em branco

poeta objeto




Na papoetaria de 8/10, Caranguejúnior sugeriu que escrevêssemos todos como se fôssemos objetos.
Quer dizer, escrever a partir do ponto de vista de algum objeto.

Para ilustrar a ideia, passou seu "Poema Souza Cruz", em que o narrador é o cigarro de Clarice Lispector:

Sonhei que era o cigarro de Clarice
Toda vez que ela tragava Minh’alma

Via as palavras brincando em sua boca
Formando versos de fumaça
Seus pulmões eram o Playcenter
Hopi Hari, Happy Air!!
Toda vez que ela soltava-me
Meu espírito voava como poesia ao ar

Sonhei que era o Cigarro de Lispector (a Clarice)
Ela estava sentada
Em sua poltrona na sala
Pensamentos longínquos
Fumaças ao ar
Não havia nenhum passivo fumante
Que pudesse me inalar e estragar
Aquele instante vicioso. Ela e eu, só.

Sonhei que era o cigarro da Lispector
Eu, entre seus dedos
Morria devagar
Manchado de batom
Definhando aos poucos.
E ela nicotinamente relaxando
Sua brilhante mente
Brilhantemente...

Sonhei que era o cigarro de Clarice,
Aquela flor de Liz(pector)
Observei-a escrevendo um poema
Um poema sonhador, um poema Souza Cruz
E meus olhos em brasa de mero cigarro aceso.

Sonhei que era o cigarro de Clarice Lispector
Foram três minutos de ápice
De repente, Morri...
Deixei restos de mim em seu ser.

Enfisemas poemas taquicardias poesias
Acordei suado e amando
Pois naquele cinzeiro
Que ela me apagou
Existiam vários "eus" depositados
Que foram extintos em seus lábios


Agora, vamos ao resultado deste exercício

Caneta de Vinicius
Marcelo Tadeu

Sonhei que era caneta de Vinícius
E que estava entre seus dedos
Somente eu sabia seus segredos
Já era de madrugada e falávamos de seu novo amor
Vinícius estava animado
Minha tinta escorria pelo papel
Estava meio cansado
Mas aguentei firme
Sob seus dedos
Pois queria saber de toda história
Mas uma coisa horrível aconteceu
Minha tinta acabou
Uma tremenda decepção
Já que nem o fim da história
A outra caneta me contou

Amo sua Dor
André Dia(s/z)?

Todo santo sábado
Lá vem ela me visitar,
Depositando rosas aos meus pés.
Meus olhos duros contemplam os seus
Tão tristes e marejados.
Meu dedo apontado para o céu
Tenta lhe falar de esperança,
Que um dia irá reencontrá-lo,
Mas ela parece não entender
E soluça debaixo de minhas asas rachadas.
Mas, ao mesmo tempo, amo sua dor
Que rompe assim, esta solidão
Esta existência imóvel
De anjo de cemitério.

A Pedra
Caranguejúnior

Sou uma pedra
e por ser pedra
tenho alma de pedra
coração de pedra
e sentimentos de pedra

Mas garanto
não sou desumana
como vários seres "humanos"
que matam, roubam
e plantam a semente do mal

Estou aqui no seu quintal
estagnada, observando tudo:
das mais belas
às piores coisas

Já vi tantos fatos
que rolou no meu olhar
de pedra, uma lágrima

Meu desejo, neste momento
é voar e voar e voar...
Pode parecer estranho
esse meu desejo de pedra
Mas te digo, as pedras voam!!
Sim, basta você dar uma
mãozinha...

Senhora
Paulo D'Auria

O seu peso e o seu desprezo diário.
Só me olha quando está triste, mas não me vê.
Na alegria passa saltitante,
No inverno me cobre, me esconde,
No verão, me procura para dormir,
Aos domingos, cuida de mim, me acaricia com panos
me encharca de perfumes, me dá banhos
e, no fim, deixa cair sobre mim
uma gota de suor.

O seu peso e o seu desprezo
sou teu chão
você é minha dona
e senhora.

A Mais Bela
Paulo D'Auria

Você. Garanto. Não existe ninguém mais
nem mais bela nem mais feia
nem mais gorda nem mais magra
mais perfeita
ou mais burra
(olha para mim
mas só consegue ver
você você você)

Eu, todos os dias
e você nem percebe.
Dentro de mim, trago você
e você nem percebe.

Te estudo, copio, persigo.
Só com você
não sou vazio.
Tudo que fiz de minha vida foi te servir
e agora este palhaço entra em seu quarto
e te humilha
e vai embora
e é em mim que você desconta

É em mim que joga o vidro de seu perfume
mais vagabundo e favorito
me deixando em cacos
estilhaçado

Te entendo
e te perdoo
ainda é a mim recorre
neste teu último voo

É com meus pedaços que
num impulso
rasga os pulsos

morremos juntos.

2 comentários:

Marluce Aires disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marluce Aires disse...

Boa tarde amigos poetas,
Amei a poesia onde Jesus esteve. Vocês são poetas de verdade.

Um abraço de mais uma admiradora dos Poetas do Tietê.