em branco
CARDÍACOTIDIANO
Marcapasso
Meus cambaleantes passos
Sobre esse chão
Sujo e àspero
Marca meus passos
Sobre essa ponte
De safena, de Helena
De Maria e José
Marca
Cada pisada do meu pé
Marcapasso
Cada Suspiro meu
Nesse quase puro Ar
Marca até quando eu espirrar
Marca meu caminho
Sobre essa
Avenida ferida
Perdida
Marcapasso
Quantos carros
Quantas motos
Quantas mortes...
Marcapasso
Quanto tempo
Quantas horas
Para o busão passar
Marcapasso
Quantos moleques
Engolem fogo no semáforo
E quantos engolem mágoas
Marca
Quantos limpam parábrisas
Quantos enxugam lágrimas
Marcapasso
A placa daquele carro
Que jogou água em mim
No dia da enchente
Oxente, Enchente?
Marcapasso
O sorriso dessa gente
O choro dos Indigentes
Marcapasso
A minha tensão
A minha hipertensão
Marca uma solução
Para este cardíacotidiano
Marcapasso
Minhas idas
Minhas vindas
Minha vida...
Caranguejúnior
Macarrão da Cecília
Me perdoem se este relato mostrar falta de coerência ou continuidade... Escrevo sob o efeito de...Não sei quantas latinhas de cerveja...Foram quase 20... Consumidas por mim e um de meus parceiros de poesia...Marcelão... Minha cabeça gira e tenho gosto de areia na boca... Porem, isso não me impede de lembrar bem, do macarrão que comi na casa de Paulão e Cecilia... A linguiça de Paulão estava estupenda... Mas, o macarrão da Cecilia... Sem ter medo da rima pobre, pois aquele sabor foi o mais rico que senti nos ultimos anos...Posso dizer:"Ai...O macarrão da Cecilia...Que maravilha!!" Repeti duas vezes...Se não tivesse acabado....Repetiria mais uma, meus amigos! Macarrão com atum! Nunca tinha comido nada igual! Foi uma tarde maravilhosa, aquela... Eu...Bem alegre....Etilicamente amigável...Distribuindo o bom e velho: "Fulano...Você sabe que eu te considero, né?..." Conversamos sobre assuntos que iam da terapia de vidas passadas do Ferrari...Até a infame piada das cinco bolinhas vermelhas de Marcelão! Caramba! Que piada! Quase vomitei, de tanto rir! Tive que me conter... Seria um vexame!
E antes disso... Nós fomos comemorar o aniversário de São Paulo, com uma "pescaria" no rio Tietê! Claro... Era uma encenação, para o recital de poesia... Não paravam de passar carros, e as pessoas tirando com nossa cara: "Vai pescar merda, aí?" E até conseguimos pescar umas coisas disformes, que não sei ao certo o que eram! Até passou boiando um daqueles "Teletubbies..." Infelizmente, ele não mordeu o anzol... Um tiozinho parou e disse que a uns 40 anos, ele havia pescado peixe de verdade, lá! E achei bem triste, os que passavam e nos ridicularizavam... Como se estivéssemos mesmo, debruçados com varas sobre um imundo vaso sanitário de rodoviária... Mas, amo o Tietê, por isso mesmo... Ele não tem disfarce... Ele é a face oculta... A verdadeira face dessa cidade... É o que queremos negar... Por mostrar o nosso pior... E, no dia em que pudermos pescar peixes de verdade, novamente... Será o dia em que a alma humana, tambem estará limpa... Mas... Por enquanto, encaremos a realidade e celebremos mais um ano de caos e desleixo...Dessa cidade, tão moderna e sofisticada, cujo sangue podre corre nas artérias tóxicas de nosso Tietê!!
PARABENS, MINHA VIDAAAA!!!
PARABENS, CIDADE QUERIDAAA!!!
PARABENS, SÃO PAULO!! MINHA PRIVADA ENTUPIDAAA!!!
Ps: Você sabe que eu te considero, né???...
história de pescador + convite
Levei puçá, caniço, garatéia, samburá
fome, rede, chumbada e o grande abdome do mundo.
Fiz aula, ouvi histórias de pescador e desamor,
juntei você mais eu, coragem e fomos
pescar no Tietê.
Pirarara, piau, bagre, piapara
tanto peixe que juntamos esperança em feixe
e nos deixamos levar pela criancice.
Pelados, nadando, brincávamos de quem disse.
- Quem disse que sonhar não existe? Quem disse!
- Quem disse que futuro não existe? Quem disse!
- Quem disse duvido, quem disse?
Exaustos,
adormecemos no fim de tarde
enquanto a Piracema passava.
fome, rede, chumbada e o grande abdome do mundo.
Fiz aula, ouvi histórias de pescador e desamor,
juntei você mais eu, coragem e fomos
pescar no Tietê.
Pirarara, piau, bagre, piapara
tanto peixe que juntamos esperança em feixe
e nos deixamos levar pela criancice.
Pelados, nadando, brincávamos de quem disse.
- Quem disse que sonhar não existe? Quem disse!
- Quem disse que futuro não existe? Quem disse!
- Quem disse duvido, quem disse?
Exaustos,
adormecemos no fim de tarde
enquanto a Piracema passava.
+x+x+x+x+x+x+x+x+x++x+x
CONVITE
compleximplicidade
Queria pegar esse chuazinho de chuva e te pôr para dormir, mas você, com esses olhos dissimulados que nunca dormem a me perseguir.
Queria matar tua sede com essa água mansa que recolhe das calhas de todas as casas, da sarjeta de todas as ruas, mas para você nem toda a cachaça nem todo gozo, suficientes.
Queria conversar, mas você grita.
Queria lhe entender, mas você fala línguas tão mansas e ancestrais que apenas os sabiás.
Queria te amar, mas você ora puta ora cafetão, diz sim agora e nega depois, dizendo que eu não teria como lhe pagar.
Sei que sou eu quem erra, que me perco por caminhos que se cruzam desde 1554.
Sei que sou eu quem erra, que não lhe reconheço, como se o fundo do abismo, de tão próximo, me parecesse um sorriso amigo.
Sei que sou quem, cego, não alcanço tua complexidade tão simples que cabe inteira numa esquina, Ipiranga com São João.
Queria matar tua sede com essa água mansa que recolhe das calhas de todas as casas, da sarjeta de todas as ruas, mas para você nem toda a cachaça nem todo gozo, suficientes.
Queria conversar, mas você grita.
Queria lhe entender, mas você fala línguas tão mansas e ancestrais que apenas os sabiás.
Queria te amar, mas você ora puta ora cafetão, diz sim agora e nega depois, dizendo que eu não teria como lhe pagar.
Sei que sou eu quem erra, que me perco por caminhos que se cruzam desde 1554.
Sei que sou eu quem erra, que não lhe reconheço, como se o fundo do abismo, de tão próximo, me parecesse um sorriso amigo.
Sei que sou quem, cego, não alcanço tua complexidade tão simples que cabe inteira numa esquina, Ipiranga com São João.
gavetas do tempo
Vou sentir falta da iluminação de natal.
Ainda que tenha minhas dúvidas quanto ao conforto de nossas belas tipuanas com seus troncos e galhos tomados por centenas de lampadinhas acesas por noites a fio, ainda assim, vou sentir falta da iluminação de natal.
Ainda que tenha minhas dúvidas quanto ao conforto de nossas belas tipuanas com seus troncos e galhos tomados por centenas de lampadinhas acesas por noites a fio, ainda assim, vou sentir falta da iluminação de natal.
No Trianon, nas avenidas Sumaré e Pompéia, a caminho de casa, cruzei madrugadas que não eram comuns madrugadas paulistanas. Esses caminhos assim iluminados me levavam a outros lugares, minha casa ainda, mas outros lugares.
Certa noite fui parar em minha casa no tempo em que as bolas de natal eram feitas de um vidro tão fino que se quebravam com o suspiro de um grilo, e cada uma era uma obra de arte única, pelo menos aos meus olhos de menino.
Hoje, todas elas se quebraram? Não terá sobrado uma ao menos nalguma gaveta do tempo?
E agora que as avenidas voltaram a ser apenas avenidas com sua iluminação ordinária, e agora, para onde irei, o que vou encontrar quando voltar para casa?
navegantes
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