em branco

a menor feira do mundo


Era uma vez o poeta menino (ah, so far, far away).

Na vila onde o menino morava, as famílias só tinham duas opções para suas compras:
1) A venda do Guerino (onde, independente de nossas mães fazerem contas - as famosas “cadernetas”, nós, os meninos, roubávamos paçoquinhas)
2) A feira da Rua Arcádia, uma feira como outra qualquer, com verduras, frutas, doces, roupas, peixes etc. (Acreditem: naquele tempo ainda não havia pastel nas feiras. Para se comer um pastel, ia-se à pastelaria. A mais perto da minha vila ficava na Lapa.)

Pois qual não foi a surpresa do velho poeta ao passar pelas ruas de sua infância e descobrir que esta feira como outra qualquer tinha entrado para o Lilipute Book of the Record’s!

Explico: com o passar dos anos, nas proximidades desta vila à beira da Marginal Tietê, vários hipermercados se instalaram, e as donas de casa trocaram o velho hábito de pechinchar na feira pelos preços sem concorrência das grandes redes.

E assim esta feira se transformou na Menor Feira do Mundo. Um caminhão apenas, uma barraca. E, creio, os mesmos velhos e habituais clientes de anos atrás.

Gente simples, que ainda acredita em mocinho e bandido, que prefere gastar seus reais nesta barraca a dar dinheiro para as grandes corporações, gente que se recusa a acreditar que o tempo passou. - Não. O que estou dizendo? Gente assim não existe mais! Este é o menino dentro do poeta!

Esta gente que vem à feira é gente muito mais inverossímil que este menino que ainda acredita que vai mudar o mundo, é gente que vem à feira apenas para comprar legumes...

...e nem liga para o fato de esta continuar sendo até hoje a única feira de São Paulo onde não há pastel de feira!

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