em branco

são paulo porvir

Serra da Cantareira


São Paulo, se desarma de teus rótulos
e vem passear com a gente.
Desaperta a gravata, tira os óculos,
vamos brincar de Clark Kent!

Cultivar poderes de super-homens
na cidade que nunca dorme,
plantar no coração do povo
a alegria do novo.

São Paulo, não precisa ser bandeirante,
apenas mais tolerante.
Ninguém te obriga locomotiva,
um tantinho só mais emotiva.
São Paulo, não carecia tanta pujança,
um matiz de esperança que fosse.

Depois,
dorme
pela cantoria da Cantareira
e as promessas da Serra do Mar
aconchegada,

e sonha com o porvir.

real grandeza


Em São Paulo, a moça de Mineiros, Goiás,
vende seus deliciosos acarajés
toda paramentada de baiana
nos arredores da Catedral da Sé.
Foi lá
que seu namorado, o Ceará,
a conheceu.
Ele comercializa relógios,
DVDs, cigarros e isqueiros,
e também miniaturas do Cristo Redentor
em sua barraca de camelô
feitas na China especialmente
para turistas apressados a negócios
sem tempo para o Rio de Janeiro.
Se Deus quiser, o casamento sai pro ano,
estão juntando algum pra não haver desengano.
O barraco é uma beleza,
fica na Rua Real Grandeza,
na Vila Brasilandia.
Vão ter três filhos
e vão ser muito felizes,
o mais velho vai trabalhar
na fábrica de motores,
a mais nova vai limpar
casa de doutores.
E no dia 12 de outubro
a família toda vai a Aparecida
agradecer a graça alcançada:
a mais nova tinha ido morar fora
e foi dada por desaparecida.
Mas hoje a família comemora,
foi encontrada e libertada
de triste patranha
em que caíra na Espanha.
É família de fibra,
- vivas a esta tal polícia Interpol!
está de volta a menina que sumiu!
A família vibra como um gol,
como um gol,
como um gol do Brasil!

Poesia Urbana , Crônicas Paulistanas

Aproveitando a deixa do meu "conterrâneo" Paulo D'áuria, apresento 3 textos autorais dentro do mesmo tema.
Leituras poéticas de fragmentos da nossa cidade.

Hipotenusa


(tirada da janela de casa)

lanço um olhar retilíneo sobre o horizonte de casas um quadro de altivez financiada num prédio de periferia estou acima não se constata outra coisa canta um cego rabequeiro “o sertão já virou mar” e sou deus e sou nenhum contemplo as luzes paulistanas imagino confins pontilhados na loucura surreal densidade demográfica um ponto nas reticências nas entrelinhas da frase que não se acaba em Penha-Lapa parágrafo e letra maiúscula mas deixa perguntas no ar muito mais que nono andar nego cio na solidão no pensamento negocio em linha reta sobre vidas e vigas no céu da terra prometida

Rodossentimento



coração pneu de carro
desvia dos sobressaltos
resiste derrapa na curva
machuca se cai no buraco
altivo se roda alinhado
é rei conduzindo vassalo
até que a morte os separe
até que termine furado

Blade Runner da Silva



na noite

da minha cidade

não há estrelas

desaba chuva

de propaganda

enganosa


out-doors

são máquinas

de lavar dinheiro

ditando o foco

da sociedade

cadente


resta na lua fosca

coadjuvante colírio

nos olhos

bombardeados

por implacáveis

luzes


olhos-de-gato

são reticências

pelas ruas

direcionando

o modo de vida

embalado para viagem

são paulo que não tem cristo que nos abrace

Imagem, bairro do Morumbi, São Paulo

São Paulo que não tem cristo que nos abrace
São Paulo mato-grosso sem cachorro
capão redondamente grávido
de esperança

São Paulo que não tem farol na barra que nos ilumine
São Paulo de cara virada com todos os santos
São Paulo sem belo-horizonte
Pernambuco sem mar
Amazonas sem Yara

São Paulo brasilândia bem mexida
batida
remoída
regurgitada

São Paulo sem lei
São Paulo meu rei
sem brilho
sem diamantina
São Paulo bijuteria

São Paulo filho
de pai jesuíta
e mãe desconhecida
batendo calçada
na vida

São Paulo menino mal educado
no pátio do colégio de castigo
atrás da porta
ajoelhado no milho!

reciclicidade


imagem: globo.com

São Paulo é assim, o fim.
Reciclicidade do lixo, disso, daquilo, daculoutro.
Reciclicidade da inversão térmica, da invenção férvica, da intervenção cirurgicamente inviável.
São Paulo não cabe na métrica,
Ca ótica cega,
São Paulo não sabe a gramática,
É anafilática - digo, analfabética.

são paulos


São Paulos, são joãos e Josés
São Marias, são Claras e das Dores
São cidades armadas de concreto e aço
Nas vilas Marianas, Santanas, Moemas

São cidades-colagem de aglomerado e papelão
Sob as pontes das marginais
Automóveis de mil cavalos
Carroças movidas a gente

São Paulo esparramada subindo a Cantareira
Descendo até o mar
São Paulo amontoada subindo até o céu
E sob o metrô da Sé
Uma estação secreta para o inferno

Cidade que já morreu
E outra que ainda nem nasceu
São Paulos que eu amo
Todos os dias depois
De jurar eterno ódio

Seus homens de terno no asfalto ao verão
Mendigos ao relento nas madrugadas de inverno
As morenas da zona norte
As madames da zona sul
Orgulho na zona leste
Guaranis na zona oeste

Zona, zona, zona e esperança
Esperança, esperança, esperança e espelunca
Locomotiva desgovernada do Brasil
Porta do mundo, cidades mil

São Paulo tem mil cantos
São Paulo tem professor de esperanto
Se você quer falar javanês, vá a São Paulo
Se você quer falar cantão, vá a São Paulo
Se você quer falar baianês, vá a São Paulo
Se você quer falar ao coração, vá a São Paulo

Do Jaraguá tem vista
Para a Paulista
Na Paulista
Ninguém enxerga ninguém

Buzinas e mundo cão
Subindo e descendo a Consolação
Eu me perco na multidão

Mas lá no fundo um cocoricó, um Rincão
Eu nunca me sinto só
Na matriz da Freguesia do Ó

JULHO


Em julho, os Poetas do Tietê estão "quase" de férias.
Saímos para pescar no Rio Tietê!


Não teremos neste mês a "Papoetaria" que normalmente acontece aos sábados pela manhã no Tendal da Lapa.

E nosso sarau será dia 1º de agosto às 18:30h.

Denominado "Sarau do Cachorro Louco", será na verdade um sarau com tema livre.

E para que nossos leitores não fiquem sem diversão este mês, resolvi republicar aqui alguns poema anteriormente publicados em meu blog pessoal.

Todos com o tema "São Paulo".

Boa leitura!