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Reflexões sobre entrevista de Donizete Galvão

"(...)Vidas acanhadas atrás de janelas / na cidade que não definha nem prospera. / (...) Nunca saí deste círculo de ferro. / Nunca saí dessa Minas que não termina." Trechos de "Ruminações", poema de Donizete Galvão.

Neste sábado na Papoetaria, discutimos uma entrevista do poeta Donizete Galvão concedida a Andréa Catropa para o programa Ondas Literárias.

A partir dessa discussão, vários temas foram sugeridos para o nosso "Poema do Dia", entre eles, "Vida Besta", "A Poesia Como Antídoto da Morte" e o fato da poesia estar fora do mercado, ou seja, "A Poesia Não É Mercadoria".

Abaixo, nossa produção:

Planejamento (vida besta)
Caranguejúnior

Quatro horas da matina
acordar, tomar banho
trocar de roupa e sair

Quatro ônibus
e um trem...

Trabalhar, sufoco
suor na testa
cimento nos olhos

Quatro pessoas
conversa no almoço
Quatro garfadas
e um arroto

Quatro passos
trabalho, sufoco
Suor na testa
cimento nos olhos

Quatro para às seis
final do espediente
quatro pessoas
na parade de ônibus

Quatro ônibus
e um trem...

Quatro passos
para casa
tomar banho
trocar de roupa
e dormir... zzzz

Poesia Antídoto da Morte
Marcelo Tadeu

Sei que um dia
não estarei mais aqui
O meu corpo, minha alma
estarão em outro lugar
que não sei onde é,
Neste momento não quero discutir
sobre este segredo,
Só quero ressaltar
que minha memória
ficará aqui
para sempre

Poesia Não é Mercadoria
André Dia(s/z)?

Fui no mercado,
entre as embalagens
coloridas
não havia poesia,
Falaram que lá
não vende dessas
coisas não.
Chegando em casa
sentei no vaso
e das entranhas
tirei inspiração,
Escrevi versos
que os outros
chamam de merda,
Não sevem para vender
mas me alimentam

Carros de boi, carros de bestas
Paulo D'Auria

não é porque os automóveis não choram como choravam os carros de boi
não é porque a janela se abre para o muro e não para o coreto
não é porque o metrô itaquera anda mais a passo que a carroça de Odualdo
não é por nada
não é por tudo
que a vida besta deixa de girar como vespa
como mosca varejeira depositando seus bernes
na água parada dos cérebros estacionados
a tv ligada a tv desligada
não se passa nada

não é porque eu lembro que era melhor
não é porque anseio será melhor
não é por nada
não é por tudo
que eu vou esquecer
que a roda do mundo deixará de girar
vomitando estações
onde
não quero saltar

POEMAVERA




Você flor esperta alada despetalada
Ao meu lado me desperta de um
Sonho de verão nessa
Primeira primavera
Com um cheiro
No cangote
Me
Falando
Que
As
Flores
Abriram
Para
Que
Eu
Não
Perca
A
Hora
E
Não
Chegue
Atrasado
Na
Estação
Cidade Jardim







E já é Primavera...








Caranguejúnior

SÉRIE SOBRE A DESPOLUIÇÃO DO RIO TIETÊ

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Utilidade Pública dos Poetas do Tietê:

A Rádio Eldorado FM estreou uma série sobre a despoluição do Rio Tietê em seu Site.

Nesta semana, a Rádio Eldorado celebra vinte anos da campanha da despoluição do Rio Tietê. O projeto, inspirado na experiência inglesa com o Rio Tâmisa, mobilizou milhares de pessoas no inicio da década de 90 com intuito de se criar uma solução para a sujeira que toma o rio que corta o Estado de São Paulo. Após ampla adesão da população e de diversas entidades ligadas à preservação do meio ambiente, o governo do Estado criou em 1992 o “Projeto Tietê”, que agora chega à terceira etapa.



Para ler e ouvir mais sobre o assunto e se antenar neste problema que está embaixo e definitivamente dentro de nossos narizes, é só acessar o site da Radio Eldorado FM.






Caranguejúnior

Haiquasis III

Nesta postagem a participação mais que especial de Wellington Souza, do Benfazeja Comunidade Literária

Well Souza:

I
Grama artificial
não se apega
à natural

II
Casa vermelha
árvore vermelha
moça vermelha

Caranguejúnior:

I
Líbélula no orelhão
pessoas apressadas na calçada
vem e vão

II
Na mesa do bar
mãos no bolso
vento a soprar

II
Roseira na calçada
pára-raios a seu lado
a sorte está lançada

Paulo D'Auria

I
Céu cinza
flores vermelhas
inverno ainda

II
O vento sopra
o homem passa
sem deixar vestígios

André Dia(s/z)?

I
A palmeira balança ao vento
como um charuto trêmulo
na boca de um bêbado

II
A menina corre descalça
saliva em minha boca
inveja da sujeira em sua sola

Haiquasis II

André Dia(s/z)?:

I
leio na placa
que é proibido pisar na grama
então, simplesmente olho

II
minha cara na privada
a urina que cai
deforma meu reflexo

Paulo D'Auria:

I
o sol através
das verdes folhas,
amoras no pé

II
um salto
e o ipê amarelo
no preto asfalto

III
quase ilusão
duas estrelas no espelho do Tietê
uma se move, era avião

ah, o amor!


O amor e o desamor por 4 Poetas do Tietê:
Preconceito
Marcelo Tadeu

Para quem não gosta de escrever sobre amor
Eu vos digo
Não tem como fugir
Ele se veste de várias formas
Se apresenta com várias máscaras
E no seu texto
Ele pode estar lá
Como outra palavra


Meu nome é bonde, perdi o bonde
Paulo D’Auria

passou o bonde
o trem
bala
passou o a
mór
por que não escrevo mais os velhos poemas de amor ou por outra
por que não me apaixono mais
perdia a capa-cidade de amar?
qual o sentido de se doar
em um mundo em que tudo se latro-sina?

e pra não dizer que não falei das flores
do bouquet de 1.000 rosas roubadas
poderia relembrar a primeira namorada mas
perdi o bonde
o trem
bala
perdido (n)a estação
qual poeta de folhetim

e assim sem nem começar
o poema de amor chega
ao fim

O amor
André Dia(s/z)?

O horror
de me prender
nessa cruz,
O amor.
Não! Não mais!
Tirem os pregos
dessas chagas!
Não mais sangue!
Não mais pus!
Não mais lágrimas!
Só o esperma,
o gozo da masturbação!
Santa Punheta
Do Amor-Próprio!

Não era amor, era...
Caranguejunior

Pensei que era
Meu amô
Senti que era
Seu amô

Quando me tocava
E me olhava
Em minha barriga acontecia
Uma revoada de borboletas

Pensei que era amô
Senti que já era!
Quando o médico diagnosticou:
Não era amô querida
Era lombriga...

O amor é foda
Caranguejunior

O amor sou eu
O amor é você
E eu
O amor somos nós
O amor é você perto
Eu longe
E nós juntos na cama
O amor é definitivamente foda
É foda!

videopoemas



poesia social

"Por que existem favelas? / Por que há ricos e pobres? / Por que uns moram na lama / e outros vivem como nobres? / Só te pergunto essas coisas / pra ver se você descobre"
Trecho de "Quem matou Aparecida" de Ferreira Gullar

A poesia social de 2 Poetas do Tietê


Paulo D’Auria

é possível tirar alegria do homem que dorme na rua
é possível tirar poesia?
a comida acabou
a noite esfriou
a festa nunca começa

é possível cobertor tão grande para toda gente
é possível cobrir os pés da poesia
sem descobrir a cabeça?
e agora
a garrafa acabou
uma última gota

no meio do labirinto escuro
até as orelhas me cubro
escorro no salão de espelhos escusos
a festa nunca começa
a comida esfriou
a garrafa virou

a poesia acabou


Quase chão
André Dia(s/z)?

Lá está
ele,
caído no meio-fio,
quase concreto,
quase chão.
Preta é sua cor
de sujeira
por cima
da cor negra
de luta.
Vida dura,
de miséria
de pele escura,
diferente
da vida bem nascida
que anda
de cabeça erguida
passando por cima
dele,
quase chão.