em branco

Lotação


Chuva lá fora. Os vidros fechados, embaçados. Junto ao motorista uma loirinha tingida brincava com seus cabelos e seios úmidos e apertados dentro de um sutien maravilha.
O motorista, loiro de verdade, o cabelo espetado, parecendo um soldado de filme americano. Mas o R forçado denunciava: era do interior do Paraná.
Vai ver a menina dos cabelos molhados pensava que seu filho poderia ser loiro de verdade também.


Sento em um banco quebrado, mudo. Nisso, três pivetinhos percebem que os bancos são reclináveis. Começam a fazer todo tipo de malabarismos possíveis.
Entra outro garoto, tão pobre como estes, um pouquinho mais velho (talvez), vendendo cartelinhas de bala. Os três pedem uma de graça. Ele dá. Uma menina compra uma cartela cor de rosa, combina com sua blusa.


Os três pivetinhos comentam que, na novela, um garoto igual a ele (ou seja, igual a eles), só que menos preto um pouquinho (afinal, era o mundo da novela) roubou o cobrador de um ônibus mas conseguiu fugir da polícia.
O vendedor de balas não vê graça nenhuma e vai embora.
Também vou, meu ponto está chegando.


O microônibus segue carregando seu micro-universo cidade adentro.
Desço no meio de janeiro, a chuva não vai parar tão cedo.

Texto originalmente publicado em http://www.arte100.net/portal/ em janeiro de 2008.

Um comentário:

Rounds disse...

Paulo,

obrigado pela visita lá no on the rocks.
Gostei daqui, voltarei mais vezes.

abs,

tarcísio.