Sábado, dia 10/12, os Poetas do Tietê foram à exposição "O Culpado de Tudo", que homenageia Oswald de Andrade, no Museu da Língua Portuguesa. O resultado desta Papoetaria você confere aqui:
"Há poesia / na dor / na flor / no beija flor / no elevador". O. de Andrade
Queria Comer o Oswald!
André Dia(s/z)?
Garçon!
Traga-me o menu!
Corri os olhos e vi o ômi nu.
Garçon!
Queria comer o Oswald!
Esperei com água na boca,
Comi o presunto com água nos olhos,
Pois vi que há poesia
na antropofagia!
"Ao fechar o aposento dela, já com / a casa vazia de móveis e pessoas, / me ajoelhei para beijar o chão, / no local onde mamãe falecera. / / Mas meu coração / sorria para a vida.", 1912, O. de Andrade.
"Desde 1917, Oswald aluga, à rua Libero Badaró, 67, um espaço destinado a encontros amorosos, literários e boêmios."
Espaços
André Dia(s/z)?
No quarto de mamãe
o poeta beijou o chão
onde o amor morreu,
Na garçonnière
o poeta beijou o vão
das coxas do amor que fodeu.
"Fui abatido, humilhado e ofendido no coração e no brio pela mais bela e mais infame das mulheres", O. de Andrade
Eu Simplesmente Amei
Marcelo Tadeu
Eu sei
Eu perdi a razão
Mas fala pra mim
Se tem razão
As coisas do Coração
Pode dizer
Que foi pura humilhação
Mas tudo o que fiz, foi pra não perder.
Chorei, implorei, me ajoelhei.
E só por Deus, como dói sentir a falta de alguém
Gente pelo amor de Deus!
Eu não matei ninguém
Eu simplesmente amei
Só me condena agora
Só fala agora
Só ri agora
Só faz Fofoca
Aquele que nunca amou.
Doidivanas Oswaldinas
Cissa Lourenço
PA
para de nhen-nhen-nhen
GU
gulosa de tudo e de todos
TAR
tarde da noite
SI
sinhá do pé grande
LA
lá pelos lados do mundo
KAMIÁ
caminha com o nonê, nanando
LANDA
flor de carne musculosa e doirada
DUNCAN
de carro víamos São Paulo inteira
dançando, quase nua
D'ALKMIN
dá o melhor de mim
secretamente me amamenta
com seu leite
Entre e abuse à vontade
Paulo D'Auria
entre o trem e o navio, o pavio
o brasil rasgado no meio
não sangra, esvazia
o brasil fotogênico, o mar o mar o mar
a boiar no plano de fundo
entre o trem e o navio, o pavio
o brasil ex-pode
"Nenhuma tradição / Nenhum preconceito / Nem antiga nem moderna", Estação da Luz no Coração do Mundo, O. de Andrade
"Roda roda São Paulo / Mando tiro tiro lá", Brinquedo, O. de Andrade
carrosSPel
Paulo D'Auria
e SP não mudou nada
nenhuma tradição
nem antiga nem moderna
e todo preconceito engolido nesta fome de mundo
dez edifícios por hora nesta fome de mundo
ri ri ridículos grotescos belos grandes pequenos
roda roda roda
SP é foda
Cadê?
Paulo D'Auria
sumpau
lo
sumiu
sumpa
lo
que o sé
cu
lo
20
engovliu
"O trem vai vendo o Brasil. O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e de gente dizendo adeus. Depois todos morrem", O. de Andrade
Lá vai o trenzinho caipira
Paulo D'Auria
vamos seguir assim
piuí piuí
ignorando o brasil
no trem da alegria
pular carnaval
amém
e devorar o brasil
tá lá o corpo do país mendigo estendido no chão
a carne
o plástico
a petrobrás
e o lubrax 4 pra temperar
e depois de 33 mastigadas
depois de totalmente digerido
que nasça o novo brasil
quentinho
cheirosinho
bolinho
cup-cake
que eu me pinico
"Haviam se fechado os olhos / azuis para cuja aflita vigilância / tinham se aberto os meus", 1912, O. de Andrade
2012
Paulo D'Auria
o ciclo não se fecha
as pontas abertas
entre aqueles olhos negros da infância
e estes
que não param
meu coração só pode sorrir para a vida
se não olha
no fundo
dos olhos dela
“Esculhambo, logo existo”, O. de Andrade
100 ideias
CaranguejúniorPenso, logo insisto
Em escrever isto
Ou aquilo
Um verso 100 gramas
Ou um poema sem quilos
Penso, penso, penso
Que chego a ficar penso
Pro lado direito do errado
Penso e peno...
Nenhum plano pleno
Embaixo dos panos
As ideias fizeram motim, rebelião
Fogem-me das grades dos pensamentos
E eu
Penso, penso,
Penso, logo desisto!
“Minha terra tem Palmares / Onde gorjeia o mar”, Poesia Pau Brasil, O. de Andrade
Minha terra é foda de viver. (Poesia Pau no Brasil!)
CaranguejúniorMinha terra tem Palmeiras
Pau Brasil e Ypê
Tem rio São Francisco
Amazonas Tietê
Tem Piracema
Tambaqui e pirarucu
Minha terra tem lagoa
Onde coacha o cururu
Não tem terremotos
Nem Tsunamis
Em compensação tem miséria
Violência, derramamento de sangue
Fome...
Os homens que roubaram no passado
Também roubam no presente
Minha terra não tem
Salário mínimo decente
Os pobres que aqui são pobres
São pobres iguais aos de lá
Os ricos que aqui são ricos
Vivem uma vida de marajá
Minha terra tem gente
Que não tem nem onde morar Minha terra tem mata atlântica
Difícil é vê-las por lá
Muitas foram derrubadas
Viraram madeira pra mesa e sofá
E os sabiás são sem tetos
Que ficaram sem seu canto
E sem cantar
Minha terra tem muito bandido
Do branco colarinho
Kassab, Sarney, Dirceu
Tudo cobra do mesmo ninho
E o povo no meio disso tudo
Só tomando no C_ cafezinho né...
Nosso céu tem mais cinzas
Nossa quebrada mais drogas
Nossos bosques em extinção
Nossas vidas... Paciência
Minha terra, velho...
É isso aí
Desculpe Gonçalves Dias
[E Osvald]
Mas o exílio é aqui.