em branco

taxista roxo

(Ferrari)

— Que trânsito, né?
— Dia de jogo é sempre assim — respondeu o taxista.

Minha mãe sequer sabia quem estava jogado, mas ficar em silêncio não era seu forte.

— O fulano de tal, hem? Que papelão!

O taxista não respondeu. Fiquei aflito. Pelo silêncio, desconfiei que o fulano fosse da família do taxista. Depois percebi que ele estava apenas distraído, ouvindo o jogo. Um taxista que concordasse sempre com o cliente era o mínimo que minha mãe esperava. Mas, pra evitar uma bola na trave, remediei:

— O senhor é corintiano?
— Já fui.

Meu Deus, um vira-casaca! Aquele era o segundo caso do gênero que conhecia em toda minha vida. O primeiro foi um amigo de infância que passou dez anos negando a mutação.

— Por que mudou de time? — perguntei.
— Foi culpa do meu pai.
— É sempre culpa dos outros! — pensei.
— É que antes de ser taxista, eu trabalhava de metalúrgico. Então, inventaram um tal de um teste de aptidão. Quem não passasse, era demitido no ato.

— E o senhor passou?
— Nem por perto.
— Então foi demitido?

— Fui sim, mas quem se chateou mesmo foi meu pai. E como eu era de menor e não podia assinar nenhum documento, ele foi receber o dinheiro da rescisão no meu lugar. Maldito dia!

— Maldito, por quê?
— Meu pai ficou com tanta raiva que bebeu todos os meus direitos em cachaça.

Minha mãe soltou uma gargalhada.

— Você ri, dona? — o taxista prosseguiu — Meu pai ficou uma semana sem trabalhar, caído de bêbado no boteco.
— E o que você fez?
— Fiquei daltônico!
— Daltônico?!
— Meu pai era corintiano roxo. Virei palmeirense!

2 comentários:

André Diaz disse...

Rsrsrsrsrs....Ferrari! Há males que vem pra bem!!

Paulo D'Auria disse...

Corintiano que vira palmeirense, tinha que ser caso de saúde!!!
Além de daltônico, louco... daloucotônico ou daltonilouco!!!

rsrsrsrs!