lavar o rosto e acalmar o ânimo. Ainda dá!
Mal levanto da cadeira dou as costas e meu time, raçudo, nem deixa o outro comemorar o gol que acabara de marcar. Tome outro goela abaixo pra ver se aprende com quem está lidando!
Olha lá, eu sabia! Era eu que estava dando azar! Foi só me levantar que o time marcou!
E assim, de longe, escutei a virada da vitória. E enquanto fazia pipocas comemorei o esperado título, que só fui assistir na reprise do jornal das dez.
'' PRETESTO PARA BEBER ''
vai !!
começar o jogo
pego a cerveja
e vou pro sofá
controle
na minha mão
é minha paixão
que já vai entrar
pode
a Sogra chegar
pra me infernizar
a Muié reclamar
o mundo desabar
eu não saio do lugar
não levanto do sofá
se a cerveja fazer efeito
só levanto pra ir mijar
a alegria é tanta
o grito de gol
entalado na garganta
só a cerveja consegue passar
só vou ficar feliz
se meu time golear
e se a birita
não acabaaarrr!!!
Jr rubro negro, negro...
meta
dá um chapéu no concorrente
treina, treina até dar um olé
chuta a bola pra fora, xinga!
rouba descaradamente
passa a perna!
o que importa se derrubar?
se o negócio é sempre somar
de um em um no placar.
O Juiz e a Sogra
(homenagem de um LUSO à Javier Castrilli)
O Juiz e a Sogra
ROGERIO SANTOS
eu tava tão bem na padoca em Santo Amaro
mas tinha que ver o meu time no estádio
roubado por um argentino salafrário
a minha bandeira virou escapulário
quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar
depois do apito ficou sapo entalado
além do nervoso inda me pisaram o calo
um dia vou ver esses caras rebaixados
e minha mulher fica me tirando o sarro
quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar
eu chuto o cachorro ela já descola um gato
pra ver o escroto mijando o meu sapato
ou faço vender para o cara do churrasco
ou fico com ele e ela sobe no telhado
quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar
e sua mãe liga o ar condicionado
só para dizer que precisa de um casaco
proponho mandar pro deserto do Saara
acabo perdendo metade do ordenado
quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar
ainda ventilam que sou muito encanado
que vivo apegado nas coisas do passado
eu como calado mas deixo meu recado
quem faz nessa vida aqui vai pagar dobrado
quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar
'' SPORT CLUBE DO RECIFE ''
ouço
a zuada da multidão
entrou em campo
o leão
seu rugido de campeão
faz tremer o chão
a terra
a ilha
do retiro
é seu território
sua morada
sempre a espreita da caça
esperando
o apito inicial
para os adversários
coisa infernal
caçador
matador
sport é raça
paixão
pra mim
meu sport
é religião...
Jr um rubro negro, negro...
Chutebol
Vai ser chutebol
a tarde inteira
Pega o gelol
e a caneleira
O tempo a gente chuta de chuteira
Cobra lateral de lá da beira
Arruma confusão, luva, barreira
Bebe água da torneira
Vai ser chutebol
a tarde inteira
Pega o gelol
e a caneleira
Mete um cartão em quem faz cera
Dribla de chapéu, lençol, chaleira
Chinelo vira trave, brincadeira:
que goleiro fim de feira
Todo brasileiro é
unha e carne com os dedos
de Pelé
Todo brasileiro é
unha e carne com os dedos
de Mané.
Hino da Portuguesa (Roberto Leal/ Márcia Lúcia) *
Vamos à luta, ó campeões,
Hão de vibrar os nossos corações.
Da tua glória, toda a certeza.
Que tu és grande, Ó Portuguesa.
Vamos à luta, ó campeões,
Há de brilhar a cruz de teus brasões,
E tua bandeira verde encarnada,
Que é a luz de tua jornada.
Vitória é a certeza
Da tua força e tradição
Em campo, ó Portuguesa,
Pra nós és sempre o time campeão.
* Trata-se do hino atual.Há também a primeira versão.
A mãe do juiz
Eu não ligo, filho.
Não te levo mais no jogo.
Eu não ligo, filho.
Não importa o que faça...
Nunca ficam contentes,
Sou sempre ladrão!
A sopa tá esfriando, filho.
Eu tive que expulsar o cara!
Deus tá vendo, filho.
Tinha que sobrar pra senhora!
Me importa que faça o que gosta, filho.
Mas...Não gosto!
O quê?!
Eu queria estar lá, jogando!
Não acredito! E eu só levo xingo!!
Calma, mãe! Aiii!! Minha orelha!
Toma, seu filho da mãe!!!
bate bola
Jogava seu futebol direitinho, mas não era assim, um Ronaldinho. Apesar disso, vivia a se vangloriar de altas goleadas e na maior cara dura, contava pros amigos que não ficava cansado nem na prorrogação. Dizia que a torcida fazia festa que só vendo.
A galera vibrava e ao mesmo tempo esperava pelo dia em que o famoso levaria o cartão da namorada.
Dito e feito, não deu outra. Tomou uma bicuda, daquelas de fazer dó. A outra, ressentida, também não lhe deu guarida e avisou lá do banco de reservas que só jogaria de titular no dia em que seu passe triplicasse. Nosso craque, reformado, hoje bate bola num clube de várzea, lá na Vila das Saudades.
super-futebol
no segundo tempo
do dia
assistia meu pai
assistindo o jogo na tv
pra mim era só
coisa de gente adulta
gente junta
eu lia gibi
sozinho
coisa de gente só
toquinho
fingindo que era
o que não era
batman
outro heroi
entrando de sola
no arquinimigo
homem travesseiro
enquanto embaixo
na pracinha
os menimos
chutavam a bola
pra cima
hoje penso e acho
que ler e chutar
eram a mesma busca
e me pergunto
seria o grito de gol
encontrei!
ou apenas aviso:
olha o fusca!
- - - - - - - - - - -
de André pra Ferrari
de volta pra André
arbitrário
Torce a dor
Não é ninguem,
Abaixa a cabeça
para o patrão...
Salário de miséria,
Enrolará a noiva...
Fazer familia?
Não é louco...
Tem mãe doente,
Os irmãos ficaram lá...
Aqui, sua velha e ele,
Levanta edifícios
Para os bacanas...
Enquanto cava sua cova,
Partir para o crime?
Só quer esquecer...
Fazer parte de algo grande...
O uniforme da organizada,
Pular, xingar a outra torcida...
Frustração
Bola rola e torce a dor,
Esta dor no peito...
Zero a zero
Quem vence no final?
Maria
Que rendeira nada!
Tu és Maria chuteira...
Que quis como namorada!
Não tenho coxa de jogador...
Dessas que correm à mil,
Não...Não, senhor...
Mas tu me pagas, viu?
Que fazes aqui, Maria?
Vais à todos os jogos...
Qual das chuteiras, lamberias?
Vai, que já começa logo!
Verde e branco dum lado....
Preto e branco do outro,
Não ligas para as glórias do passado...
Só deixas o cabelo solto...
Não és nem da fiel,
Nem és do lado porco...
Esperas que lhe dêem anel...
E uma boa pensão, sem esforço!
Lhe dedico a rima mais pobre...
Nem vi que saiu gol,
Só vi teu rabo, gata esnobe...
Fugir-me, mísero torcedor que sou!
cata lá no gol
Quando eu era pequeno
Eu queria jogar futebol
Marcar muito gol, ouvir rock and roll
E aquelas coisas todas de muleque
Eu queria dibrar o beque
Imitar o Zico
Chutar de trivela, de peito e de bico
Estufar a rede e ir pratorcida
Mas quando começava a partida
Era aquela vaia
Meu sonho de artilheiro morria na praia
E alguém logo dizia o que me restou
Aaaaah! Catalanogol!!!!
OUÇA A VERSÃO COMPLETA AQUI:
timinho
o torcedor
queria se lembrar
queria contar
com lágrimas nos olhos
pros filhos
e filhos dos filhos
que aquele jogo
foi melhor que motocicleta
jimmy hendrix
maconha
sexo livre
em woodstock
mas só lembrou
sem nenhuma emoção
da meia
do roberto carlos
e dum timinho
brocha
feijoada da nasa
gringo não entende
nunca usou fralda do framengo
futebol não pulsa
feito relógio suíço
futebol samba
de breque
de partido-alto
for-all
se arrumar estraga
vira feijoada da nasa
acarajé light
cheese-salada
guerreiros de verde e branco
Eles são os mais bravos!
São os Guerreiros de Verde e Branco,
Não existem adversários, só escravos...
no campo, e sofredores no banco!
Eles são os donos da bola...
São os melhores de todos os tempos,
Com sua fantástica técnica, fizeram escola...
As outras torcidas, só resta choro e lamento!
Com a força do verde das matas,
e do branco das constelações...
Rasgam o campo, como afiadas facas,
Deixando o inimigo caido, em contorções!
Ao final da furiosa jogada...
os adversários não passam de tristes caveiras,
Na constatação de que as horas de treino, valeram nada...
Diante da onipotência Alviverde do Palmeiras!
soneto 930 habitual
SONETO 930 HABITUAL [2003] por Glauco Mattoso
Chuteiras pendurou certo atacante,
de cuja "despedida" até se orgulha,
devido ao povo que o estádio atulha
e aplaude-lhe o carisma, delirante.
De lá pra cá, porém, tenta, durante
a temporada inteira uma fagulha
de fama faturar, e inda vasculha
se vaga tem nalgum time importante.
Parece que essa gente não sossega,
ainda que no banco tenha grana
e idade pra gastá-la à moda brega!
Carrões, mulheres, drogas, nada sana
a falta duma bola e dum colega
no campo ou noutro jogo, mais sacana...
a deus
Nessa hora, elas usavam chuteiras coloridas.
Era ele contra um cara no meio do caminho pra atrapalhar.
(como sempre)
Não que fosse difícil.
Já tinha feito aquilo milhares de vezes.
(com sucesso)
Mas era obrigação, tinha que acertar.
Não podia demorar nem errar.
(era tão fácil, ele ganhava praquilo, ué!)
Era o melhor, o escolhido.
Milhões de olhos críticos.
(e zilhões de pensamentos à velocidade da luz)
Fez o sinal da cruz, correu, chutou.
E arremessou pro céu tudo aquilo que um dia quiseram que ele fosse.
Enquanto o povo esbravejava mil maldições, ele, com as mãos na cabeça, sorria.
último pastel
tem mais mel,
um último pastel
antes de virar o mês:
quem, no tempo do carrosel,
não teve um aniversário bam-bam-bam
com guaraná, mandiopã
e pasteizinhos pastitex?
simples cidade
- Um de carne.
- Pal me too.
- Tá quente hoje, né?
- Demais.
- Meu apartamento tá um forno.
- De quarta só como pastel.
- Engraçado, nunca tinha te visto.
- Estranho mesmo, né?
- Aceita um suco?
- Tem açúcar?
- Podemos por.
- Prontinho!
- Bom esse pastel, né?
- O melhor da região.
- Sorte a gente morar perto.
- Ô se é.
- Mais um pra sobremesa?
- Hoje sim, não tô com pressa.
- Que bom, também tô livre.
- E então, já decidiram?
- Romeu e Julieta, pra viagem.
receita para político fazer pastel
Farinha peneirada,
Leite pasteurizado,
Óleo filtrado.
Para o recheio
Moa, moa, moa bem a carne
Até destruir seus nervos.
Não bote em óleo fervente,
Não leve ao forno,
Não esquente.
Sirva frio,
Murcho,
Pastel.
cena do filme "The Wall", dir. Allan Parker
feira brasil
a feira tem banana cd pirata roupa barata
vem cá neném
beijo de graça
na feira o maracatu é atômico
e a couve-flor tem gilberto gil
é o caldo de cana da feira Brasil
suado na moenda do engenho negro
moído na fazenda da terra roxa
extraído sob sol tropicall
Ó
é o caldo de mocotó da feira Brasil
o Brasil é foguete a rolimã
nanotecnologia com febre terçã
alface americana plástico chinês feirante japonês
mexerica carioca morango de atibaia
mulher melancia político tomando vaia
marquês com samba no pé
ouro no pau oco
pixaim
cafuné
caldo de cult(hip-hop)ura
no caldeirão apura
descomeço
meio propício
zona sem fim
Ó
no meio do pastel de feira
tem o vento tem o vento
sêmen da tempestarte
Tripas de Salmão
No pequeno espelho maltratado do banheiro, cujas rachaduras formam um V com pequenas pernas ou um X com grandes braços, aparando o cavanhaque ruivo, a se preparar para a saída , Laerte escutava as primeiras palavras do ventríloquo domingo, em cujas mãos revezavam-se bicicletas, moças de igreja, boêmios retardatários e andorinhas, entre tantos outros personagens. Penso que esse dia é o melhor dos ventríloquos e atua melhor pela manhã. Também penso que deveria existir o dia da nudez - mas essa pacholice escapa totalmente ao tema.
Ao adentrar a sala, que inundada pelo negro aroma do café parecia aumentar a estima daquelas empoeiradas mobílias, do quadro de seu falecido pai e do maltrapilho tapete, encontrou a mãe ardendo em febre a preparar-lhe a lista.
Um boné de vereador, dois quarteirões, quatro cumprimentos, oito minutos: chegou à feira. Principiou as compras.
Inicialmente mexericas, cuja amostra gratuíta despejou-lhe na boca a primeira refeição do dia; abacates, que em um duelo mais prolongado com seus magérrimos dedos poderiam triturá-los; e uma manga, menos pela lista que pela persuasão dos empinados seios da mulata: apalpava-nos em sua catarse; salivava até; ao estourar um deles, acabou por pagar dobrado.
Uma pausa para o pastel, cujo ar quente, oriundo da primeira brecha inaugurada pelos dentes semi-cerrados, embaçou-lhe a vista, confundindo seus olhos de jabuticaba: essa que, alertando-vos deveras, Laerte esquecerá; as bananas também.
De volta às compras,morangos, rubros como o sol que tirava de sua magreza de cana um excesso de caldo; maçãs, por sinal, as fundadoras não só da feira, como de Roma, do Capitalismo, dos Beatles, do São Paulo Futebol Clube, do Apartheid, deste conto, do Bandido da Luz Vermelha, e de tudo que surgiu e surgirá na galáxia desde o instante da mordida de Eva; e, a medida que essas frutas ganhavam companhia no carrinho de ferro, torto, com uma das rodinhas ébrias, Laerte sonhava, sem ao menos saber, algo como a possibilidade de revogar a lei da gravidade, tamanho o peso de seu carregamento; tamanha a vontade de flutuar sobre aquele enxame de oferta e procura, aquele engarrafamento de vozes, aquela gritaria de carrinhos.Finalmente o Salmão, e pode enfim retornar à pensão, na Rua Aurora, no velho centro de São Paulo.
Minutos depois, lá estava o nosso vendedor ambulante fatiando o Salmão , premeditando o almoço, quando deparou-se com o improvável: que fosse em um morro, esquina ou bar; que fosse no cartão de crédito de um amigo ou em um prato préviamente aquecido... mas ali, no ventre do peixe, encontrar o que atormentou-lhe durante vinte, de seus trinta e três anos?E da pura, por sinal. Logo ele que, se não estava viúvo, pelo menos divorciado do vício, há meia-dúzia de meses; logo ele que trocara a mulher e os três filhos pelo pó ; logo ele que, não resistindo àquela nova provação se confinará no banheiro, munido de duas garrafas de conhaque, por horas e horas; logo ele que não sabe (e nem quer saber) da ira dos traficantes que, fruto de um pequeno desentendimento, receberam o lote de peixes errado, e contabilizam, irritadiços e infernais, o prejuízo de quem não poderá comercializar tripas de Salmão.
Cidadão das nuvens
Renato Silva
'' DESCANSE EM PAZ''
olhando para o último
pastel
em minha mão
a fumacinha subindo
o cheiro adentrando
em minhas narinas
a fome
me consumindo
uma
duas
três
nervosas mordidas
e o último pedaço
a implorar
'' nãoo...''
''sou o único sobrevivente de uma raça...''
mas
sou impiedoso
quatro...
e fez-se o destino
descanse em paz
em meu intestino
amanhã navegaras no tietê...
Jr magal
'' A TERRA HÁ DE COMER''
analfabetos
e sua pobre prima,
Dona Rica Rima.
foram comer pastel na feira
e ouviram o povo
cantando o poema novo:
na berinjela de graça
mas só leva quem paga!
Gostoso? Experimenta outra vez...
Ô, uvinha docinha!
Leva tudo agora, que depois acaba!
Voltam toda semana
para seu predileto
amante analfabeto!
imagem "feirante limpando a jaca" in fuleiragem.typepad.com
2 pastel
repete tec tec
o poeta:
Poesia
não enche barriga.
Shhh-chia o pastel
no óleo fervente,
o pivete ronda,
- Tio, me vê 1 real?
1 pastel cala a fome
do pivete.
Shhh!
Cala a boca
já morreu!
2 pastel cala a fome
de toda a gente.
humor e pastéis
(Karla Jacobina)
Pastel de carne
menstruada
de queijo
barraca duvidosa
Especial
Berinjela com queijo
venenosa
Palmito
furando a dieta
Escarola
furando de novo
Camarão
Bacalhau
no brinde
p
A feira acabou,
O pastel esfriou,
O povo sumiu.
E agora, Sr. P?
E agora, você?
Pastel de vento,
Vento sem sabor,
Poesia sem calor.
Barriga vazia
Já não pode beber
Nem um caldo de cana.
Tudo acabou,
A barraca fechou,
O pastel já murchou,
E agora, Sr. P?
Nem de queijo
Nem de bauru,
Nem romeu e julieta
Nem bacalhau,
Só a fome
E a sujeira na rua.
Você marcha, Sr.P!
Sr. P, para onde?
hoje não
O silêncio, um não
o sumiço.
A desculpa no excesso
de compromisso.
Perdi sono, alegria
o sorriso.
Foi-se até a vontade, o gosto
de comer um pastel
antes do almoço.