em branco

ode ao ódio

(Ferrari)

meus olhos estão fechados
deus não existe

toca o despertador
eu existo
roupa, café, pernas em movimento
eu não existo

o sol brilha suave
num céu de algodão doce
eu amo deus

o ônibus chega na hora
deus me ama
o ônibus existe

esqueci o dinheiro
a roleta é eterna
o cobrador existe
a roleta não me ama

fico de joelhos, deito, me arrasto
eu odeio o cobrador
desço do ônibus
a roleta não existe mais

começa a chover
a chuva existe
a chuva é eterna
deus me odeia

esqueci o guarda-chuva
eu odeio deus

meus olhos estão abertos
não vejo deus
deus não existe

eu existo
acima de todas as coisas
o amor
e o que resiste.

2 comentários:

João Videira Santos disse...

Um poema bem ao estilo dos Portugueses Cesariny e Al Berto. Gostei.

marden disse...

gostei muito