último pastel
tem mais mel,
um último pastel
antes de virar o mês:
quem, no tempo do carrosel,
não teve um aniversário bam-bam-bam
com guaraná, mandiopã
e pasteizinhos pastitex?
simples cidade
- Um de carne.
- Pal me too.
- Tá quente hoje, né?
- Demais.
- Meu apartamento tá um forno.
- De quarta só como pastel.
- Engraçado, nunca tinha te visto.
- Estranho mesmo, né?
- Aceita um suco?
- Tem açúcar?
- Podemos por.
- Prontinho!
- Bom esse pastel, né?
- O melhor da região.
- Sorte a gente morar perto.
- Ô se é.
- Mais um pra sobremesa?
- Hoje sim, não tô com pressa.
- Que bom, também tô livre.
- E então, já decidiram?
- Romeu e Julieta, pra viagem.
receita para político fazer pastel
Farinha peneirada,
Leite pasteurizado,
Óleo filtrado.
Para o recheio
Moa, moa, moa bem a carne
Até destruir seus nervos.
Não bote em óleo fervente,
Não leve ao forno,
Não esquente.
Sirva frio,
Murcho,
Pastel.
cena do filme "The Wall", dir. Allan Parker
feira brasil
a feira tem banana cd pirata roupa barata
vem cá neném
beijo de graça
na feira o maracatu é atômico
e a couve-flor tem gilberto gil
é o caldo de cana da feira Brasil
suado na moenda do engenho negro
moído na fazenda da terra roxa
extraído sob sol tropicall
Ó
é o caldo de mocotó da feira Brasil
o Brasil é foguete a rolimã
nanotecnologia com febre terçã
alface americana plástico chinês feirante japonês
mexerica carioca morango de atibaia
mulher melancia político tomando vaia
marquês com samba no pé
ouro no pau oco
pixaim
cafuné
caldo de cult(hip-hop)ura
no caldeirão apura
descomeço
meio propício
zona sem fim
Ó
no meio do pastel de feira
tem o vento tem o vento
sêmen da tempestarte
Tripas de Salmão
No pequeno espelho maltratado do banheiro, cujas rachaduras formam um V com pequenas pernas ou um X com grandes braços, aparando o cavanhaque ruivo, a se preparar para a saída , Laerte escutava as primeiras palavras do ventríloquo domingo, em cujas mãos revezavam-se bicicletas, moças de igreja, boêmios retardatários e andorinhas, entre tantos outros personagens. Penso que esse dia é o melhor dos ventríloquos e atua melhor pela manhã. Também penso que deveria existir o dia da nudez - mas essa pacholice escapa totalmente ao tema.
Ao adentrar a sala, que inundada pelo negro aroma do café parecia aumentar a estima daquelas empoeiradas mobílias, do quadro de seu falecido pai e do maltrapilho tapete, encontrou a mãe ardendo em febre a preparar-lhe a lista.
Um boné de vereador, dois quarteirões, quatro cumprimentos, oito minutos: chegou à feira. Principiou as compras.
Inicialmente mexericas, cuja amostra gratuíta despejou-lhe na boca a primeira refeição do dia; abacates, que em um duelo mais prolongado com seus magérrimos dedos poderiam triturá-los; e uma manga, menos pela lista que pela persuasão dos empinados seios da mulata: apalpava-nos em sua catarse; salivava até; ao estourar um deles, acabou por pagar dobrado.
Uma pausa para o pastel, cujo ar quente, oriundo da primeira brecha inaugurada pelos dentes semi-cerrados, embaçou-lhe a vista, confundindo seus olhos de jabuticaba: essa que, alertando-vos deveras, Laerte esquecerá; as bananas também.
De volta às compras,morangos, rubros como o sol que tirava de sua magreza de cana um excesso de caldo; maçãs, por sinal, as fundadoras não só da feira, como de Roma, do Capitalismo, dos Beatles, do São Paulo Futebol Clube, do Apartheid, deste conto, do Bandido da Luz Vermelha, e de tudo que surgiu e surgirá na galáxia desde o instante da mordida de Eva; e, a medida que essas frutas ganhavam companhia no carrinho de ferro, torto, com uma das rodinhas ébrias, Laerte sonhava, sem ao menos saber, algo como a possibilidade de revogar a lei da gravidade, tamanho o peso de seu carregamento; tamanha a vontade de flutuar sobre aquele enxame de oferta e procura, aquele engarrafamento de vozes, aquela gritaria de carrinhos.Finalmente o Salmão, e pode enfim retornar à pensão, na Rua Aurora, no velho centro de São Paulo.
Minutos depois, lá estava o nosso vendedor ambulante fatiando o Salmão , premeditando o almoço, quando deparou-se com o improvável: que fosse em um morro, esquina ou bar; que fosse no cartão de crédito de um amigo ou em um prato préviamente aquecido... mas ali, no ventre do peixe, encontrar o que atormentou-lhe durante vinte, de seus trinta e três anos?E da pura, por sinal. Logo ele que, se não estava viúvo, pelo menos divorciado do vício, há meia-dúzia de meses; logo ele que trocara a mulher e os três filhos pelo pó ; logo ele que, não resistindo àquela nova provação se confinará no banheiro, munido de duas garrafas de conhaque, por horas e horas; logo ele que não sabe (e nem quer saber) da ira dos traficantes que, fruto de um pequeno desentendimento, receberam o lote de peixes errado, e contabilizam, irritadiços e infernais, o prejuízo de quem não poderá comercializar tripas de Salmão.
Cidadão das nuvens
Renato Silva
'' DESCANSE EM PAZ''
olhando para o último
pastel
em minha mão
a fumacinha subindo
o cheiro adentrando
em minhas narinas
a fome
me consumindo
uma
duas
três
nervosas mordidas
e o último pedaço
a implorar
'' nãoo...''
''sou o único sobrevivente de uma raça...''
mas
sou impiedoso
quatro...
e fez-se o destino
descanse em paz
em meu intestino
amanhã navegaras no tietê...
Jr magal
'' A TERRA HÁ DE COMER''
analfabetos
e sua pobre prima,
Dona Rica Rima.
foram comer pastel na feira
e ouviram o povo
cantando o poema novo:
na berinjela de graça
mas só leva quem paga!
Gostoso? Experimenta outra vez...
Ô, uvinha docinha!
Leva tudo agora, que depois acaba!
Voltam toda semana
para seu predileto
amante analfabeto!
imagem "feirante limpando a jaca" in fuleiragem.typepad.com
2 pastel
repete tec tec
o poeta:
Poesia
não enche barriga.
Shhh-chia o pastel
no óleo fervente,
o pivete ronda,
- Tio, me vê 1 real?
1 pastel cala a fome
do pivete.
Shhh!
Cala a boca
já morreu!
2 pastel cala a fome
de toda a gente.
humor e pastéis
(Karla Jacobina)
Pastel de carne
menstruada
de queijo
barraca duvidosa
Especial
Berinjela com queijo
venenosa
Palmito
furando a dieta
Escarola
furando de novo
Camarão
Bacalhau
no brinde
p
A feira acabou,
O pastel esfriou,
O povo sumiu.
E agora, Sr. P?
E agora, você?
Pastel de vento,
Vento sem sabor,
Poesia sem calor.
Barriga vazia
Já não pode beber
Nem um caldo de cana.
Tudo acabou,
A barraca fechou,
O pastel já murchou,
E agora, Sr. P?
Nem de queijo
Nem de bauru,
Nem romeu e julieta
Nem bacalhau,
Só a fome
E a sujeira na rua.
Você marcha, Sr.P!
Sr. P, para onde?
hoje não
O silêncio, um não
o sumiço.
A desculpa no excesso
de compromisso.
Perdi sono, alegria
o sorriso.
Foi-se até a vontade, o gosto
de comer um pastel
antes do almoço.
'' A ALMA DO NEGÓCIO''
pastel de que jô
jô, me diga:
de que carne
é feita a carne
do pastel
de vento?
jô, me intriga:
por que maçã
flauta de pã
cascavel
do pensamento?
jô, mastiga!
se nada sabe
apenas lhe cabe
o papel
de isento
a menor feira do mundo
Na vila onde o menino morava, as famílias só tinham duas opções para suas compras:
1) A venda do Guerino (onde, independente de nossas mães fazerem contas - as famosas “cadernetas”, nós, os meninos, roubávamos paçoquinhas)
2) A feira da Rua Arcádia, uma feira como outra qualquer, com verduras, frutas, doces, roupas, peixes etc. (Acreditem: naquele tempo ainda não havia pastel nas feiras. Para se comer um pastel, ia-se à pastelaria. A mais perto da minha vila ficava na Lapa.)
Pois qual não foi a surpresa do velho poeta ao passar pelas ruas de sua infância e descobrir que esta feira como outra qualquer tinha entrado para o Lilipute Book of the Record’s!
Explico: com o passar dos anos, nas proximidades desta vila à beira da Marginal Tietê, vários hipermercados se instalaram, e as donas de casa trocaram o velho hábito de pechinchar na feira pelos preços sem concorrência das grandes redes.
E assim esta feira se transformou na Menor Feira do Mundo. Um caminhão apenas, uma barraca. E, creio, os mesmos velhos e habituais clientes de anos atrás.
Gente simples, que ainda acredita em mocinho e bandido, que prefere gastar seus reais nesta barraca a dar dinheiro para as grandes corporações, gente que se recusa a acreditar que o tempo passou. - Não. O que estou dizendo? Gente assim não existe mais! Este é o menino dentro do poeta!
Esta gente que vem à feira é gente muito mais inverossímil que este menino que ainda acredita que vai mudar o mundo, é gente que vem à feira apenas para comprar legumes...
...e nem liga para o fato de esta continuar sendo até hoje a única feira de São Paulo onde não há pastel de feira!
volúpia
Comer na barraca não fica bem.
Dois favoritos e um pra experimentar.
Maravilha!
Saco de papel, saco plástico
alguns guardanapos.
Com sorte rascunhos; sem sorte - lixo.
Um intruso no saco - sabor desconhecido.
Corro pra casa. No caminho, o encontro:
Família, novidades, doenças.
Sol a pino, cabeça cozida.
Saco fechado, pastéis abafados.
Livre enfim.
Aperto o passo, abro a porta, abro o saco.
Murchos, frios, molhados, cozidos.
Cheiro misturado, recheio grudado.
Já não eram pastéis, nem tortas
nem crocantes.
Quatro pra um, quatro e nenhum
que insensatez - melhor um por vez.
piscina aquecida
Sempre quis saber
como reconhecer
o pastel que mergulha
misturado com outros
lá no meio da gordura.
Então tomei coragem:
perguntei ao japonês
como fritar os pedidos
todos de uma vez.
Repare bem
preste atenção:
No cantinho há desenhos
funcionais e divertidos
marcando as diferenças
dos sabores preferidos.
Mas é só pra quem tem olhos
pra quem presta atenção.
Especiais são todos
diferentes, é claro
mas feitos conforme
o gosto de cada um.
Maçã
Maçã fez Newton descobrir gravidade.
Maçã fez Eva descobrir gravidez.
Branca-de-neve só comeu a metade.
De tão guloso eu comeria as três.
pastel de(s)ilusão
(André Dias/z?)
Pastel cheio de vento...
Sem recheio, sem nada!
Pastel de(s)ilusão...
Não mata a fome...
Mata de tristeza,
Descepção...
Cabeça pendendo
Na mesa do bar...
Muito óleo...
Enxaqueca...
Risadas à volta,
Alegria de viver...
Despreocupação...
Meio pastel no prato...
Só queria me alegrar tambem,
mas acabou em...
Dor de cabeça!
No fim... Ainda tem que pagar!
a procura do pastel perfeito
marcelo É2
em um
a procura
do pastel perfeito
deus e diabo
corredo
atrás do rabo
marcelo É2
lados
da mesma ilha
arma e armadilha
marcelo É2
por cento
comendo
pastel de vento
feira dominical
dia de folga
acordo cedo
dor de cabeça
a manhã fria
vazia
de um domingo nublado
o asfalto molhado
e meus passos
apressados
garoa na cara
nariz escorrendo
e vou correndo
descer a ladeira
atrás da recompensa
que espera lá na feira
comprar banana
um pastel de queijo
oleoso
e um caldo de cana caiana
para curar
a ressaca da noite passada...
nesseCidade
Lanche na rua sai barato - pensei.
Sem rumo, exausta pela dúvida.
Dinheiro no fim
Futuro incerto.
Na barraca de pastel,
mordo o camarão comprado a preço de banana.
Ao meu lado, mulher rude, cara dura.
O filho, franzino, devorando a única refeição do dia.
Algumas moedas ganhas no grito silencioso da dor.
Meu pastel não desce mais. Dor no peito.
Eu, que nem moedas ganharia ao longo do dia.
Ela mãe, eu nem isso.
Sigo sem norte.
Ela forte - eu, nem isso.
cinza
o pastel cinza é da cidade cinza símbolo
cinza são suas cinzas ruas cinzas
cinzas são seu moleques
cinza seu arco-íris
cinzas suas putas não,
nem seus travecos
cinzas seus bichinhos de estimação
seus times só pretos e brancos
cinzas são suas artérias
cinzas entupidas de carros cinzas
e de veneno cinza
e de cinzas senhoras
cinzas são seus tamancos
cinza são suas sardas cinzas
cinzas são os seus bancos
cinzas são os seus homens do tempo
sempre cinzas sempre tempo cinza
cinzas suas noites
cinzas são suas fumaças
cinzas das latas cinzas
de seus
excluídos
cinzas
cinzas são suas pausas
cinzas são suas praças
cinzas seu bosques
cinzas seu cantos
cinza todas as cores
cinza são suas paredes
cinza é sua farda cinza
cinza é sua farsa cinza
cinza é sua laia cinza
cinzas são seus perfeitos
cinzas são seu valores
cinsas são seus defeitos
cinza tua rima branca
os seus leitos cinzas de morte
cinza será o meu norte
pastel com 8 letras
o ingrediente
especial
do pastel
especial
tem
oito letras
não ocupa espaço
e frita
dentro da cabeça
de quem
acredita
limão
eu sou a feira
sou sacola recheada
sou limão pra limonada
limão verde
no sinal vermelho
olho no espelho
cuidado sinal abriu
cambalhota meio fio
olha o limão
não tenha medo
ó meu irmão
meu limão
não é azedo
(não)
no cruzamento
ando sobre minha cruz
encosto no poste de luz
descanso a perna fraca
é via sacra
taiti, limão galego
submundo, subemprego
olha o limão
não tenha medo
ó meu irmão
meu limão
não é azedo
(não)
uma dúzia de doze
noves fora
meia dúzia de seis
pra senhora
torre de pastel
1 Em toda a Terra, havia somente o pastel de carne, em que se empregava acém passado e moído no recheio. 2 Emigrando do Oriente (por óbvio não poderia faltar japonês na história)... Emigrando do Oriente (quem nasceu primeiro o japa ou o pastel?)... Emigrando do Oriente (o pastel, senão o japonês teria cara de que?)... Emigrando do Oriente (e prendendo todos os devaneios entre parênteses)... Agora vai... Emigrando do Oriente os pasteleiros encontraram uma planície na terra de Sampa e nela se fixaram. 3 Disseram uns para os outros: "Arigatô, konetioá, pastel de carne." Ou seja: Já que estamos perdidos, desvalidos e sentados na pica do paulista, só nos sobra beber. Após encherem a cara de garapa, um japa fez a outra coisa que japa faz além de pastel: “Japonês teve idéia! Japonês teve idéia! Japonês constrói porto seguro de pastel!”. Por óbvio não podia faltar pastel na idéia do japa. Utilizaram os pastéis em vez da pedra, e a garapa serviu-lhes de argamassa. 4 Depois disseram: “Japonês constrói torre comprida, comprida, comprida, de cimo pra lá do céu, assim, nem japonês nem pastel fica perdido em pica de paulista né?”. Não se tratava da construção do Banespa, tampouco da galeria Pajé, era a Torre de Pastel ficando em pé. 5 O SENHOR, porém, desceu, a fim de conhecer a torre, a pica e pedir um pastel pra viagem. 6 E o SENHOR disse: "Eles produzem apenas um sabor de pastel e bebem apenas garapa de garapa. 7 Vamos, pois, descer e confundir seus paladares, de forma que não consigam mais encontrar satisfação no pastel de carne nem na garapa de garapa. Em seguida, vamos dispersá-los por toda superfície da pica do paulista." 8 Então, o SENHOR apresentou-lhes o queijo, a calabresa, o bacalhau e o bacalhau com calabresa e queijo. Mas antes de dispersar os japas dali, pediu um especial com o mundo dentro e uma garapa de abacaxi.
gênese (segundo a gastronomia)
no principio
não era a faca
nem o queijo
era a porra
da fome
penetrando no domingo
recheando-o
de feiras
pasteis e bocas
estranho recheio
depois de uma noite alegre,
de conversas e cervejas,
o poeta vai saciar sua fome...
— moça me dá um pastel
— de que sabor?
— sabor de céu, tem com estrelinhas?
— hum não tem...é cada uma! (essa cara tá bêbado... só pode...)
— então me faça um pastel de sopa de letrinhas, pois, sou poeta e tenho fome...
— porraa, uma hora dessa, e demais pra mim... tenho que arrumar outro emprego!
— moça não me leve a mal, mas o poeta tem fome de letras, se tiver pastel com recheio de vogal e consoante, eu quero... coloque também, um pouco de metáforas, um pouco de parábolas ou vice e versa, um pouco de metábolas e um pouco paráforas, uma ligeira porção de substantivo, e o que tiver aí...
— meu Deus!!! estou muito velha para isso meu filho...
feira livre
nas cores da feira
a vida encandeia
no verde abacate
limão espinafre
amarelo mamão
lima-da-pérsia
vermelho tomate
caqui coração
amoraconchegante
olhar jabuticaba
tão denso de sonho
azulado sorriso
a morar indeciso
no papel da maça
pastel e garapa
entoam cântico:
tchiiiiiiiiiiiiiiiii
tátátátátátátá
sinfônico desejo
ter a fome saciada
por meio arco-íris
moça bonita não paga
Olha a manhã, freguesa
Olha a manhã, freguês
Para armar a feira
nós acordamos
antes das três
Olha a maçã, freguesa
Olha a maçã, freguês
Já foi da branca-de-neve
de Newton e pode
ser de vocês
Moça bonita não paga
Moça bonita me leva
Te dou uma maçã do amor
para comer sua maçã de Eva
Moça bonita não paga
Pega do chão e leva
Faz feira na feira do chão
comida que a outra despreza
Olha a manhã, freguesa
Olha a manhã, freguês
A lua já foi embora
O sol agora é
a bola da vez
Olha a maçã, freguesa
Olha a maçã, freguês
Pro moção e pra mocinha:
meia-dúzia
a preço de seis
Moça bonita não paga
Moça bonita me leva
Sou pobre sou trabalhador
Tenho uma Kombi amarela
Moça bonita não paga
Pega do chão e leva
Procura outra verde maçã
e um trevo que a livre das trevas.
xixi com tinta
— É hoje? — eu perguntava, todos os dias ao acordar. Uma vez a cada sete dias a resposta era afirmativa. Pra mim, além de afirmativa, era o dia do suquinho. Só de pensar, meu estômago lambia os beiços. Logo me voluntariava a carregar as sacolas pra minha mãe. Uma vez na feira, eu conversava telepaticamente com o líquido dentro da caixa de isopor, lambendo-o com a língua da imaginação. Quando finalmente passava diante da barraca do suquinho, apontava pra caixa e salivava:
— Mãeinhê! Compra?
— Credo, filho! Isso aí é xixi com tinta! — retrucava a mãeinhê.
Podia ser até veneno! Meu sonho era sentir aquele xixi gelado deslizando goela abaixo. Mas sobre a radiação seca do asfalto, a bruxa transformava o suquinho em caldo de cana. O suborno verde até que não era ruim, mas, além da cor fosca, vinha num copo sem graça e não dentro de foguetes, carros, telefones celulares, como o suquinho. Eu engolia o caldo ocre resignado.
O tempo atropelou minhas lombrigas e deixou apenas o gosto da frustração e esta história que, certo dia, contei pra um amigo. E ainda bem que contei, pois por coincidência, milagre ou misericórdia divina, não é que meu amigo encontrou o tal suquinho numa mercearia! Ele comprou um roxo, em formato de carro e foi até em casa no mesmo dia. Era um Fusca. Ainda estava gelado quando me entregou. Meus olhos ficaram mais úmidos do que minhas mãos. Numa espécie de terapia de vida passadas, me sentei no chão e comecei a morder o pára-choque do suco. Quando o plástico se rompeu, espremi todo o líquido goela abaixo, até terminar a catarse.
— E aí, gostou? — perguntou meu amigo.
— Parece xixi com tinta! — respondi satisfeito.
pastel de carne
Enterrei meus dentes...
O pastel se abriu,
Mandíbula tremeu...Fremente!
Bafo quente! Lingua sentiu!
Sentir a carne!
Desejo! Volupia! Tesão...
Morrer...Fartar-me...
Pecado...Sensação!
Vamos, dona...
Dê-me um caldo de cana!
Ao sabor da carne, se soma...
Apagará minha chama?
Caldo gostoso, mulher...
Por hoje, estou saciado!
Obrigado! Quanto é?
Deixa-me ficar ao teu lado!
Vendo-te servir...
À outros esfomeados!
Antes de finalmente, partir...
Procurar a carne, noutros lados!
feira moderna
Tua cor é o que eles olham, velha chaga
Teu sorriso é o que eles temem, medo, medo
Feira moderna, o convite sensual
Oh! telefonista, a palavra já morreu
Meu coração é novo
Meu coração é novo
E eu nem li o jornal
Nessa caverna, o convite é sempre igual
Oh! telefonista, se a distância já morreu
Indepedência ou morte
Descansa em berço forte
A paz na Terra amém