1.
MASP, Paulista, Consolação, Ipiranga, São João, Minhocão, Memorial da América Latina, Av. Rudge, Rio Branco, Lgo. do Paissandu, Teatro Municipal, Viaduto do Chá, Brigadeiro, Paulista, Prédio da Gazeta.
Ton-Ton, o motoboy, percorria estes endereços diariamente, mas passava tão depressa no corredor entre os carros, buzinando e se equilibrando, que não se dava conta.
Na expectativa da largada, - a multidão, o número colado no peito, 27.335, o tênis velho machucando o pé, - é que não ia mesmo perceber.
Na Paulista um acotovelamento.
Descendo a Consolação, todo santo empurrando.
Passou pela famosa Ipiranga com São João e assobiou uma melodia que sequer conhecia.
No Minhocão, as pessoas nas janelas acenando, começou a notar.
O Memorial da América Latina era um deslumbramento.
A Av. Rudge, solidão.
Foi na Rio Branco que viu com clareza.
Parou de correr, caminhava.
“O que me importa? Devo estar em milésimo lugar!”
Olhou, olhou bem, caminhava cada vez mais devagar.
Sorriu de satisfação.
Sim, era São Paulo!
2.
Cruzou descalço a linha de chegada. Não era o último.
Ganhou um beijo da namorada que chegou para o final.
- Tá linda de branco! Quem ganhou? Brasileiro?
- Um negão. Queniano, parece. E o tênis?
- Esfolou meu pé.
- Jogou fora? E vamos assistir ao show da virada assim? Eu de vestido novo, você descalço?
- Dá sorte... Tomara que chova, preciso de um banho.
- Vadeílton...
- Vamos procurar um dog? Eu comeria um boi agora!
Voltavam para casa e a chuva caiu diante de seus olhos, estirada no meio da madrugada.
Bêbado, ele a pediu em casamento.Bêbada, ela riu, “Ton-ton... Você!”
Naquela noite não havia corredor, não precisava se equilibrar.
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