em branco

compleximplicidade



Queria pegar esse chuazinho de chuva e te pôr para dormir, mas você, com esses olhos dissimulados que nunca dormem a me perseguir.

Queria matar tua sede com essa água mansa que recolhe das calhas de todas as casas, da sarjeta de todas as ruas, mas para você nem toda a cachaça nem todo gozo, suficientes.

Queria conversar, mas você grita.
Queria lhe entender, mas você fala línguas tão mansas e ancestrais que apenas os sabiás.

Queria te amar, mas você ora puta ora cafetão, diz sim agora e nega depois, dizendo que eu não teria como lhe pagar.

Sei que sou eu quem erra, que me perco por caminhos que se cruzam desde 1554.
Sei que sou eu quem erra, que não lhe reconheço, como se o fundo do abismo, de tão próximo, me parecesse um sorriso amigo.

Sei que sou quem, cego, não alcanço tua complexidade tão simples que cabe inteira numa esquina, Ipiranga com São João.

Nenhum comentário: