em branco

O SERTÃO VAI VIRAR SÃO PAULO E SÃO PAULO VAI VIRAR SERTÃO

)))))))))))))) ((((((((((((((


Dias SECOS))) SECOS))) SECOS))))))


Ar SECO))) SECO))) SECO)))))


Povo SECO))) SECO))) SECO)))


Olhar SECO))) SECO))) SECO)))))


Lábios SECOS))) SECOS))) SECOS)))


Boca SECA SECA SECA


Garganta SECA SECA SECA


E eu reverberando)))) poesias de concreto...



)))))))))))))) ((((((((((((



Caranguejúnior

coisas que não existem

“ A poesia é uma espécie de aventura para capturar coisas que não existem” Ferreira Gullar

Essa estranha aventura traduzida por 3 Poetas do Tietê:

Visão poética
Marcelo Tadeu

Eu vejo nos olhos
eu vejo nas águas
e vejo no ar.
Não tenho poderes
apenas sou poeta,
não enxergo com olhos,
e tudo o que vejo
escrevo.


O barulho
André Dias(s/z)?

O barulho
que passa,
pego no ar,
barulho das máquinas
dos homens,
barulho-homens-máquinas
me impedem de pensar,
quero rir
quero chorar
quero ir embora
quero almoçar.
Meu corpo se desfaz
em fumaça
misturada
com o barulho no ar,
nada para dizer,
muito para poetar.


Rede de caçar borboletas
Paulo D'Auria

no ar passarinho vento
sinal do celular da televisão via satélite
no ar 15 folhas de outono cheiro de esgoto
azul
e os pensamentos todos do mundo misturados

e o poeta pescando
poeta antena parabólica
poeta com sua rede de caçar
borboletas e furacões

no ar o menino e a pipa
a pipa leva o menino
pela linha que a prende
ao chão
às mãos
do menino que fica
e vai

cataventos birutas barômetros
metereologistas astrônomos astrólogos
o poeta são todos
e não é
nenhum

o poeta e o mundo

"O mar batia em meu peito / já não batia no cais. / A rua acabou, quede as árvores? a cidade sou eu / a cidade sou eu" Trecho de "Coração numeroso" de C. D. de Andrade.


Imagem: o mundo nos óculos de Drummond,
fotomontagem de Paulo D'Auria

Poetas nem sempre se relacionam bem com a realidade concreta. Abaixo, dois Poetas do Tietê falam de sua relação com o mundo.

Dias de argila
André Dia(s/z)?

Ando
a esmo,
esperando
minha
hora,
poetando
inconsistência
de viver
dias feitos
de argila,
que quando
tijolos
caem sobre
os sonhos
que não
cessam de
existir,
pois não são
materiais.
É isso,
felicidade
não existe,
não pode ser
tocada,
medida,
catalogada,
só sonhada
eternamente,
então,
o poeta é feliz,
só que chora
por viver
num mundo
que não é seu.



Cerejas fora de época
Paulo D'Auria

o mundo é apenas um lugar
onde erro meus passos
de pé de chinelo qualquer
em quem o tempo testa seus dissabores

as certezas são cerejas fora de época
as verdades são vaidades amadurecidas demais
sinto o vento da primavera mesmo no auge
do inverno
a neve é um cobertor
que derrete

se faço versos
estou do avesso
quando me fecho
fico prosa

não olhe agora
estou nu
não acho a rima certa
para vida

a língua que nóis fala

Nossa língua escrita e falada, traduzida por dois Poetas do Tietê



Língua Solta
por Caranguejúnior

O que eu falo
O que tu fala
O que nóis fala, mano!
Oxe!!

É bossa
É cumbia
É rock
É samba

Língua nossa
Sem frescura
Do povão
Da cultura

Ai dôul nôul! Explique isso!
Aimi nóti dógui nôul!

Soul Tupi
Soul Brazuca
Dou daqui
De Língua Solta

O que eu falo é bossa
Da língua nossa
Saravá!


Cólica Verbal
por Paulo D'Auria
penso brasileiro e escrevo português
minha identidade tem uma foto de passaporte
e outra de viagem
uma rima rica e outra pobre
uma prima bonita e outra má-o-meno
uma rima branca para um poema negro

banzo e saudade no cariri
branco e escravo no estômago tupi
eu te amo
eu lhe amo
amo você
e amo ela ela ela

guarda-chuva umbrela
pára-raios de antena parabólica
estrambólica
eólica
cólica verbal

Visões de Pasárgada

Visões de Pasárgada por 3 Poetas do Tietê :

Todo poeta tem sua Pasárgada
por Paulo D'Auria

Todo poeta tem sua Pasárgada,
algumas têm amigos de verdade
outras têm sol a vontade
mas todas
tem prostitutas bonitas.

A prostituta, essa namorada natural dos poetas
a prostituta, que qualquer um pode ter
mas amar, amá-la, só os poetas sabem:
Amá-la inconsequente, amá-la na bebedeira
amá-la completamente, amá-la num poema;
o poeta, esse marido mítico das prostitutas.

Todo poeta tem sua Pasárgada,
algumas têm praias
outras têm rios
e todos nadam a largas braçadas,
tornam-se atletas, se esquecem de ser poetas!

Glórias, honrarias literárias podem esperar,
que sejam póstumas!
Pra já, - em Pasárgada, São Paulo
Sarajevo, Oslo – o poeta só almeja
o gozo.


Outra Pasárgada
por André Dia(s/z)?

Vim embora
De Pasárgada,
Lá nada encontrei
Que me interessava,
Paraíso de outro
Poeta,
Eu quero meu
Próprio paraíso,
Nada de exercícios
Pois sou preguiçoso
Quero dormir até
Meio dia,
Acordar com alguém
Diferente todo dia,
Lá não existem roupas
A criada se inclina
Com seus peitos grandes
Com meu desjejum,
Diante de minha cama
Há uma fila que não
Termina,
Todos vêm me acariciar
Com as mãos depois com a boca,
Eu sou o mais lindo
O mais desejado
E meu paraíso é ver
A volúpia de cada um
Diante de rei tão adorado!


Terra de Maria
por Marcelo Tadeu

Quando me encontrar no vazio
Quando me encontrar perdido
É pra lá que eu vou
Na Terra de Maria
Tudo faz sentido

Quando não souber quem sou
Quando me sentir ninguém
É pra lá que eu vou
Na Terra de Maria
Eu sou Rei

Sou Egoísta
E o caminho
Não Revelarei
Já que Maria
É só minha.