em branco

memórias de um jovem rockeiro - 3 - festival de águas claras

Walter Franco no Festival
Imagem http://aguasclarasfestival.blogspot.com


Junho de 1983, 17 aninhos de bagagem no submundo do rock, eis que surge uma nova edição do legendário Festival de Águas Claras. Eu, que não tinha ido em 1981, juntei minha turma, os trocados da mesada e: pé na estrada!

A grande atração do Festival seria Raul Seixas. Já uma lenda do rock brasileiro, estava programado, mas atrasado... Durante os dias de festival correram boatos de que o seu carro estava encalhado em uma estrada próxima, que ele estava chegando, que a produção já tinha providenciado helicóptero, mas não teve jeito, Raulzito não apareceu... Pelo menos era essa a impressão que eu tinha até hoje, quando, para refrescar minha memoriazinha mixuruca, fui pesquisar sobre o evento... E não é que o homem foi? Mas eu não vi!!!Deve ter sido na noite de minha primeira - e única - bebedeira brava.

Nunca fui de secar garrafas, mas, nesse festival, por uma noite, bebi tudo o que aparecia na minha frente - milhares de jovens reunidos em uma fazenda nas proximidades de Bauru, em um festival que se pretendia o Woodstock brasileiro - não foi pouca coisa que apareceu na minha frente!Pinga, pinga com mel, conhaque "Presidente", vinho "Natal" e "Sangue de Boi", champanhe!, e um vinho que estava muito em moda na época: branco licoroso.

O resultado desse coquetel foi um Paulo pedindo beijo pra toda garota bonita que encontrava pelo caminho. Não sei como não apanhei de nenhum namorado ciumento! Enfim, bêbado e com esse aprouch suicida, nessa noite fui dormir sem beijo e em uma barraca que nem era a minha... Errei a porta!

Curada a bebedeira, conformado com o mistério "onde foi parar Raul?", essas são as atrações que não esqueço: Walter Franco em primeiro lugar! Suas canções vijandonas, "De dentro pra fora, de fora pra dentro", apoiadas por um time de músicos de primeira, ditaram o clima paz e amor do festival. E mais Erasmo Carlos, Premê, Língua de Trapo, Egberto Gismonti, Sá e Guarabira, e, som dos sons, minha descoberta particular, mais chapante que o cheiro de maconha reinante no ar, o tudo: João Gilberto.

E, vale o registro, eu e um amigo conhecemos Laura Finocchiaro. Tranquilamente, como se não fosse uma das atrações do festival, a cantora comia nas barracas de comida destinadas ao público. Simpática e acessível, trocamos altas idéias musicais.

E teve também, desta vez mais pertinho de casa, no Parque Antártica, Estádio do Palmeiras, o Reencontro de Águas Claras.Ainda antes do show começar, fui com dois amigos comprar guaraná. Chegando no quiosque, um dos dois pediu cerveja, eu, maria-vai-com-as-outras, entrei na onda, "cerveja também!". O terceiro amigo, por sorte, preferiu o anteriormente planejado guaraná.

Por sorte porque, como não estava com cerveja no copo, foi o único que não foi pra cela do Juízado de Menores montada ali dentro do estádio mesmo. Correu para avisar a turma que estávamos presos e, depois de muita negociação por parte de nossos amigos, o Juiz de Menores concordou em nos soltar.

Que bom!, que a noite acabou sendo ótima! Arrigo Barnabé arrebentando com os clássicos de seu inexplicavelmente sensacional álbum "Clara Crocodilo", tão importante para os anos 80 como os discos de Chico Science e a Nação Zumbi foram para os 90. Nos backing vocals as maravilhosas Vânia Bastos e Suzana Salles.

No fim da noite, quase comecinho do dia, perdidos os últimos ônibus, eu e minha turma fizemos a pé o percurso de volta à Freguesia do Ó.


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