em branco

Lixo/Poesia - o que é rio? o que é peixe?


Cardume
ROGERIO SANTOS

cato cacos de poesia
como quem garimpa
palavras perdidas
num dicionário da vida

acaso forro aflore
na Ilha das Flores
um eu expectador
personagem ou diretor

invoco terços vocábulos
verso tríade incesto
os Zés e meus eus
entre pilhas de dejeto

masco nós e cós e cuspo
como pet e pão e domo
minha terra prometida
meu maná estilhaçado

devoro por essa vida
tanto tudo todo todo
remo e rede e barco
e esse peixe multiplicado

que todo peixe é palavra
um feixe no xis da questão
aquele que nada e se cala
é peixe de um novo Sião

Haiquasis - Papoetaria 13/03




Marcelo Tadeu

Suba no barco
jogue todo o seu sofrimento
para os tubarões e deixe
que eles estraçalhem
o seu tormento



Paulo D'Auria

I
Na areia na areia na areia
Medo do mar
ou medo de sereia?

II
As velas recolhidas
barcos na areia anseiam
o dia da partida

Papoetaria 2010

Começou hoje a Papoetaria, a já tradicional Oficina de Poesia dos Poetas do Tietê no Tendal da Lapa agora em sua versão 2010.

Abaixo, o resultado de nossos primeiros exercícios:



Café Noturno: Exterior, de V. Van Gogh

Vazio
André Dia(s/z)?

Na minha frente,
Mesas vazias,
Os poucos rostos,
Também vazios,
Meu copo vazio.
Só as estrelas
No céu,
Estão cheias,
Cheias de esperança
No amor
Ou algo além,
Ou simplesmente
Inspiração
Para escrever
Uns versinhos
Para meu bem.




Glamour
Paulo D'Auria

Enquadrados no centro da fotografia os casais,
as mulheres, os passantes,
as luzes,
as luzes da cidade ardendo no centro da fotografia.

Mas as sobras aqui
e ali, nos cantos
venezianas entreabertas, vazias,
mesas vazias,
moleques de recados vazios;
galhos de uma árvore flutuando no canto,
o tronco fora
da fotografia.

Sobras sombras sem forma de fora
do centro ardente
da fotografia.




A Estação de Saint-Lazare, de C. Monet

O Último Trem
André Dia(s/z)?

Na estação
Eles vêm e vão,
Numa busca
incessante,
Corações de manteiga
e pedra,
Mergulhados no
ferro e a fumaça,
Espíritos macambúzios
presos na carne,
Aguardando o
último trem,
Rumo à estação
Paraíso



Fumaça azul
Paulo D'Auria

No céu sem cor
a fumaça é azul
a fumaça da locomotiva

Na estação sem cor
idas e vindas cinzas
e vidas
a fumaça é azul

A fumaça da locomotiva
sozinha alheia aos anseios
e passeios dos corações
em casacões marrons

Sozinha cumprindo o seu destinos nos trilhos
derramando a tinta azul de sua fumaça
nas telas
sem vida



No teatro do Tendal, bem ao lado de onde escrevíamos nossos exercícios, o Coral do Tendal da Lapa fazia uma apresentação e, claro, inspirou-nos.



A Chuva
André Dia(s/z)?

Um canto
Melancólico
Me chega aos ouvidos,
Anjos de negro
Anunciam o fim,
A chuva cai
Forte,
Varrendo de meus
Pensamentos
O que já se foi,
Nas colunas
De pedra
Deixo inscrito
O lamento
Do último poeta
A crer num
Mundo de ilusão.


Coro
Paulo D'Auria

A música dos coros sempre me fala ao coração, mas não é um diálogo. Não pede licença, não bate na porta.
Invade.
A música dos coros com suas mil vozes profundas não entra pelos meus ouvidos, envolve feito jibóia meu coração, extraindo minhas emoções por esmagamento.
A música dos coros sempre me faz chorar, porque dói.

PS: Estou nas cochias do teatro, de repente o elenco do coral invade os bastidores para a troca de figurinos. A moça de preto veste um espartilho vermelho acendendo em mim as emoções mais básicas do ser humano, as emoções com cores, resgatando-me do poço escuro para onde já me arrastava a música dos coros.


Papoetaria, todos os sábados das 11h00 às 13h00 no Tendal da Lapa, Rua Constança, 72.