em branco

Cama de Pregos

Tela: "Paisagem", de Carlos Zilio, 1974

Fajuto Faquir
Paulo D'Auria

Fosse um faquir
fajuto e roto
com meus duzentos quilos
os pregos não respeitariam minha pele
os pregos não respeitariam minha filosofia
ocidental
baseada em morrer
cedo
e doente
e lentamente

Fosse um faquir
falso
os pregos não respeitariam minha carne
praticando o sangramento
a purificação
feito facas
de um curandeiro turco (fake indiano)
no interior do recôncavo baiano
num romance de Jorge Amado
esfolando
um personagem secundário
e obscuro

Fosse um faquir
vivendo em fausto vazio
os pregos não respeitariam minha alma
surpreendendo-a pelos desvãos do desvio
de meu corpo inchado
e a sacrificariam
num varal de charque
voltado para a Meca

Encosto a cabeça em meu travesseiro de pregos
e durmo meus pesadelos tranquilo
porque é assim
o desassossego
dos justos

Maldita Condição
André Dia(s/z)?

Tentei te amar
num colchão de algodão
e lençóis de paixão
suaves como cetim,
Cama de pregos é o que me resta
refestelado sob pele rasgada
a dor do desprezo me mutila,
Testículos perfurados,
e eu não me movo
consciente que sou merecedor.
Reto e uretra são uma só chaga,
Sangue e dejetos são chorados
pelo olho que é o buraco
que é o meu corpo agora,
Sou um vazio exposto,
exposto aos olhos do mundo,
olhos estes que se fecham
à passsagem do homem-retalho
que um dia ousou
assumir sua maldita condição
de poeta.

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