Vejo o horror
sujar a paisagem,
Marginais correm
ante o som vibrante
da sirene,
Homens-cinza como
os prédios que me envolvem,
cospem das mãos, rajadas de fogo,
Vermelho tinge o quadro,
Antes sem cor, frio, impenetrável
como o semblante
do vendedor de bilhetes
de loteria,
Vindo de meu querido
Bixiga ! Ô, meu!
Macarronada com porpeta!
Eu te amo, São Paulo!
Mas, quem vai livrá-la
da escória?
Na Av. Paulista,
me refugio no metrô,
Luta entre gangues
ou torcidas?
Dá no mesmo!
Eu te amo, São Paulo!
Só espero pela ultima chuva,
Decisiva,
Que irá limpá-la
de vez,
E poderei andar de novo,
Solitário, na minha terra da garoa querida!
em branco
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saudosismo

Recentemente, comentando uma postagem minha, Luiz Pagano, do Capivara Paulistana, sugeriu, “Podiam proibir também a entrada das tempestades, permitindo apenas a volta da garoa à cidade.”
“Ê, São Paulo, São Paulo terra boa!” A sugestão marejou meus olhos. Confesso, sou saudosista.
Saudosista dos trilhos de bonde que por longo tempo resistiram inúteis em meio aos paralelepípedos da cidade – depois, cobriram tudo com asfato. Menino, íamos visitar uma tia que morava no Ipiranga, e eu freqüentemente me perdia em voltas neste bonde de imaginação.
Saudosista dos litros de leite entregues de madrugada à porta das padarias ainda fechadas. Ninguém mexia. Certa vez, vindos da balada, eu e meus amigos bebemos um. No dia seguinte, a padaria aberta, fomos pagar.
Saudosista da garoa, a última a partir. Morreu devagarinho, cada vez molhava menos.
Passei a última noite de garoa da cidade aos beijos na pracinha perto de casa com uma namoradinha da oitava série. Ah, fosse vivo, Adoniran tirava um samba desta noite.
Vou proibir São Paulo desta besteira de “vocação para o trabalho”, vou proibir São Paulo de crescer. Quero de volta aquela inocência, aquele espírito caipira sem o qual o paulistano nunca mais vai ser feliz!
compleximplicidade

Queria pegar esse chuazinho de chuva e te pôr para dormir, mas você, com esses olhos dissimulados que nunca dormem a me perseguir.
Queria matar tua sede com essa água mansa que recolhe das calhas de todas as casas, da sarjeta de todas as ruas, mas para você nem toda a cachaça nem todo gozo, suficientes.
Queria conversar, mas você grita.
Queria lhe entender, mas você fala línguas tão mansas e ancestrais que apenas os sabiás.
Queria te amar, mas você ora puta ora cafetão, diz sim agora e nega depois, dizendo que eu não teria como lhe pagar.
Sei que sou eu quem erra, que me perco por caminhos que se cruzam desde 1554.
Sei que sou eu quem erra, que não lhe reconheço, como se o fundo do abismo, de tão próximo, me parecesse um sorriso amigo.
Sei que sou quem, cego, não alcanço tua complexidade tão simples que cabe inteira numa esquina, Ipiranga com São João.
Queria matar tua sede com essa água mansa que recolhe das calhas de todas as casas, da sarjeta de todas as ruas, mas para você nem toda a cachaça nem todo gozo, suficientes.
Queria conversar, mas você grita.
Queria lhe entender, mas você fala línguas tão mansas e ancestrais que apenas os sabiás.
Queria te amar, mas você ora puta ora cafetão, diz sim agora e nega depois, dizendo que eu não teria como lhe pagar.
Sei que sou eu quem erra, que me perco por caminhos que se cruzam desde 1554.
Sei que sou eu quem erra, que não lhe reconheço, como se o fundo do abismo, de tão próximo, me parecesse um sorriso amigo.
Sei que sou quem, cego, não alcanço tua complexidade tão simples que cabe inteira numa esquina, Ipiranga com São João.
gavetas do tempo

Vou sentir falta da iluminação de natal.
Ainda que tenha minhas dúvidas quanto ao conforto de nossas belas tipuanas com seus troncos e galhos tomados por centenas de lampadinhas acesas por noites a fio, ainda assim, vou sentir falta da iluminação de natal.
Ainda que tenha minhas dúvidas quanto ao conforto de nossas belas tipuanas com seus troncos e galhos tomados por centenas de lampadinhas acesas por noites a fio, ainda assim, vou sentir falta da iluminação de natal.
No Trianon, nas avenidas Sumaré e Pompéia, a caminho de casa, cruzei madrugadas que não eram comuns madrugadas paulistanas. Esses caminhos assim iluminados me levavam a outros lugares, minha casa ainda, mas outros lugares.
Certa noite fui parar em minha casa no tempo em que as bolas de natal eram feitas de um vidro tão fino que se quebravam com o suspiro de um grilo, e cada uma era uma obra de arte única, pelo menos aos meus olhos de menino.
Hoje, todas elas se quebraram? Não terá sobrado uma ao menos nalguma gaveta do tempo?
E agora que as avenidas voltaram a ser apenas avenidas com sua iluminação ordinária, e agora, para onde irei, o que vou encontrar quando voltar para casa?
Meditação sobre o Tietê - poema de Mário de Andrade
Meditação sobre o Tietê - por Mário de Andrade
Água do meu Tietê,
Onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
E que me afastas do mar...
É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
É noite e tudo é noite. Uma ronda de sombras,
Soturnas sombras, enchem de noite de tão vasta
O peito do rio, que é como si a noite fosse água,
Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto. De repente
O ólio das águas recolhe em cheio luzes trêmulas,
É um susto. E num momento o rio
Esplende em luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas,
Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam
Agora, arranha-céus valentes donde saltam
Os bichos blau e os punidores gatos verdes,
Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas,
Luzes e glória. É a cidade... É a emaranhada forma
Humana corrupta da vida que muge e se aplaude.
E se aclama e se falsifica e se esconde. E deslumbra.
Mas é um momento só. Logo o rio escurece de novo,
Está negro. As águas oliosas e pesadas se aplacam
Num gemido. Flor. Tristeza que timbra um caminho de morte.
É noite. E tudo é noite. E o meu coração devastado
É um rumor de germes insalubres pela noite insone e humana.
Meu rio, meu Tietê, onde me levas?
Sarcástico rio que contradizes o curso das águas
E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens,
Onde me queres levar?...
Por que me proíbes assim praias e mar, por que
Me impedes a fama das tempestades do Atlântico
E os lindos versos que falam em partir e nunca mais voltar?
Rio que fazes terra, húmus da terra, bicho da terra,
Me induzindo com a tua insistência turrona paulista
Para as tempestades humanas da vida, rio, meu rio!...
Já nada me amarga mais a recusa da vitória
Do indivíduo, e de me sentir feliz em mim.
Eu mesmo desisti dessa felicidade deslumbrante,
E fui por tuas águas levado,
A me reconciliar com a dor humana pertinaz,
E a me purificar no barro dos sofrimentos dos homens.
Eu que decido. E eu mesmo me reconstituí árduo na dor
Por minhas mãos, por minhas desvividas mãos, por
Estas minhas próprias mãos que me traem,
Me desgastaram e me dispersaram por todos os descaminhos,
Fazendo de mim uma trama onde a aranha insaciada
Se perdeu em cisco e polem, cadáveres e verdades e ilusões.
Mas porém, rio, meu rio, de cujas águas eu nasci,
Eu nem tenho direito mais de ser melancólico e frágil,
Nem de me estrelar nas volúpias inúteis da lágrima!
Eu me reverto às tuas águas espessas de infâmias,
Oliosas, eu, voluntariamente, sofregamente, sujado
De infâmias, egoísmos e traições. E as minhas vozes,
Perdidas do seu tenor, rosnam pesadas e oliosas,
Varando terra adentro no espanto dos mil futuros,
À espera angustiada do ponto. Não do meu ponto final!
Eu desisiti! Mas do ponto entre as águas e a noite,
Daquele ponto leal à terrestre pergunta do homem,
De que o homem há de nascer.
Eu vejo; não é por mim, o meu verso tomando
As cordas oscilantes da serpente, rio.
Toda a graça, todo o prazer da vida se acabou.
Nas tuas águas eu contemplo o Boi Paciência
Se afogando, que o peito das águas tudo soverteu.
Contágios, tradições, brancuras e notícias,
Mudo, esquivo, dentro da noite, o peito das águas,
fechado, mudo,
Mudo e vivo, no despeito estrídulo que me fustiga e devora.
Destino, predestinações... meu destino. Estas águas
Do meu Tietê são abjetas e barrentas,
Dão febre, dão morte decerto, e dão garças e antíteses.
Nem as ondas das suas praias cantam, e no fundo
Das manhãs elas dão gargalhadas frenéticas,
Silvos de tocaias e lamurientos jacarés.
Isto não são águas que se beba, conhecido, isto são
Águas do vício da terra. Os jabirus e os socós
Gargalham depois morrem. E as antas e os bandeirantes e os ingás,
Depois morrem. Sobra não. Nem siquer o Boi Paciência
Se muda não. Vai tudo ficar na mesma, mas vai!... e os corpos
Podres envenenam estas águas completas no bem e no mal.
Isto não são águas que se beba, conhecido! Estas águas
São malditas e dão morte, eu descobri! e é por isso
Que elas se afastam dos oceanos e induzem à terra dos homens,
Paspalhonas. Isto não são água que se beba, eu descobri!
E o meu peito das águas se esborrifa, ventarrão vem, se encapela
Engruvinhado de dor que não se suporta mais.
Me sinto o pai Tietê! ôh força dos meus sovacos!
Cio de amor que me impede, que destrói e fecunda!
Nordeste de impaciente amor sem metáforas,
Que se horroriza e enraivece de sentir-se
Demagogicamente tão sozinho! Ô força!
Incêndio de amor estrondante, enchente magnânima que me inunda,
Me alarma e me destroça, inerme por sentir-me
Demagogicamente tão só!
A culpa é tua, Pai Tietê? A culpa é tua
Si as tuas águas estão podres de fel
E majestade falsa? A culpa é tua
Onde estão os amigos? Onde estão os inimigos?
Onde estão os pardais? e os teus estudiosos e sábios, e
Os iletrados?
Onde o teu povo? e as mulheres! dona Hircenuhdis Quiroga!
E os Prados e os crespos e os pratos e
os barbas e os gatos e os línguas
Do Instituto Histórico e Geográfico, e os museus e a Cúria,
e os senhores chantres reverendíssimos,
Celso niil estate varíolas gide memoriam,
Calípedes flogísticos e a Confraria Brasiliense e Clima
E os jornalistas e os trustkistas e a Light e as
Novas ruas abertas e a falta de habitações e
Os mercados?... E a tiradeira divina de Cristo!...
Tu és Demagogia. A própria vida abstrata tem vergonha
De ti em tua ambição fumarenta.
És demagogia em teu coração insubmisso.
És demagogia em teu desequilíbrio anticéptico
E antiuniversitário.
És demagogia. Pura demagogia.
Demagogia pura. Mesmo alimpada de metáforas.
Mesmo irrespirável de furor na fala reles:
Demagogia.
Tu és enquanto tudo é eternidade e malvasia:
Demagogia.
Tu és em meio à (crase) gente pia:
Demagogia.
És tu jocoso enquanto o ato gratuito se esvazia:
Demagogia.
És demagogia, ninguém chegue perto!
Nem Alberto, nem Adalberto nem Dagoberto
Esperto Ciumento Peripatético e Ceci
E Tancredo e Afrodísio e também Armida
E o próprio Pedro e também Alcibíades,
Ninguém te chegue perto, porque tenhamos o pudor,
O pudor do pudor, sejamos verticais e sutis, bem
Sutis!... E as tuas mãos se emaranham lerdas,
E o Pai Tietê se vai num suspiro educado e sereno,
Porque és demagogia e tudo é demagogia.
Olha os peixes, demagogo incivil! Repete os carcomidos peixes!
São eles que empurram as águas e as fazem servir de alimento
Às areias gordas da margem. Olha o peixe dourado sonoro,
Esse é um presidente, mantém faixa de crachá no peito,
Acirculado de tubarões que escondendo na fuça rotunda
O perrepismo dos dentes, se revezam na rota solene
Languidamente presidenciais. Ei-vem o tubarão-martelo
E o lambari-spitfire. Ei-vem o boto-ministro.
Ei-vem o peixe-boi com as mil mamicas imprudentes,
Perturbado pelos golfinhos saltitantes e as tabaranas
Em zás-trás dos guapos Pêdêcê e Guaporés.
Eis o peixe-baleia entre os peixes muçuns lineares,
E os bagres do lodo oliva e bilhões de peixins japoneses;
Mas és asnático o peixe-baleia e vai logo encalhar na margem,
Pois quis engolir a própria margem, confundido pela facheada,
Peixes aos mil e mil, como se diz, brincabrincando
De dirigir a corrente com ares de salva-vidas.
E lá vem por debaixo e por de-banda os interrogativos peixes
Internacionais, uns rubicundos sustentados de mosca,
E os espadartes a trote chique, esses são espadartes! e as duas
Semanas Santas se insultam e odeiam, na lufa-lufa de ganhar
No bicho o corpo do crucificado. Mas as águas,
As águas choram baixas num murmúrio lívido, e se difundem
Tecidas de peixe e abandono, na mais incompetente solidão.
Vamos, Demagogia! eia! sus! aceita o ventre e investe!
Berra de amor humano impenitente,
Cega, sem lágrimas, ignara, colérica, investe!
Um dia hás de ter razão contra a ciência e a realidade,
E contra os fariseus e as lontras luzidias.
E contra os guarás e os elogiados. E contra todos os peixes.
E também os mariscos, as ostras e os trairões fartos de equilíbrio e
Pundhonor.
Pum d'honor.
Qué-de as Juvenilidades Auriverdes!
Eu tenho medo... Meu coração está pequeno, é tanta
Essa demagogia, é tamanha,
Que eu tenho medo de abraçar os inimigos,
Em busca apenas dum sabor,
Em busca dum olhar,
Um sabor, um olhar, uma certeza...
É noite... Rio! meu rio! meu Tietê!
É noite muito!... As formas... Eu busco em vão as formas
Que me ancorem num porto seguro na terra dos homens.
É noite e tudo é noite. O rio tristemente
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
Água noturna, noite líquida... Augúrios mornos afogam
As altas torres do meu exausto coração.
Me sinto esvair no apagado murmulho das águas
Meu pensamento quer pensar, flor, meu peito
Quereria sofrer, talvez (sem metáforas) uma dor irritada...
Mas tudo se desfaz num choro de agonia
Plácida. Não tem formas nessa noite, e o rio
Recolhe mais esta luz, vibra, reflete, se aclara, refulge,
E me larga desarmado nos transes da enorme cidade.
Si todos esses dinossauros imponentes de luxo e diamante,
Vorazes de genealogia e de arcanos,
Quisessem reconquistar o passado...
Eu me vejo sozinho, arrastando sem músculo
A cauda do pavão e mil olhos de séculos,
Sobretudo os vinte séculos de anticristianismo
Da por todos chamada Civilização Cristã...
Olhos que me intrigam, olhos que me denunciam,
Da cauda do pavão, tão pesada e ilusória.
Não posso continuar mais, não tenho, porque os homens
Não querem me ajudar no meu caminho.
Então a cauda se abriria orgulhosa e reflorescente
De luzes inimagináveis e certezas...
Eu não seria tão-somente o peso deste meu desconsolo,
A lepra do meu castigo queimando nesta epiderme
Que encurta, me encerra e me inutiliza na noite,
Me revertendo minúsculo à advertência do meu rio.
Escuto o rio. Assunto estes balouços em que o rio
Murmura num banzeiro. E contemplo
Como apenas se movimenta escravizada a torrente,
E rola a multidão. Cada onda que abrolha
E se mistura no rolar fatigado é uma dor. E o surto
Mirim dum crime impune.
Vêm de trás o estirão. É tão soluçante e tão longo,
E lá na curva do rio vêm outros estirões e mais outros,
E lá na frente são outros, todos soluçantes e presos
Por curvas que serão sempre apenas as curvas do rio.
Há de todos os assombros, de todas as purezas e martírios
Nesse rolo torvo das águas. Meu Deus! meu
Rio! como é possível a torpeza da enchente dos homens!
Quem pode compreender o escravo macho
E multimilenar que escorre e sofre, e mandado escorre
Entre injustiça e impiedade, estreitado
Nas margens e nas areias das praias sequiosas?
Elas bebem e bebem. Não se fartam, deixando com desespero
Que o rosto do galé aquoso ultrapasse esse dia,
Pra ser represado e bebido pelas outras areias
Das praias adiante, que também dominam, aprisionam e mandam
A trágica sina do rolo das águas, e dirigem
O leito impassível da injustiça e da impiedade.
Ondas, a multidão, o rebanho, o rio, meu rio, um rio
Que sobe! Fervilha e sobe! E se adentra fatalizado, e em vez
De ir se alastrar arejado nas liberdades oceânicas,
Em vez se adentra pela terra escura e ávida dos homens,
Dando sangue e vida a beber. E a massa líquida
Da multidão onde tudo se esmigalha e se iguala,
Rola pesada e oliosa, e rola num rumor surdo,
E rola mansa, amansada imensa eterna, mas
No eterno imenso rígido canal da estulta dor.
Porque os homens não me escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que não me escutam
Os plutocratas e todos os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao coro das quatro estações.
Pois que mais uma vez eu me aniquilo sem reserva,
E me estilhaço nas fagulhas eternamente esquecidas,
E me salvo no eternamente esquecido fogo de amor...
Eu estalo de amor e sou só amor arrebatado
Ao fogo irrefletido do amor.
...eu já amei sozinho comigo; eu já cultivei também
O amor do amor, Maria!
E a carne plena da amante, e o susto vário
Da amiga, e a inconfidência do amigo... Eu já amei
Contigo, Irmão Pequeno, no exílio da preguiça elevada, escolhido
Pelas águas do túrbido rio do Amazonas, meu outro sinal.
E também, ôh também! na mais impávida glória
Descobridora da minha inconstância e aventura,
Desque me fiz poeta e fui trezentos, eu amei
Todos os homens, odiei a guerra, salvei a paz!
E eu não sabia! eu bailo de ignorâncias inventivas,
E a minha sabedoria vem das fontes que eu não sei!
Quem move meu braço? quem beija por minha boca?
Quem sofre e se gasta pelo meu renascido coração?
Quem? sinão o incêndio nascituro do amor?...
Eu me sinto grimpado no arco da Ponte das Bandeiras,
Bardo mestiço, e o meu verso vence a corda
Da caninana sagrada, e afina com os ventos dos ares, e enrouquece
Úmido nas espumas da água do meu rio,
E se espatifa nas dedilhações brutas do incorpóreo Amor.
Por que os donos da vida não me escutam?
Eu só sei que eu não sei por mim! sabem por mim as fontes
Da água, e eu bailo de ignorâncias inventivas.
Meu baile é solto como a dor que range, meu
Baile é tão vário que possui mil sambas insonhados!
Eu converteria o humano crime num baile mais denso
Que estas ondas negras de água pesada e oliosa,
Porque os meus gestos e os meus ritmos nascem
Do incêndio puro do amor... Repetição. Primeira voz sabida, o Verbo.
Primeiro troco. Primeiro dinheiro vendido. Repetição logo ignorada.
Como é possível que o amor se mostre impotente assim
Ante o ouro pelo qual o sacrificam os homens,
Trocando a primavera que brinca na face das terras
Pelo outro tesouro que dorme no fundo baboso do rio!
É noite! é noite!... E tudo é noite! E os meus olhos são noite!
Eu não enxergo siquer as barcaças na noite.
Só a enorme cidade. E a cidade me chama e pulveriza,
E me disfarça numa queixa flébil e comedida,
Onde irei encontrar a malícia do Boi Paciência
Redivivo. Flor. Meu suspiro ferido se agarra,
Não quer sair, enche o peito de ardência ardilosa,
Abre o olhar, e o meu olhar procura, flor, um tilintar
Nos ares, nas luzes longe, no peito das águas,
No reflexo baixo das nuvens.
São formas... Formas que fogem, formas
Indivisas, se atropelando, um tilintar de formas fugidias
Que mal se abrem, flor, se fecham, flor, flor, informes inacessíveis,
Na noite. E tudo é noite. Rio, o que eu posso fazer!...
Rio, meu rio... mas porém há-de haver com certeza
Outra vida melhor do outro lado de lá
Da serra! E hei-de guardar silêncio
Deste amor mais perfeito do que os homens?...
Estou pequeno, inútil, bicho da terra, derrotado.
No entanto eu sou maior... Eu sinto uma grandeza infatigável!
Eu sou maior que os vermes e todos os animais.
E todos os vegetais. E os vulcões vivos e os oceanos,
Maior... Maior que a multidão do rio acorrentado,
Maior que a estrela, maior que os adjetivos,
Sou homem! vencedor das mortes, bem nascido além dos dias,
Transfigurado além das profecias!
Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
Que sobe e se espraia, levando as auroras represadas
Para o peito dos sofrimentos dos homens.
... e tudo é noite. Sob o arco admirável
Da Ponte das Bandeiras, morta, dissoluta, fraca,
Uma lágrima apenas, uma lágrima,
Eu sigo alga escusa nas águas do meu Tietê.

Onde me queres levar?
- Rio que entras pela terra
E que me afastas do mar...
É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
É noite e tudo é noite. Uma ronda de sombras,
Soturnas sombras, enchem de noite de tão vasta
O peito do rio, que é como si a noite fosse água,
Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto. De repente
O ólio das águas recolhe em cheio luzes trêmulas,
É um susto. E num momento o rio
Esplende em luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas,
Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam
Agora, arranha-céus valentes donde saltam
Os bichos blau e os punidores gatos verdes,
Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas,
Luzes e glória. É a cidade... É a emaranhada forma
Humana corrupta da vida que muge e se aplaude.
E se aclama e se falsifica e se esconde. E deslumbra.
Mas é um momento só. Logo o rio escurece de novo,
Está negro. As águas oliosas e pesadas se aplacam
Num gemido. Flor. Tristeza que timbra um caminho de morte.
É noite. E tudo é noite. E o meu coração devastado
É um rumor de germes insalubres pela noite insone e humana.
Meu rio, meu Tietê, onde me levas?
Sarcástico rio que contradizes o curso das águas
E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens,
Onde me queres levar?...
Por que me proíbes assim praias e mar, por que
Me impedes a fama das tempestades do Atlântico
E os lindos versos que falam em partir e nunca mais voltar?
Rio que fazes terra, húmus da terra, bicho da terra,
Me induzindo com a tua insistência turrona paulista
Para as tempestades humanas da vida, rio, meu rio!...
Já nada me amarga mais a recusa da vitória
Do indivíduo, e de me sentir feliz em mim.
Eu mesmo desisti dessa felicidade deslumbrante,
E fui por tuas águas levado,
A me reconciliar com a dor humana pertinaz,
E a me purificar no barro dos sofrimentos dos homens.
Eu que decido. E eu mesmo me reconstituí árduo na dor
Por minhas mãos, por minhas desvividas mãos, por
Estas minhas próprias mãos que me traem,
Me desgastaram e me dispersaram por todos os descaminhos,
Fazendo de mim uma trama onde a aranha insaciada
Se perdeu em cisco e polem, cadáveres e verdades e ilusões.
Mas porém, rio, meu rio, de cujas águas eu nasci,
Eu nem tenho direito mais de ser melancólico e frágil,
Nem de me estrelar nas volúpias inúteis da lágrima!
Eu me reverto às tuas águas espessas de infâmias,
Oliosas, eu, voluntariamente, sofregamente, sujado
De infâmias, egoísmos e traições. E as minhas vozes,
Perdidas do seu tenor, rosnam pesadas e oliosas,
Varando terra adentro no espanto dos mil futuros,
À espera angustiada do ponto. Não do meu ponto final!
Eu desisiti! Mas do ponto entre as águas e a noite,
Daquele ponto leal à terrestre pergunta do homem,
De que o homem há de nascer.
Eu vejo; não é por mim, o meu verso tomando
As cordas oscilantes da serpente, rio.
Toda a graça, todo o prazer da vida se acabou.
Nas tuas águas eu contemplo o Boi Paciência
Se afogando, que o peito das águas tudo soverteu.
Contágios, tradições, brancuras e notícias,
Mudo, esquivo, dentro da noite, o peito das águas,
fechado, mudo,
Mudo e vivo, no despeito estrídulo que me fustiga e devora.
Destino, predestinações... meu destino. Estas águas
Do meu Tietê são abjetas e barrentas,
Dão febre, dão morte decerto, e dão garças e antíteses.
Nem as ondas das suas praias cantam, e no fundo
Das manhãs elas dão gargalhadas frenéticas,
Silvos de tocaias e lamurientos jacarés.
Isto não são águas que se beba, conhecido, isto são
Águas do vício da terra. Os jabirus e os socós
Gargalham depois morrem. E as antas e os bandeirantes e os ingás,
Depois morrem. Sobra não. Nem siquer o Boi Paciência
Se muda não. Vai tudo ficar na mesma, mas vai!... e os corpos
Podres envenenam estas águas completas no bem e no mal.
Isto não são águas que se beba, conhecido! Estas águas
São malditas e dão morte, eu descobri! e é por isso
Que elas se afastam dos oceanos e induzem à terra dos homens,
Paspalhonas. Isto não são água que se beba, eu descobri!
E o meu peito das águas se esborrifa, ventarrão vem, se encapela
Engruvinhado de dor que não se suporta mais.
Me sinto o pai Tietê! ôh força dos meus sovacos!
Cio de amor que me impede, que destrói e fecunda!
Nordeste de impaciente amor sem metáforas,
Que se horroriza e enraivece de sentir-se
Demagogicamente tão sozinho! Ô força!
Incêndio de amor estrondante, enchente magnânima que me inunda,
Me alarma e me destroça, inerme por sentir-me
Demagogicamente tão só!
A culpa é tua, Pai Tietê? A culpa é tua
Si as tuas águas estão podres de fel
E majestade falsa? A culpa é tua
Onde estão os amigos? Onde estão os inimigos?
Onde estão os pardais? e os teus estudiosos e sábios, e
Os iletrados?
Onde o teu povo? e as mulheres! dona Hircenuhdis Quiroga!
E os Prados e os crespos e os pratos e
os barbas e os gatos e os línguas
Do Instituto Histórico e Geográfico, e os museus e a Cúria,
e os senhores chantres reverendíssimos,
Celso niil estate varíolas gide memoriam,
Calípedes flogísticos e a Confraria Brasiliense e Clima
E os jornalistas e os trustkistas e a Light e as
Novas ruas abertas e a falta de habitações e
Os mercados?... E a tiradeira divina de Cristo!...
Tu és Demagogia. A própria vida abstrata tem vergonha
De ti em tua ambição fumarenta.
És demagogia em teu coração insubmisso.
És demagogia em teu desequilíbrio anticéptico
E antiuniversitário.
És demagogia. Pura demagogia.
Demagogia pura. Mesmo alimpada de metáforas.
Mesmo irrespirável de furor na fala reles:
Demagogia.
Tu és enquanto tudo é eternidade e malvasia:
Demagogia.
Tu és em meio à (crase) gente pia:
Demagogia.
És tu jocoso enquanto o ato gratuito se esvazia:
Demagogia.
És demagogia, ninguém chegue perto!
Nem Alberto, nem Adalberto nem Dagoberto
Esperto Ciumento Peripatético e Ceci
E Tancredo e Afrodísio e também Armida
E o próprio Pedro e também Alcibíades,
Ninguém te chegue perto, porque tenhamos o pudor,
O pudor do pudor, sejamos verticais e sutis, bem
Sutis!... E as tuas mãos se emaranham lerdas,
E o Pai Tietê se vai num suspiro educado e sereno,
Porque és demagogia e tudo é demagogia.
Olha os peixes, demagogo incivil! Repete os carcomidos peixes!
São eles que empurram as águas e as fazem servir de alimento
Às areias gordas da margem. Olha o peixe dourado sonoro,
Esse é um presidente, mantém faixa de crachá no peito,
Acirculado de tubarões que escondendo na fuça rotunda
O perrepismo dos dentes, se revezam na rota solene
Languidamente presidenciais. Ei-vem o tubarão-martelo
E o lambari-spitfire. Ei-vem o boto-ministro.
Ei-vem o peixe-boi com as mil mamicas imprudentes,
Perturbado pelos golfinhos saltitantes e as tabaranas
Em zás-trás dos guapos Pêdêcê e Guaporés.
Eis o peixe-baleia entre os peixes muçuns lineares,
E os bagres do lodo oliva e bilhões de peixins japoneses;
Mas és asnático o peixe-baleia e vai logo encalhar na margem,
Pois quis engolir a própria margem, confundido pela facheada,
Peixes aos mil e mil, como se diz, brincabrincando
De dirigir a corrente com ares de salva-vidas.
E lá vem por debaixo e por de-banda os interrogativos peixes
Internacionais, uns rubicundos sustentados de mosca,
E os espadartes a trote chique, esses são espadartes! e as duas
Semanas Santas se insultam e odeiam, na lufa-lufa de ganhar
No bicho o corpo do crucificado. Mas as águas,
As águas choram baixas num murmúrio lívido, e se difundem
Tecidas de peixe e abandono, na mais incompetente solidão.
Vamos, Demagogia! eia! sus! aceita o ventre e investe!
Berra de amor humano impenitente,
Cega, sem lágrimas, ignara, colérica, investe!
Um dia hás de ter razão contra a ciência e a realidade,
E contra os fariseus e as lontras luzidias.
E contra os guarás e os elogiados. E contra todos os peixes.
E também os mariscos, as ostras e os trairões fartos de equilíbrio e
Pundhonor.
Pum d'honor.
Qué-de as Juvenilidades Auriverdes!
Eu tenho medo... Meu coração está pequeno, é tanta
Essa demagogia, é tamanha,
Que eu tenho medo de abraçar os inimigos,
Em busca apenas dum sabor,
Em busca dum olhar,
Um sabor, um olhar, uma certeza...
É noite... Rio! meu rio! meu Tietê!
É noite muito!... As formas... Eu busco em vão as formas
Que me ancorem num porto seguro na terra dos homens.
É noite e tudo é noite. O rio tristemente
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
Água noturna, noite líquida... Augúrios mornos afogam
As altas torres do meu exausto coração.
Me sinto esvair no apagado murmulho das águas
Meu pensamento quer pensar, flor, meu peito
Quereria sofrer, talvez (sem metáforas) uma dor irritada...
Mas tudo se desfaz num choro de agonia
Plácida. Não tem formas nessa noite, e o rio
Recolhe mais esta luz, vibra, reflete, se aclara, refulge,
E me larga desarmado nos transes da enorme cidade.
Si todos esses dinossauros imponentes de luxo e diamante,
Vorazes de genealogia e de arcanos,
Quisessem reconquistar o passado...
Eu me vejo sozinho, arrastando sem músculo
A cauda do pavão e mil olhos de séculos,
Sobretudo os vinte séculos de anticristianismo
Da por todos chamada Civilização Cristã...
Olhos que me intrigam, olhos que me denunciam,
Da cauda do pavão, tão pesada e ilusória.
Não posso continuar mais, não tenho, porque os homens
Não querem me ajudar no meu caminho.
Então a cauda se abriria orgulhosa e reflorescente
De luzes inimagináveis e certezas...
Eu não seria tão-somente o peso deste meu desconsolo,
A lepra do meu castigo queimando nesta epiderme
Que encurta, me encerra e me inutiliza na noite,
Me revertendo minúsculo à advertência do meu rio.
Escuto o rio. Assunto estes balouços em que o rio
Murmura num banzeiro. E contemplo
Como apenas se movimenta escravizada a torrente,
E rola a multidão. Cada onda que abrolha
E se mistura no rolar fatigado é uma dor. E o surto
Mirim dum crime impune.
Vêm de trás o estirão. É tão soluçante e tão longo,
E lá na curva do rio vêm outros estirões e mais outros,
E lá na frente são outros, todos soluçantes e presos
Por curvas que serão sempre apenas as curvas do rio.
Há de todos os assombros, de todas as purezas e martírios
Nesse rolo torvo das águas. Meu Deus! meu
Rio! como é possível a torpeza da enchente dos homens!
Quem pode compreender o escravo macho
E multimilenar que escorre e sofre, e mandado escorre
Entre injustiça e impiedade, estreitado
Nas margens e nas areias das praias sequiosas?
Elas bebem e bebem. Não se fartam, deixando com desespero
Que o rosto do galé aquoso ultrapasse esse dia,
Pra ser represado e bebido pelas outras areias
Das praias adiante, que também dominam, aprisionam e mandam
A trágica sina do rolo das águas, e dirigem
O leito impassível da injustiça e da impiedade.
Ondas, a multidão, o rebanho, o rio, meu rio, um rio
Que sobe! Fervilha e sobe! E se adentra fatalizado, e em vez
De ir se alastrar arejado nas liberdades oceânicas,
Em vez se adentra pela terra escura e ávida dos homens,
Dando sangue e vida a beber. E a massa líquida
Da multidão onde tudo se esmigalha e se iguala,
Rola pesada e oliosa, e rola num rumor surdo,
E rola mansa, amansada imensa eterna, mas
No eterno imenso rígido canal da estulta dor.
Porque os homens não me escutam! Por que os governadores
Não me escutam? Por que não me escutam
Os plutocratas e todos os que são chefes e são fezes?
Todos os donos da vida?
Eu lhes daria o impossível e lhes daria o segredo,
Eu lhes dava tudo aquilo que fica pra cá do grito
Metálico dos números, e tudo
O que está além da insinuação cruenta da posse.
E si acaso eles protestassem, que não! que não desejam
A borboleta translúcida da humana vida, porque preferem
O retrato a ólio das inaugurações espontâneas,
Com béstias de operário e do oficial, imediatamente inferior.
E palminhas, e mais os sorrisos das máscaras e a profunda comoção,
Pois não! Melhor que isso eu lhes dava uma felicidade deslumbrante
De que eu consegui me despojar porque tudo sacrifiquei.
Sejamos generosíssimos. E enquanto os chefes e as fezes
De mamadeira ficassem na creche de laca e lacinhos,
Ingênuos brincando de felicidade deslumbrante:
Nós nos iríamos de camisa aberta ao peito,
Descendo verdadeiros ao léu da corrente do rio,
Entrando na terra dos homens ao coro das quatro estações.
Pois que mais uma vez eu me aniquilo sem reserva,
E me estilhaço nas fagulhas eternamente esquecidas,
E me salvo no eternamente esquecido fogo de amor...
Eu estalo de amor e sou só amor arrebatado
Ao fogo irrefletido do amor.
...eu já amei sozinho comigo; eu já cultivei também
O amor do amor, Maria!
E a carne plena da amante, e o susto vário
Da amiga, e a inconfidência do amigo... Eu já amei
Contigo, Irmão Pequeno, no exílio da preguiça elevada, escolhido
Pelas águas do túrbido rio do Amazonas, meu outro sinal.
E também, ôh também! na mais impávida glória
Descobridora da minha inconstância e aventura,
Desque me fiz poeta e fui trezentos, eu amei
Todos os homens, odiei a guerra, salvei a paz!
E eu não sabia! eu bailo de ignorâncias inventivas,
E a minha sabedoria vem das fontes que eu não sei!
Quem move meu braço? quem beija por minha boca?
Quem sofre e se gasta pelo meu renascido coração?
Quem? sinão o incêndio nascituro do amor?...
Eu me sinto grimpado no arco da Ponte das Bandeiras,
Bardo mestiço, e o meu verso vence a corda
Da caninana sagrada, e afina com os ventos dos ares, e enrouquece
Úmido nas espumas da água do meu rio,
E se espatifa nas dedilhações brutas do incorpóreo Amor.
Por que os donos da vida não me escutam?
Eu só sei que eu não sei por mim! sabem por mim as fontes
Da água, e eu bailo de ignorâncias inventivas.
Meu baile é solto como a dor que range, meu
Baile é tão vário que possui mil sambas insonhados!
Eu converteria o humano crime num baile mais denso
Que estas ondas negras de água pesada e oliosa,
Porque os meus gestos e os meus ritmos nascem
Do incêndio puro do amor... Repetição. Primeira voz sabida, o Verbo.
Primeiro troco. Primeiro dinheiro vendido. Repetição logo ignorada.
Como é possível que o amor se mostre impotente assim
Ante o ouro pelo qual o sacrificam os homens,
Trocando a primavera que brinca na face das terras
Pelo outro tesouro que dorme no fundo baboso do rio!
É noite! é noite!... E tudo é noite! E os meus olhos são noite!
Eu não enxergo siquer as barcaças na noite.
Só a enorme cidade. E a cidade me chama e pulveriza,
E me disfarça numa queixa flébil e comedida,
Onde irei encontrar a malícia do Boi Paciência
Redivivo. Flor. Meu suspiro ferido se agarra,
Não quer sair, enche o peito de ardência ardilosa,
Abre o olhar, e o meu olhar procura, flor, um tilintar
Nos ares, nas luzes longe, no peito das águas,
No reflexo baixo das nuvens.
São formas... Formas que fogem, formas
Indivisas, se atropelando, um tilintar de formas fugidias
Que mal se abrem, flor, se fecham, flor, flor, informes inacessíveis,
Na noite. E tudo é noite. Rio, o que eu posso fazer!...
Rio, meu rio... mas porém há-de haver com certeza
Outra vida melhor do outro lado de lá
Da serra! E hei-de guardar silêncio
Deste amor mais perfeito do que os homens?...
Estou pequeno, inútil, bicho da terra, derrotado.
No entanto eu sou maior... Eu sinto uma grandeza infatigável!
Eu sou maior que os vermes e todos os animais.
E todos os vegetais. E os vulcões vivos e os oceanos,
Maior... Maior que a multidão do rio acorrentado,
Maior que a estrela, maior que os adjetivos,
Sou homem! vencedor das mortes, bem nascido além dos dias,
Transfigurado além das profecias!
Eu recuso a paciência, o boi morreu, eu recuso a esperança.
Eu me acho tão cansado em meu furor.
As águas apenas murmuram hostis, água vil mas turrona paulista
Que sobe e se espraia, levando as auroras represadas
Para o peito dos sofrimentos dos homens.
... e tudo é noite. Sob o arco admirável
Da Ponte das Bandeiras, morta, dissoluta, fraca,
Uma lágrima apenas, uma lágrima,
Eu sigo alga escusa nas águas do meu Tietê.
são paulo porvir
São Paulo, se desarma de teus rótulos
e vem passear com a gente.
Desaperta a gravata, tira os óculos,
vamos brincar de Clark Kent!
Cultivar poderes de super-homens
na cidade que nunca dorme,
plantar no coração do povo
a alegria do novo.
São Paulo, não precisa ser bandeirante,
apenas mais tolerante.
Ninguém te obriga locomotiva,
um tantinho só mais emotiva.
São Paulo, não carecia tanta pujança,
um matiz de esperança que fosse.
Depois,
dorme
pela cantoria da Cantareira
e as promessas da Serra do Mar
aconchegada,
e sonha com o porvir.
real grandeza
Em São Paulo, a moça de Mineiros, Goiás,
vende seus deliciosos acarajés
toda paramentada de baiana
nos arredores da Catedral da Sé.
vende seus deliciosos acarajés
toda paramentada de baiana
nos arredores da Catedral da Sé.
Foi lá
que seu namorado, o Ceará,
a conheceu.
que seu namorado, o Ceará,
a conheceu.
Ele comercializa relógios,
DVDs, cigarros e isqueiros,
e também miniaturas do Cristo Redentor
em sua barraca de camelô
feitas na China especialmente
para turistas apressados a negócios
sem tempo para o Rio de Janeiro.
DVDs, cigarros e isqueiros,
e também miniaturas do Cristo Redentor
em sua barraca de camelô
feitas na China especialmente
para turistas apressados a negócios
sem tempo para o Rio de Janeiro.
Se Deus quiser, o casamento sai pro ano,
estão juntando algum pra não haver desengano.
O barraco é uma beleza,
fica na Rua Real Grandeza,
na Vila Brasilandia.
estão juntando algum pra não haver desengano.
O barraco é uma beleza,
fica na Rua Real Grandeza,
na Vila Brasilandia.
Vão ter três filhos
e vão ser muito felizes,
o mais velho vai trabalhar
na fábrica de motores,
a mais nova vai limpar
casa de doutores.
e vão ser muito felizes,
o mais velho vai trabalhar
na fábrica de motores,
a mais nova vai limpar
casa de doutores.
E no dia 12 de outubro
a família toda vai a Aparecida
agradecer a graça alcançada:
a mais nova tinha ido morar fora
e foi dada por desaparecida.
a família toda vai a Aparecida
agradecer a graça alcançada:
a mais nova tinha ido morar fora
e foi dada por desaparecida.
Mas hoje a família comemora,
foi encontrada e libertada
de triste patranha
em que caíra na Espanha.
foi encontrada e libertada
de triste patranha
em que caíra na Espanha.
É família de fibra,
- vivas a esta tal polícia Interpol!
está de volta a menina que sumiu!
A família vibra como um gol,
como um gol,
como um gol do Brasil!
- vivas a esta tal polícia Interpol!
está de volta a menina que sumiu!
A família vibra como um gol,
como um gol,
como um gol do Brasil!
são paulo que não tem cristo que nos abrace

São Paulo que não tem cristo que nos abrace
São Paulo mato-grosso sem cachorro
capão redondamente grávido
de esperança
São Paulo que não tem farol na barra que nos ilumine
São Paulo de cara virada com todos os santos
São Paulo sem belo-horizonte
Pernambuco sem mar
Amazonas sem Yara
São Paulo brasilândia bem mexida
batida
remoída
regurgitada
São Paulo sem lei
São Paulo meu rei
sem brilho
sem diamantina
São Paulo bijuteria
São Paulo filho
de pai jesuíta
e mãe desconhecida
batendo calçada
na vida
São Paulo menino mal educado
no pátio do colégio de castigo
atrás da porta
ajoelhado no milho!
reciclicidade

imagem: globo.com
Reciclicidade do lixo, disso, daquilo, daculoutro.
Reciclicidade da inversão térmica, da invenção férvica, da intervenção cirurgicamente inviável.
São Paulo não cabe na métrica,
Ca ótica cega,
São Paulo não sabe a gramática,
É anafilática - digo, analfabética.
são paulos

São Paulos, são joãos e Josés
São Marias, são Claras e das Dores
São cidades armadas de concreto e aço
Nas vilas Marianas, Santanas, Moemas
São cidades-colagem de aglomerado e papelão
Sob as pontes das marginais
Automóveis de mil cavalos
Carroças movidas a gente
São Paulo esparramada subindo a Cantareira
Descendo até o mar
São Paulo amontoada subindo até o céu
E sob o metrô da Sé
Uma estação secreta para o inferno
Cidade que já morreu
E outra que ainda nem nasceu
São Paulos que eu amo
Todos os dias depois
De jurar eterno ódio
Seus homens de terno no asfalto ao verão
Mendigos ao relento nas madrugadas de inverno
As morenas da zona norte
As madames da zona sul
Orgulho na zona leste
Guaranis na zona oeste
Zona, zona, zona e esperança
Esperança, esperança, esperança e espelunca
Locomotiva desgovernada do Brasil
Porta do mundo, cidades mil
São Paulo tem mil cantos
São Paulo tem professor de esperanto
Se você quer falar javanês, vá a São Paulo
Se você quer falar cantão, vá a São Paulo
Se você quer falar baianês, vá a São Paulo
Se você quer falar ao coração, vá a São Paulo
Do Jaraguá tem vista
Para a Paulista
Na Paulista
Ninguém enxerga ninguém
Buzinas e mundo cão
Subindo e descendo a Consolação
Eu me perco na multidão
Mas lá no fundo um cocoricó, um Rincão
Eu nunca me sinto só
Na matriz da Freguesia do Ó
São Marias, são Claras e das Dores
São cidades armadas de concreto e aço
Nas vilas Marianas, Santanas, Moemas
São cidades-colagem de aglomerado e papelão
Sob as pontes das marginais
Automóveis de mil cavalos
Carroças movidas a gente
São Paulo esparramada subindo a Cantareira
Descendo até o mar
São Paulo amontoada subindo até o céu
E sob o metrô da Sé
Uma estação secreta para o inferno
Cidade que já morreu
E outra que ainda nem nasceu
São Paulos que eu amo
Todos os dias depois
De jurar eterno ódio
Seus homens de terno no asfalto ao verão
Mendigos ao relento nas madrugadas de inverno
As morenas da zona norte
As madames da zona sul
Orgulho na zona leste
Guaranis na zona oeste
Zona, zona, zona e esperança
Esperança, esperança, esperança e espelunca
Locomotiva desgovernada do Brasil
Porta do mundo, cidades mil
São Paulo tem mil cantos
São Paulo tem professor de esperanto
Se você quer falar javanês, vá a São Paulo
Se você quer falar cantão, vá a São Paulo
Se você quer falar baianês, vá a São Paulo
Se você quer falar ao coração, vá a São Paulo
Do Jaraguá tem vista
Para a Paulista
Na Paulista
Ninguém enxerga ninguém
Buzinas e mundo cão
Subindo e descendo a Consolação
Eu me perco na multidão
Mas lá no fundo um cocoricó, um Rincão
Eu nunca me sinto só
Na matriz da Freguesia do Ó
memórias de um jovem rockeiro - 4 - fábrica do som

Mais ou menos entre 1981 e 1984, anos em que cursei o colegial no Pereira Barreto, na Lapa, bem pertinho dali, o Sesc Pompéia fervia com as gravações do programa A Fábrica do Som, para a TV Cultura.
A gravação acontecia nas terças à noite. Juntávamos um grupo de amigos na porta do colégio e partíamos em caravana.
Curiosamente o Sesc e meu colégio ficavam, cada em um bairro, cada um em um extremo da mesma Rua Clélia.
A Fábrica do Som foi um daqueles eventos que nunca mais se repetirão, um daqueles acontecimentos que, por sorte ou destino, sintoniza o lugar certo, o tempo certo, o material humano certo.
O lugar certo era o Sesc, recém-inaugurado, arquitetura inovadora de Lina Bo Bardi, no bairro-berço do rock brasileiro.
O tempo eram os 80 e suas radicalizações na moda, nas artes, na cultura.
O material humano, público e artistas que cresceram à sombra dos anos 70 e “precisavam” mostrar ao mundo a que tinham vindo.
Sede + sede + sede.
Pelo palco da Fábrica passaram artistas consagrados e que viriam a se consagrar, Itamar Assumpção, Arrigo, Cida Moreira, Premê, Ira, Ultraje a Rigos, Barão Vermelho (ainda com Cazuza) etc etc etc e mais que tais.
Na Fábrica do Som vi (e me lembro bem!) Raul Seixas no palco. Visivelmente “alterado”, o pai do rock tocou apenas 2 ou 3 músicas, tudo em playback, e ainda por cima uma delas foi Plunct Plact Zum... (O Carimbador Maluco). Decepção total.
Melhor memória guardo de Aguilar e a Banda Performática. O artista plástico José Roberto Aguilar na época tinha uma banda nota 11 e tocava rock de primeira! (Dois ou três anos depois, fazendo pesquisa mercadológica no bairro do Bexiga, por duas vezes cruzei o caminho de Aguilar.
Um dia, completamente na sorte, bati na porta de seu ateliê para fazer minha pesquisa - sobre sabão em pó! Ele estava no meio da confecção de um daqueles seus grandes painéis coloridos, me convidou pra entrar, dei de cara com a tela e só então reconheci Aguilar. A visão daquela grande tela, ainda semipronta, me emociona até hoje.
Dois ou três dias antes ou depois, finalizando a mesma pesquisa, viajei pelas ruas do bairro ao som do ensaio da Banda Performática. O ensaio acontecia na garagem de um edifício nas proximidades de seu ateliê. O edifício ficava em uma rua alta, e som se propagava por todo o “vale” do Bexiga.
Voltando ao Fábrica, me lembro de um rapaz que se apresentou dentro de uma banheira, com um chuveiro ligado e tudo. Além da criatividade cênica, mandava bem no som. Saiu aplaudidíssimo.
Ah, como diria Gonçalves Dias, noites que não voltam mais! E como cantavam aqueles sabiás!
são paulo é terra de rock
São Paulo, terra fértil,
em se batucandotudo dá:
São Paulo dá samba, dá jazz,
até lambada, veja você, São Paulo dá.
Mas São Paulo é terra de rock.
Assim como ninguém vai ao Rio para ver Ana Júlia
ficar ligeiramente grávida
graças ao bilau do ursinho blau-blau,
Ninguém há de vir a São Paulo
para ouvir pagoeiro mauricinho chorar
a chifrada da namorada amada.
São Paulo é terra de rock
São Paulo é mais londrina do que Londrina
São Paulo é mais londrina do que Londres ao longe!
Se eles têm Lennon e MaCcartney
nós temos Mutantes,
Se eles têm Sex Pistolsnós temos As Mercenárias
que são mais machas
que Sid Vicious e Mick Jagger juntos.
Vinicíus entendia do riscado
desde que aquele das onze partiu lotado
não chegou mais trem algum
na plataforma da Ipiranga com a São João.
Isto aqui é o túmulo,
é o cúmulo do samba!
E daí?
Não somos menos brasileiros por isso,
o Brasil é verde-amarelo-preto,
o Brasil é sobretudo cinza,*
é pandeiro, é maracatu, é punk!
O brasileiro é genial
Porque o Brasil é maior que o carnaval,
Porque samba é sole rock é garoa,
Porque samba é malandroe rock é urgente,
Porque o samba é praiae o rock é Marginal.
Dizem que o próprio Adoniram,
depois de tanto levar flechada do teu olhar,
encontrou a pazao tirar
aquele som dos Titãs.
* (São Paulo é o Brasil de sobretudo cinza,
Como bem traduziu o Ira:
"Nas ruas é que me sinto bem,
Visto o meu capote e está tudo bem
Está tudo bem")
em se batucandotudo dá:
São Paulo dá samba, dá jazz,
até lambada, veja você, São Paulo dá.
Mas São Paulo é terra de rock.
Assim como ninguém vai ao Rio para ver Ana Júlia
ficar ligeiramente grávida
graças ao bilau do ursinho blau-blau,
Ninguém há de vir a São Paulo
para ouvir pagoeiro mauricinho chorar
a chifrada da namorada amada.
São Paulo é terra de rock
São Paulo é mais londrina do que Londrina
São Paulo é mais londrina do que Londres ao longe!
Se eles têm Lennon e MaCcartney
nós temos Mutantes,
Se eles têm Sex Pistolsnós temos As Mercenárias
que são mais machas
que Sid Vicious e Mick Jagger juntos.
Vinicíus entendia do riscado
desde que aquele das onze partiu lotado
não chegou mais trem algum
na plataforma da Ipiranga com a São João.
Isto aqui é o túmulo,
é o cúmulo do samba!
E daí?
Não somos menos brasileiros por isso,
o Brasil é verde-amarelo-preto,
o Brasil é sobretudo cinza,*
é pandeiro, é maracatu, é punk!
O brasileiro é genial
Porque o Brasil é maior que o carnaval,
Porque samba é sole rock é garoa,
Porque samba é malandroe rock é urgente,
Porque o samba é praiae o rock é Marginal.
Dizem que o próprio Adoniram,
depois de tanto levar flechada do teu olhar,
encontrou a pazao tirar
aquele som dos Titãs.
* (São Paulo é o Brasil de sobretudo cinza,
Como bem traduziu o Ira:
"Nas ruas é que me sinto bem,
Visto o meu capote e está tudo bem
Está tudo bem")
Vai ver ou vir?
Ei, olhe para mim
e imagine então como seria
passear pelos bosques da periferia,
desfilar nas passarelas que relam a rodovia
ou então voar pela avenida pendurado numa pipa
que mais parece um paraquedas, sustentando ideias velhas
quase sempre com varetas muito retas, muito mais fáceis de quebrar
Ou olhe pra ele
com um pouco de medo
ou vindo quem sabe do banheiro
mais alguma das histórias pelos cotovelos
de quem certamente já teve muitas pra contar,
só não desista de continuar pelos cantos do corredor
por mais que insistam ou implorem ou te peçam por favor
Agora olhe pra trás
e lembre-se da sua cidade
do que ela te traz como saudade
ou do que na realidade sempre foi ilusão,
pois que nesta nova incursão toda ação é reação
do que se tem vontade, basta assim muita coragem
força pra seguir viagem e tino aventureiro por superação
Mas olhe pra frente
coerente que: "sente que sim"
sem de repente "sentir-se que não"
e que se seu dia "vai e vem" e vê em vão
intermitentemente vai ver ou vir numa escada
descendo e subindo as plataformas de um terminal
sem que alguém te toque de nada, sem que toque um sinal
e imagine então como seria
passear pelos bosques da periferia,
desfilar nas passarelas que relam a rodovia
ou então voar pela avenida pendurado numa pipa
que mais parece um paraquedas, sustentando ideias velhas
quase sempre com varetas muito retas, muito mais fáceis de quebrar
Ou olhe pra ele
com um pouco de medo
ou vindo quem sabe do banheiro
mais alguma das histórias pelos cotovelos
de quem certamente já teve muitas pra contar,
só não desista de continuar pelos cantos do corredor
por mais que insistam ou implorem ou te peçam por favor
Agora olhe pra trás
e lembre-se da sua cidade
do que ela te traz como saudade
ou do que na realidade sempre foi ilusão,
pois que nesta nova incursão toda ação é reação
do que se tem vontade, basta assim muita coragem
força pra seguir viagem e tino aventureiro por superação
Mas olhe pra frente
coerente que: "sente que sim"
sem de repente "sentir-se que não"
e que se seu dia "vai e vem" e vê em vão
intermitentemente vai ver ou vir numa escada
descendo e subindo as plataformas de um terminal
sem que alguém te toque de nada, sem que toque um sinal
Na via advém, mas se não vem, adivinha?
O que é o que é que:
entre erres e esses
de ruas e pedestres
homens e mulheres
não querem perder?
Tempo, tempo, tempo...
Parece com um teste,
são novatos e mestres
nativos campestres
com trajes e vestes
do mesmo porquê.
Passa tempo, passa tempo, passatempo...
E no último dia
que o ano padece
São Paulo conhece
com data de prece
o que vai pra tevê.
Há tanto tempo, há tanto tempo, há tanto tempo...
Que quando é hora de ir,
mesmo que chova canivete
só então se percebe
como são todos silvestres
quando querem correr.
Mas daí...
Falta tempo, falta tempo, falta tempo...
entre erres e esses
de ruas e pedestres
homens e mulheres
não querem perder?
Tempo, tempo, tempo...
Parece com um teste,
são novatos e mestres
nativos campestres
com trajes e vestes
do mesmo porquê.
Passa tempo, passa tempo, passatempo...
E no último dia
que o ano padece
São Paulo conhece
com data de prece
o que vai pra tevê.
Há tanto tempo, há tanto tempo, há tanto tempo...
Que quando é hora de ir,
mesmo que chova canivete
só então se percebe
como são todos silvestres
quando querem correr.
Mas daí...
Falta tempo, falta tempo, falta tempo...
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