em branco

sorte do dia



Não prestei atenção mas, na certa, levantei com o pé esquerdo.
De domingo bem cedo, sair da cama é complicado.
Não que ainda estivesse com sono. O fato é que a única coisa interessante daquele dia seria o jogo do Palmeiras (lá pelas quatro).
Até lá, todo mundo enrolaria, apostaria a sorte e tomaria umas.
Banho e café preto (de gole rápido pra não ver a cor do adversário).
Café com leite não daria, era praga daquele dia.
Já sei! Pra dar sorte usaria a camisa do coração, meio por baixo, tá certo - porque o patrocinador já não era mais aquele.
E o dia foi se arrastando e eu me arrastando nele. Para o almoço chegou a família, com manjar de sobremesa.
A feijoada esquentada do sábado arrancou risadas do cunhado alvinegro, talvez pela cor, talvez pelo focinho.
O árbitro corrupto do ano passado trouxe o tapetão à tona. Toalha manchada, Mancha a postos, os Gaviões fiéis cantando e vibrando enquanto os palmeirenses rogavam pela salvação do time.
Hora do jogo, uma surpresa: o segundo uniforme dava o ar da graça e isso não era bom sinal.
Sinal da cruz, aperto de mãos. Moeda da sorte a favor do adversário.
Na primeira falta o atacante sai de maca e a torcida, com a macaca, soltando fumaça.
Aquele uniforme dava azar, eu sabia! Alguns ataques, muitas faltas, ene escanteios e nada.
A culpa é do narrador, parece estar morrendo! Trocar de canal seria ideal.
Agora sim! Agora vai! Aqui o gramado é mais verde e o narrador menos gambá.
Dois minutos depois o atacante adversário desce com tudo e bate pra dentro, encaçapando bola, goleiro e zagueiro. Ah não... parece praga!
Que nervoso! Vermelha de desgosto, levanto pra lavar o rosto e acalmar o ânimo. Ainda dá!
Mal levanto da cadeira dou as costas e meu time, raçudo, nem deixa o outro comemorar o gol que acabara de marcar. Tome outro goela abaixo pra ver se aprende com quem está lidando!
Olha lá, eu sabia! Era eu que estava dando azar! Foi só me levantar que o time marcou!
E assim, de longe, escutei a virada da vitória. E enquanto fazia pipocas comemorei o esperado título, que só fui assistir na reprise do jornal das dez.

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