em branco

Alegria!

São dias de muita alegria!
É batucada! É carnaval!
Mas, que louco resistiria?
É coisa de brasileiro, afinal!

Muita gente vai encher a cara
e se matar nas estradas,
Vai tentar pegar mulher na marra,
Haverão muitas barrigas inchadas!

Haverá aumento de natalidade,
e do índice de infectados por HIV,
De tamanha alegria, mortalidade
com tanta estupidez, homem sempre à mercê

Dos piores resultados,
Colhendo da inconsequente plantação
Os frutos podres e amaldiçoados,
Não foi sempre assim? Vai dizer que não!

Eu te amo, São Paulo!

Vejo o horror
sujar a paisagem,
Marginais correm
ante o som vibrante
da sirene,
Homens-cinza como
os prédios que me envolvem,
cospem das mãos, rajadas de fogo,
Vermelho tinge o quadro,
Antes sem cor, frio, impenetrável
como o semblante
do vendedor de bilhetes
de loteria,
Vindo de meu querido
Bixiga ! Ô, meu!
Macarronada com porpeta!
Eu te amo, São Paulo!
Mas, quem vai livrá-la
da escória?
Na Av. Paulista,
me refugio no metrô,
Luta entre gangues
ou torcidas?
Dá no mesmo!
Eu te amo, São Paulo!
Só espero pela ultima chuva,
Decisiva,
Que irá limpá-la
de vez,
E poderei andar de novo,
Solitário, na minha terra da garoa querida!

saudosismo




Recentemente, comentando uma postagem minha, Luiz Pagano, do Capivara Paulistana, sugeriu, “Podiam proibir também a entrada das tempestades, permitindo apenas a volta da garoa à cidade.”

“Ê, São Paulo, São Paulo terra boa!” A sugestão marejou meus olhos. Confesso, sou saudosista.

Saudosista dos trilhos de bonde que por longo tempo resistiram inúteis em meio aos paralelepípedos da cidade – depois, cobriram tudo com asfato. Menino, íamos visitar uma tia que morava no Ipiranga, e eu freqüentemente me perdia em voltas neste bonde de imaginação.

Saudosista dos litros de leite entregues de madrugada à porta das padarias ainda fechadas. Ninguém mexia. Certa vez, vindos da balada, eu e meus amigos bebemos um. No dia seguinte, a padaria aberta, fomos pagar.

Saudosista da garoa, a última a partir. Morreu devagarinho, cada vez molhava menos.
Passei a última noite de garoa da cidade aos beijos na pracinha perto de casa com uma namoradinha da oitava série. Ah, fosse vivo, Adoniran tirava um samba desta noite.

Vou proibir São Paulo desta besteira de “vocação para o trabalho”, vou proibir São Paulo de crescer. Quero de volta aquela inocência, aquele espírito caipira sem o qual o paulistano nunca mais vai ser feliz!