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FIM/COMEÇO ::: GOL DE LETRA

FIM/COMEÇO

GOL DE LETRA

TEMA DE NOVEMBRO 2008

Encontro ::: Gol de letra - 07/01/2008





leminski e o futebol

I
manchete
CHUTES DE POETA
NÃO LEVAM PERIGO À META

II
quero a vitória
do time de várzea
valente
covarde
a derrota
do campeão
5 X 0
em seu próprio chão
circo
dentro
do pão

III
um bom poema
leva anos cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

grandes momentos do esporte 3


Voraz volupia!

Anjos de seios rijos...
assistem com atenção
o jogador meter a bola...
Ir duro, de sola...
No gol, buraco aberto!

Os anjos gritam gol...
balançando formosas tetas
Com seus faróis acesos...
Ansiando por carinho!

Por carrão
Depois do carrinho
Dinheiro na conta corrente!
Anjos vorazes...
De voraz volupia
Olham as coxas do jogador!

São anjos caidos
São "diabas sem-vergonhas..."
Que, com vis sorrisos...
Vivem do viril suor...

Que empapa a camisa
De seu time do coração...
Aquele, a quem venderam a alma...
Agora, vendem a carne...

Arquibancada-açougue,
Quem paga mais?
Comer! Comer!

Sonhos! Campeonatos!
Troféu-loura-boazuda!

ANTES DO PRIMEIRO SUTIÃ


Nasci mulher e meu pai caiu em lágrimas. Primeira filha mulher e última tentativa: também. Sempre disse satisfeito com a preferência da cegonha, no entanto, ganhei uma camisa do seu time antes do primeiro sutiã.

Sem time, menor de idade, mas com uma camisa oficial, troquei os episódios da Barbie pelas transmissões do Brasileirão.

Aprendi a colocar os pulmões pra fora todas as vezes que a camisa igual a minha marcava gol.

Na verdade, eu não vestia a camisa do time com a camisa igual a minha. Eu vestia a camisa do homem que me deu braços para vestir a camisa que eu ganharia logo na seqüência.

A vida mudou de campo, a camisa furou no sovaco e meu pai foi morar mais distante do que um tiro de meta.

Sem time e maior de idade, cabe no meu peito a camisa de todas as torcidas com camisa do mundo. E um pacaembú de saudades do meu pai.

gol de bicicleta - da série gols antológicos


'' MAIS UMA CRÍTICA SOCIAL''

O Brasil é o país do futebol
país do samba
das mulheres
do Carnaval

um país de nome internacional
onde a bola rola
crianças pedem esmolas
e a saúde é um caos

esporte é esperança de uma nação
e a televisão é banalização
onde a bunda aparece
rebolando no gugu e no faustão

o creu é legal
a música se prostituiu
estão acabando com a cultura
do nosso Brasil

o povo não tem arte
o povo não tem cultura
banalizando em toda a parte
levando pra Sepultura

o país do sol
é o país da miséria
onde o futebol reina
e a fome não é coisa séria

isso é mais um grito mudo
mais um grito marginal
há muitos surdos
mais uma critica social...

caranguejunior

gol de carrinho - da série gols antológicos


futebols

(Ferrari)

futebol
na roça
chama racha
dura uma tarde
de sol
na caixa

futebol
na praia
chama bola
difícil sair
sem bolha
na sola

futebol
no terreno
chama pelada
começa exatamente
sem hora
marcada

futebol
na rua
chama caixote
apito é buzina
de carro dobrando
a esquina

futebol
no portão
chama melê
vale de cabeça
bola sem pingar
no chão

futebol
na escola
chama gol-a-gol
durante o recreio
não pode passar
do meio

futebol
no peito
chama acesa
nervos no ataque
nenhuma
defesa

Aonde a coruja dorme

Cidadão das nuvens


O ditador imita Hitler
pelo tempo de um apito -
inicia-se a partida.

No tabuleiro de xadrez esmeralda
brotam as primeiras jogadas.

Uns vão de unha;
outros palavrões, amendoins –
a multidão mastiga.

Esfera pergunta: és fera? -
de pé em pé, de ouvido a ouvido.

Um torcedor cala o rádio,
para cantar o galo
do treinador careca.

Apenas a tiete despreza
o bem-me-quer da bola.

Agasalhado e de luvas,
o arqueiro destoa
do resto do estádio.

O auxiliar é o único sério
a tremular bandeira.

Na barriga da mulata grávida
o recém-nascido brasileiro
chuta com estilo.

A rede é o véu da noiva trave
a esperar o gol de letra.

Aonde a coruja dorme:
Pesadelo de goleiros,
sonho de artilheiros.

Gol: metade do estádio tira
palavras da boca da outra metade.


Cidadão das nuvens
Renato Silva

uma partida de futebol

Locutor:

Moleque pede um Teco de Paçoca,
recebe Paciência,
entrega para Prudêncio,
Prudêncio rola de leve para Amoroso,
Amoroso entrega com açúcar para Guerreiro,
Guerreiro avança no meio de três,
dribla um, dribla dois,
cruza para Tato,
Tato ajeita no meio da área,
Justo mergulha de peixinho,
o goleiro se estica todo e... não alcança!
a bola vai entrando mansinha, mansinha
no canto direito da meta verde-amarela:
É goooooooool!
O Brasil ainda tem, ainda tem,
o Brasil ainda tem esperanças, meus senhores!

Comentarista:

Esse garoto, Justo, chegou agora na seleção. Ainda não havia sido convocado porque o Brasil não está acostumado com seu estilo, mas ele sabe usar a cabeça.
Com as seguidas contusões de Finório – que já está ficando velho – se mostra nossa melhor opção.

Locutor:

E segue o jogo!
Agora, Brasil 1 X Velho Mundo 0.

Brasil-il-il!

alguém viu o Brasil-il-il?
o Brasil que estufa o peito
e estufa a rede,
alguém viu?

não estou falando deste brazil
grãos selecionados para exportação,
mas do Brasil verde, amarelo, branco, azul-anil,
o Brasil que deixava joões
com a cara e a bunda no chão.

o Brasil de pau-grande,
não o Brasil de Boston.
o Brasil terceira divisão,
sujo da lama da várzea,
o Brasil que sabe o preço do feijão,
não esse Brasil que só lembra que é brasileiro
na hora do pagode no avião.

o Brasil vira-lata,
porque ser vira-lata é nossa nata
e não nossa sina;
o Brasil tem que ser mais vira-lata e menos gente-fina,
mais macunaíma e menos charles bronson,
mais itubaína e menos 12 anos,
mais vida severina e menos caixeiro-viajante,
mais galinha caipira e menos haute-cuisine;
porque em estrangeirês
brazil não rima.

Brasil-il-il!


fotomontagem sobre imagem obtida em:
http://1br.biz/wallpapers/cachorro-bom-de-bola-4996.jpg

'' CANARINHA ''


torcedores a mil
coração em taquicardia
parece bateria de escola de samba
ama
a selecção Brasileira
de coração
de corpo e alma
canarinha
símbolo de vitória
conquistas e glórias do futebol
quando entra em campo
são heróis verdadeiros
e milhões de brasileiros
torcem com fé
Ronaldo
Romário
Garrincha
pelé...
bola pra área
de letra
pedalou
ooolléééé!!!!!!!

caranguejúnior ad homines per litteras!!!

AFEC (jatabão)

(Ferrari)

não precisa
seleção
time jatabão
ganhar
jatabão
papai-mamãe
jatabão
são longuinho
colocando seta
ajudando
encontrar a meta
jatabão
não precisa
bicicleta
rolimã
jatabão
gol de morrinho
gol de bico
gol contra
impedido
pênalti fingido
jatabão
meio gol
jatabão
não precisa
sequer
chacoalhar a rede
atravessar a linha
jatabão
futebol arte
é muito luxo
arroz com feijão
esporte
clube
jatabão

futesia

Dentre todos os craques,
o futebol não é Ronaldo,
não é Pelé
não é da Guia.

Dentre todos os craques,
o futebol é um menino
sem nome.

Dentre todas as quinquilharias da bacia,
o futebol é a mais barata,
não é limão
não é cultura,
não é batata.

O futebol é zé mané,
meio-caminho
entre a brincadeira
e a lembrança,
bola-de-meia
pé descalço,
sem camisa.

O futebol não é pintura nem fotografia,
não é cinema nem é balé.

Dentre todas as artes,
o futebol
é poesia.






Foto: Paulo D'Auria, Campo do Nacional 9/11/08
Ajax de Vila Rica 0 X Leões da Geolândia 1

Gol ou Google ?


(foto de Pipo Gialluisi)

Gol ou Google ?
ROGERIO SANTOS

quando se sai a caça
de nova palavra
aquela, no emaranhado
que fecha o sentido
que cria o atalho
que corta o caminho
que estala as idéias
que geralmente cozinham
na fuça, na cara
mascando batalha
no nó do novelo
cortante na linha
promessa de vôo perene
quando se pega de jeito
a palavra engendrada
aí chega a hora
de ir pro abraço
salgar a salada
de dar a garfada
de meter a boca
de matar a fome
de gritar bem fundo
do fundo da alma
da linha de fundo
da bola cruzada
na entrada da área
o pique, a chegada
é gooooooooooool
(ou google ?)

pra entender de futebol

(Ferrari)

Poesia também é letra


















Canhoteiro - Fagner & Zeca Baleiro



Um anjo torto
Um canhoteiro
Um São José de Ribamar
Um bailarino
Um brasileiro
Um Paraíba
Um Ceará

Um pé de ouro
Um peladeiro
Mata no peito e beija o sol
Balão de couro
Bola de efeito
Mas que perfeito é o futebol

Corre dispara pára ginga e zás
(Corre dispara pára ginga e jazz)
Mais um zagueiro vai pro chão
Esse já era não levanta mais
Outros virão
Finta canhota voa samurai
Lá vai a bola bala de canhão
Seu pé direito é a bomba que distrai
O esquerdo é o coração

Um belo drible
Decide o jogo
No grande baile do futebol
Só um artista
Um canhoteiro
Acende a tarde inventa o sol.

Nelson Rodrigues
















"Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos..."

gol de placa - da série gols antológicos


'' MONTINHO ARTILHEIRO, PESADELO DOS GOLEIROS''


a bola rebola
prá lá e prá cá
o atacante avante
doido pra entrar
na grande área
zagueiro atento
com medo de errar

''chuuutaaaaa!!!!''

goleiro rezando
pra bola não entrar
montinho artilheiro no caminho...

''tááá láááá!!!!''

goleiro prá cá
rebola bola
prá lá
e amanhã o frangueiro
vai dar o que falar

caranguejúniormagalrubronegronegro

clássico é clássico

Tudo pronto para o grande clássico!
Jogadores do Arranca-Toco Sport Club e do Grêmio Esportivo Unidos da Perna-de-Pau já se aquecem em campo!
A torcida acomete ansiosa ao Estádio Ladeira Abaixo!


fotocolagem com imagens obtidas em http://golsegoles.blogspot.com/, http://www.teatrovilavelha.com.br/ e http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.com/

taxista roxo

(Ferrari)

— Que trânsito, né?
— Dia de jogo é sempre assim — respondeu o taxista.

Minha mãe sequer sabia quem estava jogado, mas ficar em silêncio não era seu forte.

— O fulano de tal, hem? Que papelão!

O taxista não respondeu. Fiquei aflito. Pelo silêncio, desconfiei que o fulano fosse da família do taxista. Depois percebi que ele estava apenas distraído, ouvindo o jogo. Um taxista que concordasse sempre com o cliente era o mínimo que minha mãe esperava. Mas, pra evitar uma bola na trave, remediei:

— O senhor é corintiano?
— Já fui.

Meu Deus, um vira-casaca! Aquele era o segundo caso do gênero que conhecia em toda minha vida. O primeiro foi um amigo de infância que passou dez anos negando a mutação.

— Por que mudou de time? — perguntei.
— Foi culpa do meu pai.
— É sempre culpa dos outros! — pensei.
— É que antes de ser taxista, eu trabalhava de metalúrgico. Então, inventaram um tal de um teste de aptidão. Quem não passasse, era demitido no ato.

— E o senhor passou?
— Nem por perto.
— Então foi demitido?

— Fui sim, mas quem se chateou mesmo foi meu pai. E como eu era de menor e não podia assinar nenhum documento, ele foi receber o dinheiro da rescisão no meu lugar. Maldito dia!

— Maldito, por quê?
— Meu pai ficou com tanta raiva que bebeu todos os meus direitos em cachaça.

Minha mãe soltou uma gargalhada.

— Você ri, dona? — o taxista prosseguiu — Meu pai ficou uma semana sem trabalhar, caído de bêbado no boteco.
— E o que você fez?
— Fiquei daltônico!
— Daltônico?!
— Meu pai era corintiano roxo. Virei palmeirense!

O jogo

Bebo cerveja...
E a bola rola no campo,
Com certeza...
Momento mais insano!

Imagens, sons...
Batucada, explosões,
Aqui, todos são...
Mais que gente, sensações...

Sensações de alegria,
De nervoso...
Quem dera, noutro dia...
Gritar gol, durante o gozo!

Durante o sexo...
Durante a concepção de um filho,
Ou quem sabe, o inverso...
A explosão de fogos, o brilho...

No olho dela...
Quando estiver lá dentro,
Talvez seja quimera...
Talvez, zero a zero, mas eu aguento!

Bola fora

Foi bola fora...
Fora do pensamento,
Foi muito mais que bola...
Foi suor na camisa...

Foi fé num mundo...
Incrédulo e frio,
Foi lágrima...
Grito indignado...

Foi um tal de roer unha...
Na hora do pênalti,
Foi sonho que durou...
Por 90 minutos...

Foi impulso...
pra eu rolar como bola,
(Tenho barriga pra isso!)
Rolar ao anônimato...

Bola fora do sonho,
Bola murcha no sistema...
Rasgada na engrenagem...

Só esperando o fim de semana...
Pro meu time me encher!

De vida, tesão...

Ou o saco, mesmo!!

lógica do improviso

(Ferrari)



a bola
vem cruzada
melada
ele mata
no peito
faz firula
com o pé
direito

é craque
sai sambando
sapateando
fazendo tabela
humilhação
no meio
das canelas

o beque
sem pudor
sem amor
sem vaidade
estica a bota
anota a placa
penalidade!

o goleiro
arruma a barreira
reza
faz promessa
pra padroeira

a torcida
se contorce
se levanta
aflita
grito preso
na garganta

o juiz apita
a bola sai
feito cometa
gameta
planeta
batendo asas
de borboleta

O goleiro
estica
espicha
feito
lagartixa

é goool!
olha onde entrou
a bola

é goool!
pra futebol não tem
escola

Decisão










por Eliane Brito



Multidão hipnotizada,
Antes gritos, agora só respiração
O tambor dá vez às batidas do coração
O peso do mundo em uma bola.

A glória virá dos pés?
A esperança reside nas mãos?
Um olhar dentro dos olhos
Outro, que busca o chão

Som estridente corta o ar
O movimento pós concentração:
A perna que se contrai e que se estende
O corpo longelineo alçando vôo do chão

Ironicamente,
Nem pés, nem mãos, nem travessão
Conhece a dona bola outra dimensão

Um Baggio que isola e que se isola
Um Brasil que ri e chora, que é campeão

sorte do dia



Não prestei atenção mas, na certa, levantei com o pé esquerdo.
De domingo bem cedo, sair da cama é complicado.
Não que ainda estivesse com sono. O fato é que a única coisa interessante daquele dia seria o jogo do Palmeiras (lá pelas quatro).
Até lá, todo mundo enrolaria, apostaria a sorte e tomaria umas.
Banho e café preto (de gole rápido pra não ver a cor do adversário).
Café com leite não daria, era praga daquele dia.
Já sei! Pra dar sorte usaria a camisa do coração, meio por baixo, tá certo - porque o patrocinador já não era mais aquele.
E o dia foi se arrastando e eu me arrastando nele. Para o almoço chegou a família, com manjar de sobremesa.
A feijoada esquentada do sábado arrancou risadas do cunhado alvinegro, talvez pela cor, talvez pelo focinho.
O árbitro corrupto do ano passado trouxe o tapetão à tona. Toalha manchada, Mancha a postos, os Gaviões fiéis cantando e vibrando enquanto os palmeirenses rogavam pela salvação do time.
Hora do jogo, uma surpresa: o segundo uniforme dava o ar da graça e isso não era bom sinal.
Sinal da cruz, aperto de mãos. Moeda da sorte a favor do adversário.
Na primeira falta o atacante sai de maca e a torcida, com a macaca, soltando fumaça.
Aquele uniforme dava azar, eu sabia! Alguns ataques, muitas faltas, ene escanteios e nada.
A culpa é do narrador, parece estar morrendo! Trocar de canal seria ideal.
Agora sim! Agora vai! Aqui o gramado é mais verde e o narrador menos gambá.
Dois minutos depois o atacante adversário desce com tudo e bate pra dentro, encaçapando bola, goleiro e zagueiro. Ah não... parece praga!
Que nervoso! Vermelha de desgosto, levanto pra lavar o rosto e acalmar o ânimo. Ainda dá!
Mal levanto da cadeira dou as costas e meu time, raçudo, nem deixa o outro comemorar o gol que acabara de marcar. Tome outro goela abaixo pra ver se aprende com quem está lidando!
Olha lá, eu sabia! Era eu que estava dando azar! Foi só me levantar que o time marcou!
E assim, de longe, escutei a virada da vitória. E enquanto fazia pipocas comemorei o esperado título, que só fui assistir na reprise do jornal das dez.

'' PRETESTO PARA BEBER ''


vai !!
começar o jogo
pego a cerveja
e vou pro sofá
controle
na minha mão
é minha paixão
que já vai entrar
pode
a Sogra chegar
pra me infernizar
a Muié reclamar
o mundo desabar
eu não saio do lugar
não levanto do sofá
se a cerveja fazer efeito
só levanto pra ir mijar
a alegria é tanta
o grito de gol
entalado na garganta
só a cerveja consegue passar
só vou ficar feliz
se meu time golear
e se a birita
não acabaaarrr!!!

Jr rubro negro, negro...

meta


Gira mundo, gira bola
corre, corre, dribla
dá um chapéu no concorrente
treina, treina até dar um olé
chuta a bola pra fora, xinga!
rouba descaradamente
passa a perna!
o que importa se derrubar?
se o negócio é sempre somar
de um em um no placar.

O Juiz e a Sogra


(homenagem de um LUSO à Javier Castrilli)

O Juiz e a Sogra
ROGERIO SANTOS

eu tava tão bem na padoca em Santo Amaro
mas tinha que ver o meu time no estádio
roubado por um argentino salafrário
a minha bandeira virou escapulário

quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar

depois do apito ficou sapo entalado
além do nervoso inda me pisaram o calo
um dia vou ver esses caras rebaixados
e minha mulher fica me tirando o sarro

quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar

eu chuto o cachorro ela já descola um gato
pra ver o escroto mijando o meu sapato
ou faço vender para o cara do churrasco
ou fico com ele e ela sobe no telhado

quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar

e sua mãe liga o ar condicionado
só para dizer que precisa de um casaco
proponho mandar pro deserto do Saara
acabo perdendo metade do ordenado

quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar

ainda ventilam que sou muito encanado
que vivo apegado nas coisas do passado
eu como calado mas deixo meu recado
quem faz nessa vida aqui vai pagar dobrado

quem torce pra Portuguesa de Desportos
...coração tudo pode aguentar

'' SPORT CLUBE DO RECIFE ''


ouço
a zuada da multidão
entrou em campo
o leão
seu rugido de campeão
faz tremer o chão
a terra
a ilha
do retiro
é seu território
sua morada
sempre a espreita da caça
esperando
o apito inicial
para os adversários
coisa infernal
caçador
matador
sport é raça
paixão
pra mim
meu sport
é religião...


Jr um rubro negro, negro...

Chutebol

Renato Silva - Das nuvens



Vai ser chutebol
a tarde inteira
Pega o gelol
e a caneleira

O tempo a gente chuta de chuteira
Cobra lateral de lá da beira
Arruma confusão, luva, barreira
Bebe água da torneira

Vai ser chutebol
a tarde inteira
Pega o gelol
e a caneleira

Mete um cartão em quem faz cera
Dribla de chapéu, lençol, chaleira
Chinelo vira trave, brincadeira:
que goleiro fim de feira

Todo brasileiro é
unha e carne com os dedos
de Pelé

Todo brasileiro é
unha e carne com os dedos
de Mané.

Hino da Portuguesa (Roberto Leal/ Márcia Lúcia) *

















Vamos à luta, ó campeões,
Hão de vibrar os nossos corações.
Da tua glória, toda a certeza.
Que tu és grande, Ó Portuguesa.
Vamos à luta, ó campeões,
Há de brilhar a cruz de teus brasões,
E tua bandeira verde encarnada,
Que é a luz de tua jornada.
Vitória é a certeza
Da tua força e tradição
Em campo, ó Portuguesa,
Pra nós és sempre o time campeão.


* Trata-se do hino atual.Há também a primeira versão.

A mãe do juiz

Desculpa, viu mãe?
Eu não ligo, filho.
Não te levo mais no jogo.
Eu não ligo, filho.

Não importa o que faça...
Nunca ficam contentes,
Sou sempre ladrão!

A sopa tá esfriando, filho.
Eu tive que expulsar o cara!
Deus tá vendo, filho.

Tinha que sobrar pra senhora!
Me importa que faça o que gosta, filho.
Mas...Não gosto!
O quê?!

Eu queria estar lá, jogando!
Não acredito! E eu só levo xingo!!
Calma, mãe! Aiii!! Minha orelha!
Toma, seu filho da mãe!!!

bate bola

Depois de cumprir o tempo regulamentar, dava um jeito de driblar a namorada e correr pro abraço da outra. É, tinha duas. Não que fosse craque, show de bola. Tinha porque, naquele campeonato, eram mais rosas que azuis.

Jogava seu futebol direitinho, mas não era assim, um Ronaldinho. Apesar disso, vivia a se vangloriar de altas goleadas e na maior cara dura, contava pros amigos que não ficava cansado nem na prorrogação. Dizia que a torcida fazia festa que só vendo.
A galera vibrava e ao mesmo tempo esperava pelo dia em que o famoso levaria o cartão da namorada.

Dito e feito, não deu outra. Tomou uma bicuda, daquelas de fazer dó. A outra, ressentida, também não lhe deu guarida e avisou lá do banco de reservas que só jogaria de titular no dia em que seu passe triplicasse. Nosso craque, reformado, hoje bate bola num clube de várzea, lá na Vila das Saudades.

super-futebol

(Ferrari/?/André/?)

no segundo tempo
do dia
assistia meu pai
assistindo o jogo na tv
pra mim era só
coisa de gente adulta
gente junta
eu lia gibi
sozinho
coisa de gente só
toquinho
fingindo que era
o que não era
batman
outro heroi
entrando de sola
no arquinimigo
homem travesseiro
enquanto embaixo
na pracinha
os menimos
chutavam a bola
pra cima
hoje penso e acho
que ler e chutar
eram a mesma busca
e me pergunto
seria o grito de gol
encontrei!
ou apenas aviso:
olha o fusca!

- - - - - - - - - - -

de André pra Ferrari
de volta pra André

no país do futebol

no país do futebol 
nasceu pra ser poeta 
sempre amou 
gol de letra

arbitrário

Aquele árbitro tava de brincadeira... anulou o gol de chaleira, deu impedimento onde não havia, mostrou cartão pra bicicleta do atacante. Naquele clássico, um bando de filhos de uma boa desesperados corriam atrás da bola. Fez chuva, fez sol, fez ola. E o árbitro preocupado com a camisa pra fora do volante, nem viu quando o goleiro chutou forte e, lá de longe, marcou seu gol de tiro de meta. Não validou e a torcida, emputecida, deu cartão vermelho pro trio que saiu escoltado, enquanto o pau comia solto naquele estádio.

Torce a dor

Na obra...
Não é ninguem,
Abaixa a cabeça
para o patrão...

Salário de miséria,
Enrolará a noiva...
Fazer familia?
Não é louco...

Tem mãe doente,
Os irmãos ficaram lá...
Aqui, sua velha e ele,

Levanta edifícios
Para os bacanas...

Enquanto cava sua cova,
Partir para o crime?
Só quer esquecer...
Fazer parte de algo grande...

O uniforme da organizada,
Pular, xingar a outra torcida...
Frustração

Bola rola e torce a dor,
Esta dor no peito...
Zero a zero

Quem vence no final?

Maria

Olê, mulher rendeira...
Que rendeira nada!
Tu és Maria chuteira...
Que quis como namorada!

Não tenho coxa de jogador...
Dessas que correm à mil,
Não...Não, senhor...
Mas tu me pagas, viu?

Que fazes aqui, Maria?
Vais à todos os jogos...
Qual das chuteiras, lamberias?
Vai, que já começa logo!

Verde e branco dum lado....
Preto e branco do outro,
Não ligas para as glórias do passado...
Só deixas o cabelo solto...

Não és nem da fiel,
Nem és do lado porco...
Esperas que lhe dêem anel...
E uma boa pensão, sem esforço!

Lhe dedico a rima mais pobre...
Nem vi que saiu gol,
Só vi teu rabo, gata esnobe...
Fugir-me, mísero torcedor que sou!

cata lá no gol

(Ferrari, Jô Oliveira e Ricardo Amorim)



Quando eu era pequeno
Eu queria jogar futebol
Marcar muito gol, ouvir rock and roll
E aquelas coisas todas de muleque

Eu queria dibrar o beque
Imitar o Zico
Chutar de trivela, de peito e de bico
Estufar a rede e ir pratorcida

Mas quando começava a partida
Era aquela vaia
Meu sonho de artilheiro morria na praia
E alguém logo dizia o que me restou

Aaaaah! Catalanogol!!!!

OUÇA A VERSÃO COMPLETA AQUI:

timinho

(Ferrari)

o torcedor
queria se lembrar
queria contar
com lágrimas nos olhos
pros filhos
e filhos dos filhos
que aquele jogo
foi melhor que motocicleta
jimmy hendrix
maconha
sexo livre
em woodstock
mas só lembrou
sem nenhuma emoção
da meia
do roberto carlos
e dum timinho
brocha

feijoada da nasa

(Ferrari)

gringo não entende
nunca usou fralda do framengo
futebol não pulsa
feito relógio suíço
futebol samba
de breque
de partido-alto
for-all
se arrumar estraga
vira feijoada da nasa
acarajé light
cheese-salada

guerreiros de verde e branco

(André Dias/z?)

Eles são os mais bravos!
São os Guerreiros de Verde e Branco,
Não existem adversários, só escravos...
no campo, e sofredores no banco!

Eles são os donos da bola...
São os melhores de todos os tempos,
Com sua fantástica técnica, fizeram escola...
As outras torcidas, só resta choro e lamento!

Com a força do verde das matas,
e do branco das constelações...
Rasgam o campo, como afiadas facas,
Deixando o inimigo caido, em contorções!

Ao final da furiosa jogada...
os adversários não passam de tristes caveiras,
Na constatação de que as horas de treino, valeram nada...
Diante da onipotência Alviverde do Palmeiras!

soneto 930 habitual

Glauco Mattoso

















SONETO 930 HABITUAL [2003] por Glauco Mattoso



Chuteiras pendurou certo atacante,
de cuja "despedida" até se orgulha,
devido ao povo que o estádio atulha
e aplaude-lhe o carisma, delirante.

De lá pra cá, porém, tenta, durante
a temporada inteira uma fagulha
de fama faturar, e inda vasculha
se vaga tem nalgum time importante.

Parece que essa gente não sossega,
ainda que no banco tenha grana
e idade pra gastá-la à moda brega!

Carrões, mulheres, drogas, nada sana
a falta duma bola e dum colega
no campo ou noutro jogo, mais sacana...

a deus


Tava tudo em suas mãos.
Nessa hora, elas usavam chuteiras coloridas.
Era ele contra um cara no meio do caminho pra atrapalhar.
(como sempre)
Não que fosse difícil.
Já tinha feito aquilo milhares de vezes.
(com sucesso)
Mas era obrigação, tinha que acertar.
Não podia demorar nem errar.
(era tão fácil, ele ganhava praquilo, ué!)
Era o melhor, o escolhido.
Milhões de olhos críticos.
(e zilhões de pensamentos à velocidade da luz)
Fez o sinal da cruz, correu, chutou.
E arremessou pro céu tudo aquilo que um dia quiseram que ele fosse.
Enquanto o povo esbravejava mil maldições, ele, com as mãos na cabeça, sorria.

gol de letra - da série gols antológicos