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Muy amigo...

Aproveitando o recém-comemorado "Dia do Amigo", André Dia(s/z)? teve uma ideia genial para a Papoetaria deste sábado. Que escrevêssemos um poema não para o nosso melhor amigo, mas para aquele amigo traíra, aquele cafajeste que se dizia amigo, mas não passava de um tremendo interesseiro!

Para abrir a postagem, Oscar Wilde:





Loucos e Santos
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

No Final Restam Poucos
Marcelo Tadeu

Me apresentei
Cumprimentei
Começava ali uma amizade
Foi o primeiro passo
Seria estabelecido então
Um laço, um pacto.
Pra mim era certo
Tudo estava claro
Eu tinha a absoluta certeza
Que tudo era pra sempre.
Mas o destino
Às vezes é ingrato
Não tem dó nem piedade
Me pregou um castigo,
Um belo dia
Fez sair da minha
Própria boca
Inimigo.

Ovelhinha Querida
André Dia(s/z)?

O prazer
de estar ao teu lado
se comparava apenas
às cenas de sonho
ao paraíso cantado pelos poetas,
Mas que poema escrever
se tinha toda poesia
personificada ao meu lado?
Lambuzei todo teu ser em mel
e você me emporcalhou com merda.
Entreguei, até,
minha própria integridade física
em bandeja de prata
para os bobos,
ovelhinha querida.
E, no final,
quem acabou tosquiado
fui eu.
Receba então
cada palavra
como uma faca em brasa
enfiada o mais fundo possível
em tuas partes mais íntimas,
A retorcer-se impiedosa
na lembrança
de teu desdém,
Moeda de troca maldita
neste comércio desigual
da amizade.

Poeta Menor
Paulo D’Auria

e aquele disco do Pixinguinha, sim
pode devolver, nada do que roubou é seu;
eu fingia não ver em nome de nossa amizade
mas você me fez questionar se isso existia

quando o senado aprovou a anistia
ampla geral e irrestrita
pensei em surfar a onda de paz
e lhe perdoar, mas
eu não tenho vocação para isto

devolva o disco, o resto
enfie naquele lugar!
a verdade é que as tralhas materiais
não valem um pensamento meu pra você

Dante mandou seus inimigos para o inferno
eu, poeta menor, só quero que você
me aqueça neste inverno e depois
vou embora sem dinheiro no criado-cego-surdo-mudo
sem olhar pra trás

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