em branco

três contos


1.
Os pontos cardeais me desnorteavam, ansiava qualquer trilha que passasse exatamente entre eles, sem norte, na sorte.
Primeiro era preciso acordar; abrir os olhos e não enxergar a paisagem viciada do dia-a-dia.
Depois, era preciso respirar; abrir os pulmões para o ar novo da madugada.
Por fim, abrir a porta. E dar o primeiro salto.

2.
Depois de sentir todas as dores, depois de todas as alegrias, ela sabia. Provava sabores - ansiosamente - e descobria que já os conhecia.
Depois de sentir todas as dores, depois de todas as alegrias, provava sentidos: de olhos fechados, de boca fechada, sem respirar; ela sabia.
Não restava mais nada. Entregou-se.
3.
A placa avisava, o guarda cuidava, mas ele insistia. De canto de olho, rondava.
O desejo cada vez maior, inconformado, atirou-se contra a porta fechada.
Não, a placa avisava.
Não, cuidava a câmera de vigilância.
Não.

Um comentário:

Fernanda Rodrigues disse...

Seriam três contos, mil contos ou "conto mil"? Parabéns!