em branco

despedida em negrito

(por Karla Jacobina)


Depois que nossas mãos se desgrudaram nos degraus do ônibus, terminei de subi-los com nossos olhos dados. Empurrando uns e outros, parei diante da fresta que zelava por seu rosto. Era um rosto de despedida, com lenços brancos no semblante.
O motorista deu partida. Meu peito minguava enquanto meus olhos cresciam acompanhando seu rosto percorrer as janelas do ônibus e por fim, se pôr na janela mais oriental.
Nós já nos despedimos tantas vezes e ainda assim, a cada chacoalhar de mão por detrás do vidro, sentia o meu sangue coalhar e azedar o gosto da despedida.
Sentada com a mochila no colo e os fones no ouvido, ouvia uma de suas canções favoritas que se pergunta tanto e a todo tempo, que chega a perguntar até no nome "Por que te vas?". Eu sabia porque ia, só não entendia porque ia tanto. O azedume da despdedia não era meu sabor predileto, mas me alimentava, ainda que de uma forma estranha.
Lágrimas de cândida desbotavam os meus olhos. Descoloridos, se tornaram incapazes de reconhecer minha rua. A linha de chegada, a do Equador, a de partida, eu não enxergava. Eu não via mais os lenços brancos, nem a saudade atrás da foto três por quatro. O negrito doído da palavra despedida, a cândida havia apagado.

4 comentários:

Adriana Riess Karnal disse...

o texto da despedida,a imagem doída...captaste muito bem 0 momento.

~PakKaramu~ disse...

Visiting you

Fernanda Rodrigues disse...

"olhos dados"
Karla, vc coloca expressões que acabam virando parte de seus leitores.

parabéns, bjs!

Paulo D'Auria disse...

Lindo, lindo... ai...