Os poetas do Tietê visitam a exposição em homenagem a Jorge Amado no Museu da Língua Portuguesa
Seu Jorge Modernista
Fernanda Migliore
Fernanda Migliore
Desenho: Fernanda Migliore |
Cheiro de peixe maresia nordeste
ar-condicionado, Jorge-Amado
Jorges coloridos arrepio sagrado
teclas política exílios pensamentos
teclas livre - crente - mente mente
Jorge museu globo livro em tela
E eu inocente, sempre Gabriela.
ar-condicionado, Jorge-Amado
Jorges coloridos arrepio sagrado
teclas política exílios pensamentos
teclas livre - crente - mente mente
Jorge museu globo livro em tela
E eu inocente, sempre Gabriela.
Embriaguez
Paulo D'Auria
Não conheci
Jorge Amado quando entrei em sua casa azul-turista, quando dormi no pé da Farol
da Barra, quando assisti à novela, quando visitei a Academia Brasileira de
Letras.
Não, não
conheci Jorge, o Amado em nenhuma dessas ocasiões, de certo que andava ausente,
ele ou eu, dos fatos presentes e de menor importância.
Fui conhecer
Jorge Amado ontem, uma vela vermelha e outra preta acesas iluminando a
encruzilhada e a meia-noite de fria garoa paulistana, quem diria. Veio rindo e abraçado a Prestes, o
cavaleiro.
Na hora de falar comigo, Prestes postou-se dois passos atrás de Jorge. Não ria, e seu olhar sisudo, contrastante com o ar bonachão de Jorge, avisava: não era hora de o conhecer.
Jorge
agradeceu o charuto e a cachaça, armou uma cara entre a troça e a sabedoria, e disparou: “Deus sorri como um negrinho”.
Paralisado pelo encontro inesperado, fiquei olhando os amigos irem embora cambaleantes. Já iam na
outra esquina quando Jorge se volta para trás e grita, “Na próxima entrega traz um licor de violeta pra Zélia!”
Jorge riu, e ainda tive tempo de ver seu riso alvar se desmanchar no ar.