em branco

memórias de um jovem rockeiro - 4 - fábrica do som

tela de José Roberto Aguilar


Mais ou menos entre 1981 e 1984, anos em que cursei o colegial no Pereira Barreto, na Lapa, bem pertinho dali, o Sesc Pompéia fervia com as gravações do programa A Fábrica do Som, para a TV Cultura.

A gravação acontecia nas terças à noite. Juntávamos um grupo de amigos na porta do colégio e partíamos em caravana.
Curiosamente o Sesc e meu colégio ficavam, cada em um bairro, cada um em um extremo da mesma Rua Clélia.

A Fábrica do Som foi um daqueles eventos que nunca mais se repetirão, um daqueles acontecimentos que, por sorte ou destino, sintoniza o lugar certo, o tempo certo, o material humano certo.

O lugar certo era o Sesc, recém-inaugurado, arquitetura inovadora de Lina Bo Bardi, no bairro-berço do rock brasileiro.
O tempo eram os 80 e suas radicalizações na moda, nas artes, na cultura.
O material humano, público e artistas que cresceram à sombra dos anos 70 e “precisavam” mostrar ao mundo a que tinham vindo.
Sede + sede + sede.

Pelo palco da Fábrica passaram artistas consagrados e que viriam a se consagrar, Itamar Assumpção, Arrigo, Cida Moreira, Premê, Ira, Ultraje a Rigos, Barão Vermelho (ainda com Cazuza) etc etc etc e mais que tais.

Na Fábrica do Som vi (e me lembro bem!) Raul Seixas no palco. Visivelmente “alterado”, o pai do rock tocou apenas 2 ou 3 músicas, tudo em playback, e ainda por cima uma delas foi Plunct Plact Zum... (O Carimbador Maluco). Decepção total.

Melhor memória guardo de Aguilar e a Banda Performática. O artista plástico José Roberto Aguilar na época tinha uma banda nota 11 e tocava rock de primeira! (Dois ou três anos depois, fazendo pesquisa mercadológica no bairro do Bexiga, por duas vezes cruzei o caminho de Aguilar.
Um dia, completamente na sorte, bati na porta de seu ateliê para fazer minha pesquisa - sobre sabão em pó! Ele estava no meio da confecção de um daqueles seus grandes painéis coloridos, me convidou pra entrar, dei de cara com a tela e só então reconheci Aguilar. A visão daquela grande tela, ainda semipronta, me emociona até hoje.
Dois ou três dias antes ou depois, finalizando a mesma pesquisa, viajei pelas ruas do bairro ao som do ensaio da Banda Performática. O ensaio acontecia na garagem de um edifício nas proximidades de seu ateliê. O edifício ficava em uma rua alta, e som se propagava por todo o “vale” do Bexiga.

Voltando ao Fábrica, me lembro de um rapaz que se apresentou dentro de uma banheira, com um chuveiro ligado e tudo. Além da criatividade cênica, mandava bem no som. Saiu aplaudidíssimo.

Ah, como diria Gonçalves Dias, noites que não voltam mais! E como cantavam aqueles sabiás!

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