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Mulher do homem da cobra

(por Karla Jacobina)

Há pessoas que vêm ao mundo para ouvir, outras, porém, têm uma malagueta no lugar da língua. Eu vim ao mundo com o agridoce ofício de falar. As palavras são diamantes que cravejam minha boca e como toda jóia rara, é cara demais para aqueles que não sabem se desperdiçar.
Ouvir é boa maneira de gente grande, adestrado, que abaixa a orelha enquanto o outro relincha. Falar é coisa pra cotovelo, pra articulados. Eu falo pelos gagos, pelos mudos, pelos cansados e pelas paredes que só têm ouvidos.
Ofereço minha língua à guilhotina cada vez que falo o que sinto. Sim é liquidação, o que sinto e respondo à vida não tem preço nem possibilidade de negação.
Eu prefiro que as mãos do medo rompam minhas cordas vocais, mas nem por uma vez mais, lustrarei minha boca suja com balas de gengibre.
Se maturidade é isso, um trapo que nos amordaça diante do espontâneo, serei eternamente criança e encherei o ouvido do mundo de lágrimas se um dia tentarem calar meu choro.
Há pessoas que vêm ao mundo para ouvir, outras para falar e há aquelas que eu ainda não entendi pra que.

2 comentários:

Anônimo disse...

Curti muito seu texto
adorei o blog (y)
Beijão!

Fernanda Rodrigues disse...

... Se a maturidade é uma mordaça... :) Karla, Karla, suas frases realmente são marcantes, parabéns!