em branco

São Rivotril


São Rivotril
que estás no alto
da prateleira!
Bendito sois
entre as caixas
de remédios!
Socorrei-me,
pois parece que
irei explodir,
como bomba de São João!
Mas, João, nada pode fazer,
contra o demônio do stress
que me possui!
Só o suavizante manto
tarja-preta
que traz a paz das nuvens
à minha cabeça!
Antes: Puta que o pariu!
Agora: A dor de existir?
Sumiu! Sumiu! Sumiu!
Santo! Santo! São Rivotril!

Merda


Pisei
na
merda,
Merda
fedida
Que
nem
pum
no
elevador
parado,
Pum
de
repolho,
Que
nem
trabalho
de
segunda feira,
Que nem
casal
se
beijando
no
cinema,
E eu
sozinho,
olhando
pra
tela
branca!
Merda!

trilha sonora do stress

Dizem que as estatística dizem que nas poucas horas entre o “É Fantástico” e o “está no ar o Bom-dia São Paulo”, neste curto período: domingo-à-noite-segunda-feira-de-manhã, ocorre o maior número de suicídios e ataques cardíacos na semana.

O que que é isso gente? É stress! Só de pensar, “Vai começar tudo de novo, o meu chefe, a cobrança, aquela pendência que eu ainda não consegui resolver...” Só de pensar já dá uma falta de ar, uma dor no peito, no braço esquerdo!

“Olha a hora! Seis e quarenta e cinco! Repita! Seis e quarenta e cinco!” Eu de férias, na praia, e meu vizinho me acordava todo santo dia com o rádinho de pilha e o barbeador elétrico: “Olha a hora! Seis e quarenta e seis! Repita! Seis e quarenta e seis!”
Ô meu Cristo amado! Fé-ri-aaas! Relaxa homem!
Não tem jeito, não. O paulistano acostuma com aquela hora de acordar todo dia e não desacostuma nem nas férias! Nem na aposentadoria!

“São Paulo da garoa, São Paulo terra boa!” Boa, com esse friozinho, de ficar debaixo das cobertas até mais tarde... “São Paulo que amanhece trabalhando!”
Que trabalhando? Que trabalhando? Me deixa dormir!

TRRRRIIIIIIIIIIIIIIIMMMMMMM
“São Paulo que não pode adormecer...”

Ô cidadezinha estressada, sô! Só mais cinco minutinhos!

_____________________________________________________

ESPERMATOZÓIDES DO SACO DE METAL



a noite cai
e os olhos ardendo
adentro o grande óvulo
fecundado de trabalhadores

do CAIS DE SANTA RITA
a prece das seis horas
o sinal da cruz
do sinal fechado

a pressa de chegar
não me deixa enxergar a BOA VISTA
o Capibaribe cheio, imponente...
no meio da cidade

o Borborema Cheio de sonhos
e conversas
José's, João's e JOANA BEZERRA
descem e sobem sem parar

amontoados
querendo ao menos ter
ao menos ver uma
BOA VIAGEM se aproximar

e Deus contempla-nos com
PIEDADE
espremido e amarrotado
sorrio,CANDEIAS chegou!

com o pé direito desço
do grande óvulo fecundado
de trabalhadores
espermatozóides do saco de metal




Caranguejúnior

CORRERIA

o tempo é curto
o tempo é escasso
o tempo é confuso
o tempo é tudo
o tempo é nada
nosso mal...
não tenho tempo
para o tempo
o tempo
não tem tempo pra mim
correria sem fim
que tempo?
nessa vida
não tenho cronômetro




Caranguejúnior

o motorista

Ah, só porque eu sou motorista de ônibus em São Paulo você acha que já sabe o que eu vou falar:
Trânsito-motoboy-congestionamento-marginal parada.
Trânsito louco-motoboy maluco-engarrafamento-marginal alagada.
Trânsito-trânsito-trânsito-trânsito-trânsito!



imagem: victornavena.blogspot.com
Não, eu adoro isso!
“Sai da frente, Dona Maria! Vai pilotar fogão!
Ô barbeiro, braço duro, alfaiate, fdp, pqp! Sai da frente!”
Adoro, adoro, adoro!
Você quer saber o que me estressa?
O que me estressa mesmo são trinta segundos de silêncio.
Vou te contar a minha história.
Eu venho do interior, trabalhava na roça, contato com a terra etc, e um silêncio dos infernos!
O dia todo eu e os passarinhos.
Chegava a noite, como qualquer bom brasileiro eu ia ver a novela. E não conseguia entender porque nos intervalos passava um comercial, dois, e daí trinta segundos de silêncio. Um comercial, dois, e mais trinta segundos de silêncio. E a gente que nem bobo olhando para a televisão muda, vazia, esperando, esperando o próximo comercial e, muitas vezes, vinham mais trinta segundos de silêncio!

Pois um dia meu vizinho veio para o Hospital das Clínicas tratar de um mal qualquer, e voltou, me contou a novidade:
- O Zé, sabia que em São Paulo a TV não tem comercial vazio?
É o intervalo inteiro, tudinho, tudinho cheio de comercial, é cada comercial bacana, sô! que só vendo!

“Sai da frente, Dona Maria! Vai pilotar fogão!
Ô barbeiro, braço duro, alfaiate, fdp, pqp, sai da frente!”
Adoro, adoro, adoro!
Você quer saber o que me estressa?
O que me estressa mesmo são trinta segundos de silêncio.

Vagabunda!

Ai, enfermeira!
Em vez de bálsamo,
Tétano da traição!
Em vez de beijo,
Putrida infecção!
Esperanças?
Levou junto
com a comadre!
Veneno no soro
a sufocar-me,
Cuspo-te o pus
num sorriso dolorido
como incisão das
mais profundas!
Te amo! Ai! Te amo!
Doce! Meiga! Vagabunda!

van filosofia

o homem moderno

O poeta contemplativo morreu na faixa de pedestres. Que estresse,
abrir passagem para os atletas, os corretores de seguro, os vendedores de automóveis!
O poeta mastiga a fumaça de respirar
E golfa o oxigênio de voar.

O poeta apaixonado, afogado em silicones saltitantes
no circo das nádegas amestradas,
devora a sexualidade
e regurgita versos de amor.

O poeta é um velho ultrapassado,
come a própria a carne
e vomita-se homem moderno.

AGOSTO: STRESS!!!

Em agosto, os Poetas do Tietê estão prá lá de irritados, eles estão estressados!

É trânsito, horário a cumprir, poluição, ônibus lotado... Argh!

- O quê? O quê foi que você disse, leitor? Repete! Repete agora!!!

Pra se livrar de tanto stress, os Poetas do Tietê só não vão sair no braço,
mas vão sair no verso!

E prepare-se, dia 29/08 às 20:00h no Tendal da Lapa, tem o Sarau do Stress!
Te pego na saída!!!

Poemalcóolico

A cerveja caiu na mesa,
na calçada, cusparada
na mente, esperança de amor
Nos lábios de uma mestiça

O Péééééregrino!

Quem sou eu?
Sou apenas o
Péééééregrino!
Aquele que chupava
o próprio pé
quando menino!
Agora, a barriga
já não deixa!
Tenho que chupar
o pé alheio!
Vale joanete
Vale até chulé
Mas
chupar bem chupado!
Que nem o materno seio!
Do dedão até os artelhos
É pra mamar no calcanhar
Nos vãos dos dedos
Tudo! Inteiro!
Deus tá vendo
que num fiz maldade
Foi meu jeito de rezá!
Né tara, não! É humildade!
Tire a meia pr'eu chupá!!

Gato trepando

Aaaaaaaaaaahhh...Aaaaaah...Aaaaah!
Au! Au! Au! Au!
Aaaaaaahhh...Aaaaah...Aaaah!
Au! Au! Au! Au!
Gato trepando parece gente
ou é a gente que parece
com gato trepando?
Bom é ser o cachorro
que late incomodado,
mas não tenta filosofar
Tenho uma plantação
de abobrinhas na cabeça
Ponho no papel e chamo de arte!
Poderia bem estar fazendo como o gato:
Aaaaaaah...Aaaaaaah...Aaaaaahhh!!
Mas sou mesmo, é a cara do bicho que late:
Au! Au! Au!
Au?

Solidão

É um cão raivoso
a me acuar
Arrancando-me
tecos de vontade
de viver
Falho
ao fingir
ser autosustentável
Falho
ao querer
falar desse sentimento
Resta-me
meter-me
debaixo das cobertas
Onde há duas mãos
quentes
a me esperar